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28/01/2003 - 10h45

Análise: Lula está mais próximo de Davos do que de Porto Alegre

PLÍNIO FRAGA
da Folha de S.Paulo

Os apoiadores do Fórum Social Mundial fizeram o protesto errado. Em vez de pedir que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus ministros não fossem ao encontro de governantes e lideranças em Davos, deveriam clamar para que não tivessem comparecido a Porto Alegre. Lula e seus ministros ofuscaram e limitaram os debates do Fórum Social.

Pela ligação orgânica entre o atual governo e os organizadores do FSM, a idéia parece quase estúpida. Lula levou ao Planalto, como assessores, membros da cúpula do fórum. Não convidar Lula seria impedir a comemoração tardia da vitória eleitoral junto a uma militância que lhe é próxima e o idolatra. Mas, a longo prazo, a presença do governo Lula no fórum pode marcar o início da perda de viço de um evento que obteve seu espaço na agenda pública.

Exemplifica-se. O ministro da Casa Civil, José Dirceu, teve de ouvir os fortes aplausos da audiência do FSM à proposta de suspensão do pagamento da dívida externa. Se permanecesse em silêncio, seu gesto poderia ser interpretado como uma anuência discreta, um imbróglio em uma economia fragilizada como a brasileira. Teve de se manifestar contra, tentando explicar as dificuldades que a suspensão traria para o país.

A explicação para o comportamento de Dirceu pode estar numa das declarações do linguista Noam Chomsky no fórum. "Os governos hoje estão subordinados ao parlamento virtual dos mercados investidores", disse.

Passaram por Porto Alegre milhares de grupos organizados e de fora do governo. Havia os que defendiam armas para o povo palestino, os que alardeiam supostos efeitos colaterais na saúde do uso do telefone celular, os que são contra a privatização do sistema de águas de Cochabamba, os que jogam tortas em políticos.

Independente da correção de suas bandeiras ou de seu comportamento, estarem todos reunidos em defesa de atos de solidariedade, na condenação ao militarismo, ou na articulação de uma rede o mais ampla possível de apoio à justiça social é uma vitória.

Não há razão para um governo estar ali. Em 2001 e 2002, Lula era um militante pedindo um mundo mais justo. Estava no lugar certo. Agora tem de trabalhar por ele. Venceu a eleição e foi galgado à condição de árbitro de perdas e ganhos entre os atores sociais. É isso que o põe tão longe de Porto Alegre e tão próximo a Davos.

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