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01/02/2003 - 06h15

Cidade-piloto não vê fome como prioridade

KAMILA FERNANDES
da Agência Folha, em Guaribas

Moradores e autoridades de Guaribas (PI) -cidade-piloto do programa Fome Zero- vêem a falta de água potável, saneamento básico e infra-estrutura na cidade como problemas mais graves para ser resolvidos do que a fome. Moradores dizem, inclusive, que ninguém morre de fome no local.

O Fome Zero, principal programa na área social do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, será lançado em Guaribas (530 km de Teresina) na segunda-feira, com a presença de autoridades dos governos federal e estadual.

"O maior presente que a cidade poderia receber era uma rede de água potável e de saneamento básico. Esse seria o verdadeiro Fome Zero em Guaribas", diz o secretário da Saúde do município, João Abimael Neto, um dos integrantes do Comitê de Segurança Alimentar de Guaribas, grupo que coordena o Fome Zero na cidade.

Segundo ele, o número de crianças atendidas no posto de saúde da cidade por causa de diarréia chega a 20 por dia, valor alto para uma cidade de 4.814 habitantes.

A desnutrição, de acordo com Abimael Neto, atinge 40% das crianças e a mortalidade infantil é de 60 por mil nascimentos, o dobro da taxa nacional.

Água

A função de pegar água para o consumo da casa é das mulheres. Luciene da Silva Nascimento, 20, vai cinco vezes por dia à fonte de água que fica no alto de uma serra, um percurso de cerca de 2 km de barro e pedras.

"Criancinha de três anos já começa a carregar um baldinho para ir aprendendo", diz Luciene, mãe de uma menina de 11 meses.

É na mesma fonte que mulheres e crianças aproveitam para lavar roupa e tomar banho. A primeira ida à fonte é ainda de madrugada, para ter água pela manhã. Na volta, elas descem o morro com o balde cheio de água na cabeça em passos rápidos, quase correndo, para não perder o equilíbrio.
Essa é a água consumida por toda a cidade. A cor é amarelada, mas, ao prová-la, não se percebe nenhum sabor estranho.

"Não temos pesquisas sobre a qualidade dessa água, mas com certeza ela tem alto índice de coliformes fecais e não deveria estar sendo consumida", afirma Lauro César de Abreu, enfermeiro do Programa Saúde da Família de Guaribas e um dos integrantes do Comitê de Segurança Alimentar.

Para amenizar os casos de diarréia, a prefeitura distribui vidros de hipocloreto de sódio. "Mas as pessoas não usam porque não sabem usar", diz Abreu.

O único médico da cidade -com salário de R$ 4.500 por mês pagos pela prefeitura- aparece três vezes por semana, às sextas, sábados e domingos. Ontem, ele telefonou para avisar que teve "problemas" e que não poderia ir.

O atendimento básico é feito pelo enfermeiro. Casos mais graves são levados a Caracol, município a 54 km de distância, percurso feito em três horas, apenas em camionetes, devido às péssimas condições da única estrada de terra que dá acesso a Guaribas. Exames mais sofisticados são possíveis apenas em Teresina.

Por causa da dificuldade no acesso à cidade, os produtos vendidos nas mercearias de Guaribas são muito caros. Uma lata de leite em pó (400 g), encontrada em capitais por cerca de R$ 4, é vendida por R$ 5,50. O mesmo acontece com os outros produtos, como arroz, óleo, sal, açúcar, macarrão, não produzidos na cidade.

Ainda assim, Wagnon Correia, dono de uma mercearia local, acha que haverá aumento nas vendas com o Fome Zero.
 

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