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30/10/2002 - 07h38

Para especialista, fome está no fim

JOÃO BATISTA NATALI
da Folha de S.Paulo

Massa corporal insuficiente é uma magreza excessiva e um dos indícios da fome. Pois 9,5% dos brasileiros adultos apresentavam em 1975 essa característica. Em 1997, quando do último levantamento, eles já eram só 4%.

Entre as crianças, nesse mesmo período, a baixa estatura, que é um sintoma de desnutrição, caiu de 32,9% para 10,4%.

"A fome e a desnutrição são hoje no Brasil bem menores que há dez anos e imensamente menores que há 20 ou 30 anos", diz o especialista Carlos Augusto Monteiro, diretor do Nupens (Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde), da Faculdade de Saúde Pública da USP.

Ele considera exageradas as estimativas pelas quais 20 milhões ou 30 milhões de brasileiros não tenham hoje o que comer. "Esses números talvez até reflitam a parcela da população com falta de renda, mas não a população com falta de alimentos", diz ele.

Insuficiência alimentar
Segundo Monteiro, há algumas regras básicas para compreender o assunto. "Os economistas estudam a pobreza. Fixam com frequência limites _US$ 1/dia, por exemplo_ abaixo dos quais uma pessoa corre o risco de passar fome. Mas esses limites se referem apenas à renda. Discute-se miséria, pobreza, mas não insuficiência alimentar, que é algo diferente", diz o professor da USP.

A fome existe sempre de forma paralela à miséria. Mas nem sempre a miséria se traduz pela ocorrência da fome. Há o alimento da roça familiar, há programas públicos como a merenda escolar, e ainda redes privadas de filantropia. Famílias com uma renda extremamente baixa numa região urbana mais rica raramente sofre de desnutrição.

Mas essa mesma família, numa região rural muito pobre, está mais ameaçada pela possibilidade de não ter o que comer. Um município pobre não tem como custear programas assistenciais, não consegue construir e manter uma rede que impeça que a família pobre caia na desnutrição.

No Nordeste rural, o Brasil mais pobre, por exemplo, 5% dos adultos são excessivamente magros. Eles têm, segundo padrão de mensuração internacional, uma massa corporal inferior a 18,5 kg por metro quadrado [o peso dividido pela altura ao quadrado].

Mas no Sudeste urbano, o Brasil mais rico, esses indivíduos chegam a apenas 3,5%. Isso não quer dizer que 3,5% dessas pessoas passem fome. Pode ser até que isso ocorra com algumas delas. Mas essa porcentagem está ao mesmo tempo muito próxima daquela de pessoas excessivamente magras que se encontram em países desenvolvidos, como na Alemanha e nos Estados Unidos.

Em termos comparativos, no Sul da Ásia, em países como a Índia, o Paquistão e o Bangladesh, onde a fome é um fenômeno histórico, indivíduos com índice de massa corporal insuficiente chegam a representar 40% ou 50% da população.

"É uma população segregada, que come pouco, bem menos que o necessário. Os pais e os avós já passavam fome, e os filhos provavelmente também passarão, mulheres muito magras com crianças nascendo com pouco peso, algo como um quilo e meio", diz Carlos Augusto Monteiro.

Na África, países como o Mali e a Namíbia, onde a fome é um problema sazonal, são afetadas em torno de 20% dos adultos.

O problema da fome é menos grave que no Sul da Ásia. Nesses países, a fome desaparece quando há chuvas ou uma boa colheita. Mas reaparece em circunstâncias de natureza adversa.

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