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12/12/2002 - 16h07

Veja o perfil do sertanista Orlando Villas Bôas

da Folha Online

O sertanista e indigianista Orlando Villas Bôas nasceu no dia 12 de janeiro de 1914, em Santa Cruz do Rio Pardo, interior de São Paulo. A expedição Roncador-Xingu (1943-1960) foi o marco de transformação da vida do sertanista e de seus irmãos Claudio (morto em 1998) e Leonardo (morto em 1961).

A participação na expedição transformou os irmãos Villas Bôas em profundos conhecedores do Brasil.

Com a criação, em 1943, pelo governo federal, da expedição Roncador-Xingu, com o objetivo principal de desbravar áreas até então desconhecidas do Centro-Oeste e da Amazônia, os irmãos decidiram inscrever-se para dela participar. Quando procuraram a Fundação Brasil Central, encarregada de organizar os trabalhos da expedição, foram recusados, pois apenas eram aceitos sertanejos, considerados mais resistentes do que a gente da cidade.

Os três não desistiram e foram diretamente para Barra do Garça (MT), onde estava sendo montada a base da expedição. Passaram por sertanejos e conseguiram o emprego: Cláudio e Leonardo na enxada e Orlando como ajudante de pedreiro.

Não demorou muito tempo para que o encarregado da expedição percebesse que os irmãos Villas Bôas eram alfabetizados e educados e Cláudio fosse nomeado chefe do pessoal, Leonardo chefe do almoxarifado e Orlando secretário da base.

Admirador dos ideais do marechal Cândido Rondon, que instituiu no país uma política de proteção ao índio e respeito às suas terras, tendo como lema "morrer se preciso for, matar, nunca", Orlando participou do primeiro contato com várias tribos. Durante a expedição foram contatados xavantes (1948), jurunas (1949), kayabis (1951), txucarramães (1953) e suyas (1959).

As estimativas do trabalho da expedição Roncador-Xingu são de que ela abriu mais de 1.500 km de picadas, explorou mais de 1.000 km de rios, localizou 6 rios desconhecidos, estabeleceu 6 marcos de coordenadas e assistiu 18 aldeias indígenas.

Sua experiência com os índios levou Orlando a propor a criação de um parque índigena, onde pudessem conviver várias tribos cuja sobrevivência estava ameaçada pela expulsão de suas terras. Em 1961, mesmo ano da morte de Leonardo, foi criado, pelo presidente Jânio Quadros, o Parque Nacional do Xingu, com 26 mil km2, do qual Orlando foi presidente no período de 1961 a 1967.

Sua ação junto aos índios continuou mesmo depois de estabelecido o parque e, em 1964, participou da expedição que primeiro contatou os índios txikãos e, em 1973, os kranakaores.

Em 1969, casou-se com Marina, enfermeira do Parque Nacional do Xingu, com quem teve dois filhos: Orlando Villas-Boas Filho, o Vilinha, e Noel.
O trabalho com as comunidades indígenas valeu a Orlando e seu irmão Cláudio duas indicações para o prêmio Nobel da Paz, em 1971 e 1975.

Em 1978, aposentou-se pela Funai (Fundação Nacional do Índio), mas continuou a defender a causa indígena prestando assessoria à entidade. Os mais de 40 anos passados nas selvas valeram a Orlando mais de duas centenas de malárias contraídas.

Orlando escreveu vários livros, entre eles: "Xingu, Território Tribal", com fotos de Maurren Bisilliat, de 1979; "Marcha para o Oeste", que ganhou o prêmio Jabuti de melhor livro-reportagem em 1995, e "Almanaque do Sertão", de 1997, no qual conta seus 45 anos de trabalho como sertanista, todos em parceria com Cláudio.

Em 1998, Orlando perdeu seu grande companheiro de jornada, com a morte de seu irmão Cláudio.

Prêmios
Entre os vários prêmios que Orlando recebeu ao longo da vida, destacam-se a medalha da Real Sociedade de Geografia, da Inglaterra, em 1967, atribuída, entre outros, a Livingstone, lorde Hunt e sir Edmund Hillary, pela conquista do Everest, e Jacques Cousteau. Em 1984, recebeu, ao lado de Cláudio, o prêmio Geo, concedido pela revista alemã de mesmo nome, das mãos do ex-chanceler e prêmio Nobel da Paz, Willy Brandt. Em 1990, ambos receberam a primeira edição do prêmio Estado de S. Paulo, com uma dotação de equivalente a US$ 100 mil.

O jornal inglês "The Sunday Times", em 1991, incluiu os irmãos Villas Bôas entre as mil pessoas que fizeram o século 20. Segundo o jornal "os índios ainda existem graças ao esforço dos Villas Bôas, como exploradores, cientistas, pensadores e políticos".

Em 1998, Orlando recebeu o título de "Cidadão Paulistano", da Câmara Municipal de São Paulo.

Alegando corte de gastos, em 2000, a Funai demitiu Orlando, via fax, das funções de consultor, tendo depois voltado atrás, após a repercussão negativa da forma como se realizara a demissão. Orlando, entretanto, não retornou a Funai e aceitou um convite da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) para prestar consultoria.

Neste mesmo ano, Orlando lançou "A Arte dos Pajés - Impressões sobre o Universo Espiritual do Índio Xinguano", inspirado no irmão Cláudio, no qual relata várias experiências sobrenaturais que presenciou.

Em outubro de 2001, Orlando Villas Bôas entrou na disputa pela cadeira número 21 da Academia Brasileira de Letras. Além dele, já estavam inscritos para a vaga o escritor Paulo Coelho e o sociólogo Hélio Jaguaribe, entre outros. Coelho foi eleito, em julho de 2002, com 58% da preferência dos acadêmicos: foram 22 votos entre os 38 possíveis.


  • Colaborou Banco de Dados da Folha de S.Paulo

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