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11/01/2003 - 06h43

Bispo d. Mauro vê disputa de poder no Fome Zero

FERNANDA DA ESCÓSSIA
da Folha de S.Paulo, no Rio

O bispo de Duque de Caxias (RJ), d. Mauro Morelli, disse que a religião está sendo usada como "desculpa esfarrapada" para encobrir uma disputa de poder em torno do Fome Zero, principal programa social do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

D. Mauro afirmou ter sabido de um veto a seu nome para o Consea (Conselho de Segurança Alimentar), instância consultiva do Fome Zero, mas diz que os evangélicos estão sendo injustamente responsabilizados por isso.

D. Mauro, 67, é um dos principais nomes da Igreja Católica na área de segurança alimentar. Participou da criação da Campanha contra a Fome e presidiu a primeira versão do Consea de 1993 a 1994, no governo Itamar Franco.

"Acho inadmissível que joguem sobre os evangélicos uma manipulação dessas. Os evangélicos têm todo o direito de pleitear os espaços deles. Estão usando o nome de Deus em vão, colocando o meu [nome] e o dos evangélicos no meio de uma confusão que é uma disputa de poder", declarou d. Mauro, que afirmou ter ótima relação com os evangélicos.

D. Mauro disse ter certeza de que o veto não partiu de Lula. "Estou cansado de ver intermediários dando recados em nome do Lula. Está acontecendo. Tem gente tomando decisões e agindo na base do leva-e-traz." No domingo, d. Mauro recebeu, de integrantes do Fórum Brasileiro de Segurança Alimentar e Nutricional, de cuja coordenação faz parte, a notícia de que, em Brasília, havia um veto a seu nome. O fórum deveria indicar outro representante.

Ontem, José Graziano, secretário da Segurança Alimentar, ligou, segundo d. Mauro, dando outra versão: "Ele está negando, disse que não houve veto nem recado. Não vou discutir mais, é um disse-que-disse. Quando eu apertei, ele começou a colocar de novo a questão dos evangélicos no meio. É uma desculpa esfarrapada. O que está havendo, na minha opinião, é jogo de poder", disse.

Questionado se ainda integrará o Consea, d. Mauro disse que não está pleiteando espaço.

Evangélicos
Líderes evangélicos ouvidos pela Folha, por sua vez, cobraram mais espaço no governo e no Fome Zero. Antes mesmo de ser implantado, o programa gera insatisfação entre católicos e evangélicos. Os evangélicos, inclusive petistas, dizem que não foram chamados por Lula e ainda esperam a prometida reunião com ele.

Para o deputado federal Walter Pinheiro (PT-BA), batista, não é tarefa das igrejas cobrar cargos, mas é preciso iniciar parcerias: "Senão fica só aquele negócio, a gente só chama o setor [evangélico] em época de campanha. Precisamos definir isso para acalmar a chiadeira", afirma Pinheiro.

O senador eleito Magno Malta (PL-ES), batista, diz que a participação já poderia ter começado na posse: "Por que não um palco gospel? Viajamos o país inteiro para dessatanizar Lula, agora nos sentimos um pouco excluídos".

O deputado federal Bispo Rodrigues (PL-RJ), da Igreja Universal do Reino de Deus, diz que nenhum evangélico foi chamado. Para ele, as ministras do Meio Ambiente, Marina da Silva, e da Assistência e Promoção Social, Benedita da Silva, não foram indicadas por serem evangélicas.

O coordenador de mobilização social do Fome Zero, Frei Betto, disse que todas as denominações religiosas serão chamadas a participar, e não só os católicos e evangélicos: "Budistas, espíritas, afro-brasileiros, muçulmanos e judeus, todos serão chamados".

Leia mais:
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