Publicidade
Publicidade
02/12/2002
-
06h19
"Você pode até pensar, mas não pode agir". A frase teria sido dita pelo coronel Carlos Alberto Brilhante Ulstra, em 1972, e não sai da cabeça da ex-guerrilheira e hoje autônoma em informática Maria Aparecida dos Santos, 55.
Integrante da ALN, de Carlos Marighella (1911-1969) _considerado muitas vezes o "inimigo número 1" do regime militar_, Maria Aparecida começou na organização em Ribeirão Preto (SP).
Ulstra foi o pivô de uma breve crise entre o Exército e o então presidente José Sarney, em 1985. Segundo Thomas Skidmore, no livro "Brasil: de Castelo a Tancredo", a deputada Bete Mendes reconheceu em Ulstra, à época adido militar no Uruguai, o homem que a torturou em 1970. Indignada, pediu a Sarney que o removesse do cargo. O general Leônidas Pires Gonçalves, ministro do Exército à época, não só o manteve no posto como também avisou que não demitiria nenhum outro militar acusado de tortura.
Folha - Quando você foi presa?
Maria Aparecida dos Santos - Eu era estudante secundária em Ribeirão e já atuava na ALN. Quando soube das prisões aqui, fui para São Paulo. Acabei presa em 29 de setembro de 1969, aos 22 anos.
Folha - O que significa a indenização para você?
Maria Aparecida - Tem importância política. No primeiro artigo dessa lei, o Estado assume legal, pública e moralmente o papel de terrorista. Na época, uma única desconfiança sobre um cidadão era motivo para prendê-lo e torturá-lo. Esse foi o crime que o Estado cometeu.
Folha - O que você sofreu?
Maria Aparecida - Esse Estado desrespeitava todos os tipos de liberdades e os direitos humanos. Cinicamente, o pessoal da Oban [Operação Bandeirantes, braço com presença civil da repressão] nos dizia: "vocês podem pensar, mas não podem agir". É muito cruel. Quando fui solta, em 1972, o Ulstra me disse: "você será certamente procurada por seus colegas [da ALN]. Não caia na deles, você não terá segunda chance." Aí repetiu: "Você pode até pensar, mas não pode agir." Jamais esqueci.
"Você pode pensar, mas não pode agir"
da Folha de S.Paulo, em Ribeirão"Você pode até pensar, mas não pode agir". A frase teria sido dita pelo coronel Carlos Alberto Brilhante Ulstra, em 1972, e não sai da cabeça da ex-guerrilheira e hoje autônoma em informática Maria Aparecida dos Santos, 55.
Integrante da ALN, de Carlos Marighella (1911-1969) _considerado muitas vezes o "inimigo número 1" do regime militar_, Maria Aparecida começou na organização em Ribeirão Preto (SP).
Ulstra foi o pivô de uma breve crise entre o Exército e o então presidente José Sarney, em 1985. Segundo Thomas Skidmore, no livro "Brasil: de Castelo a Tancredo", a deputada Bete Mendes reconheceu em Ulstra, à época adido militar no Uruguai, o homem que a torturou em 1970. Indignada, pediu a Sarney que o removesse do cargo. O general Leônidas Pires Gonçalves, ministro do Exército à época, não só o manteve no posto como também avisou que não demitiria nenhum outro militar acusado de tortura.
Folha - Quando você foi presa?
Maria Aparecida dos Santos - Eu era estudante secundária em Ribeirão e já atuava na ALN. Quando soube das prisões aqui, fui para São Paulo. Acabei presa em 29 de setembro de 1969, aos 22 anos.
Folha - O que significa a indenização para você?
Maria Aparecida - Tem importância política. No primeiro artigo dessa lei, o Estado assume legal, pública e moralmente o papel de terrorista. Na época, uma única desconfiança sobre um cidadão era motivo para prendê-lo e torturá-lo. Esse foi o crime que o Estado cometeu.
Folha - O que você sofreu?
Maria Aparecida - Esse Estado desrespeitava todos os tipos de liberdades e os direitos humanos. Cinicamente, o pessoal da Oban [Operação Bandeirantes, braço com presença civil da repressão] nos dizia: "vocês podem pensar, mas não podem agir". É muito cruel. Quando fui solta, em 1972, o Ulstra me disse: "você será certamente procurada por seus colegas [da ALN]. Não caia na deles, você não terá segunda chance." Aí repetiu: "Você pode até pensar, mas não pode agir." Jamais esqueci.
Publicidade
As Últimas que Você não Leu
Publicidade
+ LidasÍndice
- Nomeação de novo juiz do Supremo pode ter impacto sobre a Lava Jato
- Indicação de Alexandre de Moraes vai aprofundar racha dentro do PSDB
- Base no Senado exalta currículo de Moraes e elogia indicação
- Na USP, Moraes perdeu concursos e foi acusado de defender tortura
- Escolha de Moraes só possui semelhança com a de Nelson Jobim em 1997
+ Comentadas
- Manifestantes tentam impedir fala de Moro em palestra em Nova York
- Temer decide indicar Alexandre de Moraes para vaga de Teori no STF
+ EnviadasÍndice