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29/10/2002 - 07h26

"PT não recebeu cheque em branco", diz Aécio

KENNEDY ALENCAR
da Folha de S.Paulo

Governador eleito de Minas e presidente da Câmara, o tucano Aécio Neves diz que "o PT não recebeu um cheque em branco" e impõe condições para o PSDB dar apoio pontual no Congresso a Luiz Inácio Lula da Silva.

Segundo Aécio, que encontrará Lula hoje em Brasília às 14h, o presidente eleito deve ignorar o "patrulhamento das alas radicais do PT e o assédio de setores arcaicos à esquerda e à direita".

O tucano mineiro, que sai das eleições como um dos políticos mais influentes do PSDB e cotado para disputar a Presidência em 2006, diz que o seu o partido deve "unificar o discurso e fazer uma oposição responsável, sem participação no governo". Ontem, Aécio conversou com os outros seis governadores eleitos do PSDB e marcou uma reunião para os próximos dias, provavelmente na semana que vem, em Brasília. Num recado aos tucanos ligados a Serra que defendem oposição mais dura a Lula, diz que não permitirá um "terceiro turno" das eleições e que "o PSDB será um só".

Defensor de uma agenda a ser "elaborada imediatamente" pelo presidente e os governadores eleitos, Aécio também se diz disposto a colocar em pauta projetos de interesse do governo petista. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Folha - A ala do PSDB mais identificada com José Serra, o candidato do seu partido que foi derrotado, defende uma oposição dura a Lula. O sr. fala em oposição responsável. Qual deve ser o caminho do PSDB?
Aécio
- Conversei hoje [ontem] com os outros seis governadores eleitos pelo PSDB. Nos reuniremos em breve para unificar o discurso do partido. O PSDB será um só. As urnas nos colocaram na oposição no plano federal. Como temos responsabilidade com o país, não podemos fazer ao PT o mesmo tipo de oposição equivocada que o PT fez ao PSDB, aquela que via vícios de origem em todas as nossas propostas. Devemos apoiar as propostas boas, sem participar do governo. Isso, porém, dependerá dos sinais que o PT e o Lula derem ao PSDB e à sociedade. O PT não recebeu um cheque em branco. É só ver a quantidade de governadores eleitos pelo PSDB [7] e o PMDB [5], partidos que apoiaram Serra.

Folha - Quais devem ser esses sinais?
Aécio
- Ou Lula entende a dimensão da confiança que recebeu do país e constrói um governo acima do patrulhamento das alas radicais do PT e do assédio de setores arcaicos à esquerda e à direita, ou se submete a eles e comete um erro, começando mal. Se optar pelo primeiro caminho, me disporei a tentar garantir sua governabilidade.

Folha - Como o sr. ajudaria Lula?
Aécio
- Ajudando-o a articular uma união nacional, com participação dos governadores eleitos, para fazer uma agenda mínima consensual para ser votada logo. A agenda teria três pontos: 1) aprovar uma reforma tributária no prazo de seis meses; 2) o presidente e os governadores devem ter projetos conjuntos e emergenciais de geração de emprego com estímulo creditício a alguns setores; e 3) aprovar no Congresso em 2003 três tópicos da reforma política, financiamento público de campanha, fidelidade partidária e voto distrital misto.

Folha - O candidato do seu partido, José Serra, perdeu a eleição com um discurso duro, dizendo que Lula pode levar o Brasil à "ruína" e se transformar num "estelionato eleitoral". Como levar o PSDB a dar a tal governabilidade a Lula?
Aécio
- Vou trabalhar com vigor para não haver um terceiro turno das eleições. A crise econômica é muito grave, o que exigirá união da classe política. Do contrário, toda a sociedade pagará.

Folha - Sua posição, de apoio pontual sem participação no governo, não é de ajudar sem se contagiar com um eventual fracasso? Isso faz parte do projeto para disputar a Presidência em 2006?
Aécio
- Nunca briguei para ser candidato a governador de Minas nem brigarei para ser candidato a presidente. Não tenho obsessão na política. O eventual fracasso de Lula será o fracasso do Brasil. O PT ganhou a eleição. Deve ter o direito de governar. Não participar do governo é uma forma de não amesquinhar a política.

Folha - Por que Serra perdeu?
Aécio
- Esta nunca foi uma eleição fácil para nós. A história reconhecerá com mais isenção os méritos do governo Fernando Henrique Cardoso. O difícil momento internacional, agravando nossas dificuldades econômicas, foi o maior responsável por esse desejo de mudança no plano federal. O Serra honrou o PSDB. Teve um comportamento digno.

Folha - Lula já disse que gostaria de se encontrar com o sr. assim que acabasse a eleição. O encontro está marcado?
Aécio
- O Lula deve me visitar hoje às 14h. É uma atitude de apreço à Câmara.

Folha - O PT está preocupado em não perder receitas em 2003. Quer votar a manutenção da alíquota do Imposto de Renda Pessoa Física de 27,5%. O sr. fará a pauta da Câmara junto com o PT?
Aécio
- Nas próximas três semanas, devemos limpar a pauta da Câmara. Nas quatro semanas posteriores, ouvirei o presidente eleito para formular a pauta e votar as matérias de interesse dele. Se ele quiser votar o projeto dos 27,5%, estarei disposto a ajudá-lo.

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