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17/11/2002
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07h45
Dos 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas existentes no país, apenas 18 forneceram ao Departamento de Saúde Indígena da Funasa dados sobre desnutrição. São 5.012 crianças (até 6 anos e 11 meses) abaixo do peso. Em 2001, eram 6.822, mas a estatística foi feita com dados de 27 distritos.
O cálculo da taxa de desnutrição foi feito com base nas crianças da mesma faixa etária atendidas pela Pastoral da Criança: 3.669, que representam 10% do total de índios dessa idade. A população total é de 36.669 crianças. Oculta pelos números e taxas está a fome das crianças índias.
Quinta-feira, 11h30. A menina Fabiana Claudino, 1 ano e 11 meses, havia tomado um copo de leite e comido um pedaço de pão puro. Ela pesa oito quilos, mas deveria pesar, no mínimo, dez, de acordo com os parâmetros do Ministério da Saúde.
A mãe, Jaqueline, 19, informa que cozinhará arroz para o almoço, mas ainda vai aguardar o marido chegar. "Pode ser que ele traga mais alguma comida", diz ela em caingangue.
A agente indígena de saúde, Petralina Leopoldino, que traduziu a conversa, explica que Fabiana pesava seis quilos há até poucos meses. Começou a receber alimentos de uma ONG e engordou.
A vizinha Tereza Leopoldina, 72, sustenta 20 netos e compra comida para eles com R$ 100 da aposentadoria. Paga R$ 10 por cinco quilos de farinha de trigo.
É que os preços dos mercados das aldeias são "muito caro", explica ela. O restante do dinheiro ela investe em insumos para a lavoura da família.
Neri Kame Si Ribeiro, chefe da Fundação Nacional do Índio da região, explica que, por causa da estiagem deste ano, as famílias perderam toda a safra de feijão, arroz e milho.
Recebeu R$ 30 mil da sede da Funai, em Brasília, para distribuir entre todas as famílias da região para "compensar" as perdas devido à estiagem.
Ribeiro, que é caingangue, defende a criação de linhas de crédito para índios para promover a autonomia dessa população.
Uma das lideranças indígenas de Guarita, Cláudio Mineiro, conta que reuniu um grupo de índios para pedir crédito agrícola na agência do Banco do Brasil de Passo Fundo. Não conseguiram o dinheiro por falta de fiador.
Outra causa da desnutrição indígena é a falta de educação alimentar dos índios, diz Gilson Urnau, da Funasa de Passo Fundo. Ao entrar em contato com os não-índios, essa população passou a comer "salgadinhos" industrializados sem se dar conta de que esses alimentos não têm valor nutricional algum.
Só metade dos distritos têm dados sobre desnutrição no Brasil
da Folha de S.PauloDos 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas existentes no país, apenas 18 forneceram ao Departamento de Saúde Indígena da Funasa dados sobre desnutrição. São 5.012 crianças (até 6 anos e 11 meses) abaixo do peso. Em 2001, eram 6.822, mas a estatística foi feita com dados de 27 distritos.
O cálculo da taxa de desnutrição foi feito com base nas crianças da mesma faixa etária atendidas pela Pastoral da Criança: 3.669, que representam 10% do total de índios dessa idade. A população total é de 36.669 crianças. Oculta pelos números e taxas está a fome das crianças índias.
Quinta-feira, 11h30. A menina Fabiana Claudino, 1 ano e 11 meses, havia tomado um copo de leite e comido um pedaço de pão puro. Ela pesa oito quilos, mas deveria pesar, no mínimo, dez, de acordo com os parâmetros do Ministério da Saúde.
A mãe, Jaqueline, 19, informa que cozinhará arroz para o almoço, mas ainda vai aguardar o marido chegar. "Pode ser que ele traga mais alguma comida", diz ela em caingangue.
A agente indígena de saúde, Petralina Leopoldino, que traduziu a conversa, explica que Fabiana pesava seis quilos há até poucos meses. Começou a receber alimentos de uma ONG e engordou.
A vizinha Tereza Leopoldina, 72, sustenta 20 netos e compra comida para eles com R$ 100 da aposentadoria. Paga R$ 10 por cinco quilos de farinha de trigo.
É que os preços dos mercados das aldeias são "muito caro", explica ela. O restante do dinheiro ela investe em insumos para a lavoura da família.
Neri Kame Si Ribeiro, chefe da Fundação Nacional do Índio da região, explica que, por causa da estiagem deste ano, as famílias perderam toda a safra de feijão, arroz e milho.
Recebeu R$ 30 mil da sede da Funai, em Brasília, para distribuir entre todas as famílias da região para "compensar" as perdas devido à estiagem.
Ribeiro, que é caingangue, defende a criação de linhas de crédito para índios para promover a autonomia dessa população.
Uma das lideranças indígenas de Guarita, Cláudio Mineiro, conta que reuniu um grupo de índios para pedir crédito agrícola na agência do Banco do Brasil de Passo Fundo. Não conseguiram o dinheiro por falta de fiador.
Outra causa da desnutrição indígena é a falta de educação alimentar dos índios, diz Gilson Urnau, da Funasa de Passo Fundo. Ao entrar em contato com os não-índios, essa população passou a comer "salgadinhos" industrializados sem se dar conta de que esses alimentos não têm valor nutricional algum.
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