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30/10/2002 - 07h04

Lula pede a FHC o apoio pontual do PSDB

KENNEDY ALENCAR
da Folha de S.Paulo

No encontro reservado de 55 minutos com Fernando Henrique Cardoso, o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), disse que não fará um governo de revanche, afirmou julgar natural que os tucanos optem pela oposição, mas pediu ajuda do atual presidente para convencer o PSDB a apoiá-lo pontualmente no Congresso. FHC se dispôs a fazê-lo, segundo a Folha apurou.

Na conversa, Lula disse ainda que considera justo o pedido de FHC para aprovar no Congresso o foro privilegiado para ex-autoridades, o que permitiria a FHC continuar a responder a processos nas instâncias judiciais superiores quando deixar o cargo.

Em nenhum momento da conversa, Lula e FHC condicionaram o foro privilegiado a um eventual apoio pontual do PSDB ao PT. O foro privilegiado, criticado no passado pelo PT, também interessa a Lula e a autoridades petistas, pois os protegerá no futuro.

Lula agradeceu e elogiou o comportamento de FHC na eleição, bem como seu formato de transição. Ele disse que a transição, que começou ontem com o primeiro encontro pós-eleitoral entre os dois, é a mais democrática já feita no Brasil e que reflete o amadurecimento institucional do país, servindo de exemplo para toda a América Latina.

Quando pediu o apoio pontual do PSDB ao seu governo, Lula disse a FHC que pretende fazer cinco reformas. Dessas, quatro teriam de ser aprovadas no Congresso: a tributária, a primeira da lista, a previdenciária, a trabalhista e a política. A reforma agrária é a quinta e não depende de mudança constitucional.

Para aprovar reformas na Constituição, é preciso o apoio de três quintos da Câmara e do Senado, em dois turnos de votação.

Lula disse a FHC que quer conversar com José Serra (PSDB), candidato a presidente derrotado, para falar de suas reformas. Os tucanos mais ligados a Serra pregam oposição dura à Lula.

O petista tentará aparar arestas com Serra e tucanos mais radicais. Lula já conta com a ajuda do presidente da Câmara e governador eleito de Minas, Aécio Neves, a quem visitou ontem, para colocar o PSDB numa oposição "light".

Esse tipo de oposição é considerado pela cúpula petista a mais conveniente para Lula. O presidente eleito sabe que as feridas eleitorais e as divergências estaduais entre PT e PSDB impedem aliança para formar o governo.

Nesse contexto, a Folha apurou que Lula julga útil que o PSDB lidere a oposição. O raciocínio da cúpula petista é o seguinte: o PSDB impediria uma eventual tentativa de Anthony Garotinho (PSB) e de Ciro Gomes (PPS) de liderar a oposição pela esquerda. Isso ajudaria o PT consolidar de vez o prometido apoio do PSB e do PPS, mantendo a hegemonia petista na esquerda.

Ao mesmo tempo, por ser o PSDB um partido com idéias mais próximas do PT, uma oposição liderada pelos tucanos tiraria gás de legendas conservadoras, como PFL e PPB. Isso permitiria negociação pontual com setores pefelistas e pepebistas.

O petista também disse a FHC que, apesar das divergências nos últimos oito anos, sempre teve apreço pelo tucano. FHC disse ter o mesmo sentimento em relação a Lula. O petista afirmou que FHC ajudou a melhorar a imagem do Brasil no exterior. Ficou implícito que Lula espera contar com uma espécie de aval de FHC na comunidade internacional.

Os dois combinaram de voltar a conversar pessoalmente, sem data definida, e de terem mais liberdade para telefonar um ao outro quando desejarem.

A um interlocutor, FHC relatou que Lula disse estar um pouco cansado da maratona eleitoral e que iria descansar uns dias.

Veja também o especial Governo Lula
 

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