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06/04/2003 - 10h55

Lula vai à TV defender que evitou desastre econômico

KENNEDY ALENCAR
da Folha de S.Paulo

Criticado à esquerda por setores que o apoiaram na eleição, da Igreja Católica ao funcionalismo, passando pelo próprio PT, e elogiado pelo mercado na condução da política econômica, que preservou o cerne daquela praticada por FHC, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará um pronunciamento ao país e anunciará medidas para procurar marcar seus cem dias à frente do poder.

Lula aguarda para divulgar um pacote de financiamento público de mais de R$ 100 bilhões e, em resposta aos críticos, falará amanhã, no 97º dia de governo, em cadeia nacional de rádio e TV para dizer que evitou o desastre econômico no país e que enviará em breve ao Congresso as reformas tributária e da Previdência.

Lula gravou o pronunciamento na tarde de ontem, no Palácio do Planalto, sob a supervisão do publicitário Duda Mendonça. O presidente deveria embarcar para São Paulo às 13h, onde cumpre agenda até terça-feira, mas às 15h, perfeccionista, Duda resolveu regravar a fala presidencial. É a primeira rede de rádio e TV convocada por Lula.

Os cem dias se completam em 10 de abril, quinta-feira. Lula estuda anunciar algo no dia, mas resiste por achar que "a data é da mídia". "O governo não fará balanço de cem dias. Isso é agenda da imprensa", diz o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu.

A linha do pronunciamento do presidente foi decidida em reunião com Duda Mendonça, na última quinta-feira, e é parecida com a seguinte declaração do presidente do PT, José Genoino: "O PT desmentiu previsões de que traria desastre econômico ao país, de que Lula não saberia representar o Brasil no exterior tão bem quanto Fernando Henrique Cardoso e de que o PT não teria governabilidade no Congresso. O balanço é muito positivo".

As palavras de Genoino, que também nega que haja medidas relacionadas aos cem dias, revelam o tom do discurso de Lula e do governo para responder às críticas da oposição e até de aliados, como o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP) -que atacou o governo, dizendo que faltava articulação política e sobrava bateção de cabeça.

Recursos públicos

Está sendo finalizado um pacote de financiamento para saneamento, habitação, cooperativas de trabalhadores, crédito popular e pequenas e médias empresas.

O governo reunirá os presidentes dos bancos oficiais (BNDES, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Banco do Nordeste) com ministros para fechar o pacote de medidas que pode chegar a R$ 130 bilhões.

Esse montante seria equivalente à soma dos recursos anuais desses bancos mais os empréstimos externos em negociações com o Bird (Banco Mundial) e o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), além de verbas do Orçamento atual.
A idéia é priorizar investimentos e financiamentos que atinjam os mais pobres e pequenos empresários.

No ano passado, as operações de crédito dos três principais bancos federais (BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal) somaram R$ 126 bilhões, segundo os dados disponíveis nos respectivos sites sobre o balanço de 2002.

"Não estamos discutindo nenhuma medida para os cem dias, mas finalizando um trabalho que o presidente havia pedido para reorientar as prioridades de investimento de recursos públicos. Esses recursos podem ultrapassar R$ 100 bilhões", diz o ministro Guido Mantega (Planejamento).

Governadores

Além do pronunciamento, Lula fará uma nova reunião com os 27 governadores. Por enquanto, a data prevista é o dia 16, uma quarta-feira. No encontro, seriam feitas as costuras finais para o envio das reformas tributária e previdenciária ao Congresso. Ou seja, cerca de cem dias depois de chegar ao poder, Lula já teria articulado um primeiro consenso em torno de dois temas complicados.

A recente votação da emenda constitucional que prevê a regulamentação do artigo 192 da Constituição (que trata do sistema financeiro) por diversas leis complementares será mostrada como prova de governabilidade.

No pronunciamento, Lula justificará a decisão de fixar um novo mínimo de R$ 240, dizendo que o valor é o possível no atual quadro econômico. Também dirá que o Fome Zero, sua prioridade social, já começou a ser implantado e que, para dar certo, precisará do apoio da sociedade.

Lula deverá dizer ainda que os indicadores econômicos melhoraram com um cenário externo complicado. O dólar está cotado em R$ 3,22. O risco-país está abaixo dos mil pontos.

Na área internacional, será destacada a participação de Lula em Davos (Fórum Econômico Mundial), a posição firme do Brasil contra o ataque liderado pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido ao Iraque e também as articulações para tentar contornar a crise política na Venezuela.

Otimista, Genoino chega a dizer que, consolidando a maioria no Congresso e mantido o atual rumo econômico, o ano que vem será a hora do crescimento, dos empregos e da queda dos juros. "Em 2004, é só decolar", afirma.

Até agora, o Brasil se descolou dos efeitos negativos da guerra do Iraque, mas uma recessão mundial provocada por ela atingiria o país. No governo FHC, toda vez que a economia ia "decolar" -como afirma agora Genoino- estourava uma crise externa. Oito no total, contabilizam os tucanos.

 

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