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05/03/2003 - 21h04

MST retoma invasões de prédios do Incra

HUDSON CORRÊA
ADRIANA CHAVES

da Agência Folha, em Campo Grande

O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) retomou as invasões a prédios do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária).

As ocupações ocorreram em Cuiabá (MT) e Goiânia (GO). Os sem-terra reclamam da demora na desapropriação de terras no governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

Durante a invasão em Mato Grosso, por volta das 22h de ontem, as vidraças das portas de entrada do prédio foram quebradas. A PM precisou ser chamada para conter um confronto entre militantes do MST e do grupo dissidente MTA (Movimento dos Trabalhadores Rurais Assentados e Acampados), que se manifestou contra a ocupação.

Em Goiânia, cerca de 300 mulheres integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra) invadiram hoje, por volta de 6h, a sede do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária).

O superintendente-adjunto do Incra em Mato Grosso, Juari Catarino Arantes, disse que 300 sem-terra estão no prédio. Segundo o MST, são 500 trabalhadores rurais. Do lado de fora, o grupo rival do MTA mantém 250 pessoas em barracas de lona.

Arantes afirmou que ainda não foi realizada inspeção no prédio para verificar os estragos. O pedido de reintegração de posse, segundo ele, deve dar entrada hoje na Justiça Federal. "O Incra mente demais e não encaminha nossos processos de desapropriação", disse o coordenador estadual do MST, Altamiro Stochero, 38.

Os líderes do MST esperavam para o dia 27 de fevereiro a resposta sobre as desapropriações de oito fazendas e dizem que o MTA é beneficiado por um esquema de "corretagem de terras".

"Existe um conluio de funcionários do Incra com corretores e fazendeiros para desapropriar áreas que não servem para a reforma agrária", afirmou Stochero.

Arantes disse que investiga se há o esquema relatado pelo MST. "Não posso provar nada. Estamos apurando a atuação de lobistas interessados na desapropriação", disse o superintendente-adjunto.

O coordenador estadual do MTA, José de Oliveira, 48, afirmou que a entidade criada há um ano e dois meses, a partir de dissidência com o MST, conseguiu em Brasília no mês passado a desapropriação de 21 mil hectares.

"Quando existe serviço de corretagem, a terra não é desapropriada, ocorre a aquisição (compra da fazenda)", afirma Oliveira que nega benefício num suposto esquema de corretores de fazenda.

Como Incra atendeu a reivindicação do MTA, o grupo que em fevereiro já havia invadido duas vezes o prédio era contra uma nova invasão. Em Mato Grosso, o MST lidera 2,5 mil famílias e a entidade rival, 3 mil.

As cerca de 300 mulheres integrantes do MST que invadiram a sede do Incra em Goiânia reivindicam maior agilidade no acompanhamento dos processos de desocupação de terras, paralisados desde a reformulação na estrutura do órgão, há 60 dias, e questionam a indicação do novo superintendente regional do Incra em Goiás.

O MST diverge de pontos no direcionamento da política agrária federal em Goiás e deve permanecer no prédio por tempo indeterminado.

O Grupo de Gerenciamento de Crise da Polícia Militar foi destacado para fazer o policiamento do local.

A nomeação do advogado Ailtamar Carlos da Silva, ligado à Fetaeg (Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Goiás), para a superintendência do órgão desagradou os sem-terra.

"Um dos critérios para a escolha [do superintendente] é o consenso dos movimentos sociais. O Partido dos Trabalhadores do Estado de Goiás indicou um nome [Silva] e não chamou o MST para conversar", disse Elizângela Moura, da direção estadual do movimento.

Segundo o superintendente regional do Incra em exercício, José Saulo Derze Craveiro, que ocupa o posto desde o dia 13 de fevereiro, a orientação do órgão é evitar confronto direto com as sem-terra.

"Os servidores serão orientados a não entrarem no prédio e aguardaremos a pauta de reivindicação, que deve ser encaminhada à direção do Incra em Brasília, para discutirmos."

O presidente estadual do PT, deputado federal Rubens Otoni, negou divergências entre o partido e os sem-terra. "O PT indicou o superintendente baseado em um documento assinado por entidades do movimento de reforma agrária, entre eles o MST. Se existe divergência, é dentro do próprio o movimento."

A invasão essencialmente feminina faz parte ainda da programação do MST para o Dia da Mulher. "Estamos organizando estudos e debates para serem feitos ao longo desta semana. Para nós, é um calendário de luta, o dia 8 de março não é uma mera data comemorativa", declarou Elizângela.
 

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