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22/12/2008 - 10h43

Filha de Chico Mendes vê vitória de desmatadores

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MATHEUS PICHONELLI
da Agência Folha
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
da Agência Folha, em Belém

Vinte anos após a morte de Chico Mendes, Elenira Mendes, 24, filha do seringueiro, afirma que os desmatadores que patrocinaram o assassinato de seu pai, em 22 de dezembro de 1988, seguem vencendo a "queda de braço" na Amazônia.

"Com certeza eles ganharam na época. Hoje o cenário é diferente, mas ainda estamos perdendo a queda de braço", afirma ela. "Foram criadas as reservas [extrativistas], sonho do meu pai, mas esbarramos em outro problema: como, dentro das reservas, pessoas vão sobreviver dignamente sem precisar destruir?", questiona.

Elenira tinha quatro anos quando ocorreu o crime, em Xapuri (AC). Hoje, preside a ONG Instituto Chico Mendes e se dedica a projetos de educação ambiental para a região.

A criação de reservas extrativistas, para uso comum na floresta, era defendida por Chico Mendes, que se opunha à divisão das terras em lotes e cercas. "Hoje os bois tomaram conta das reservas", lamenta ela.

Em setembro, a Folha revelou que a área desmatada na unidade de conservação federal que leva o nome do seringueiro cresceu 11 vezes desde 1988 e chegou a 6,3% da reserva, que tem atualmente cerca de 10 mil cabeças de gado.

Segundo o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), há um plano para que, até 2010, a área seja só extrativista.

Mudança

Em 20 anos, Chico Mendes, que hoje dá nome ao instituto do governo federal responsável pela administração das unidades de conservação ambientais, já foi tema de livros, teses, filmes e músicas.

Elenira diz, porém, que só se deu conta da importância do pai depois dos 18 anos, quando uma tia deu a ela uma foto com uma dedicatória escrita por Mendes: "És a vanguarda da esperança. Elenira, darás continuidade um dia à luta que teu pai não conseguirá vencer".

"Até então, tinha resistência em relação à questão ambiental, uma coisa ligada à morte dele. Mas ler aquilo me fez perceber que precisava me envolver", afirma Elenira, formada em administração e que se especializou em gestão de recursos ambientais.

A filha do seringueiro conta que Mendes está prestes a se tornar também personagem de histórias em quadrinhos, o "Chiquinho". Para janeiro, diz, está previsto o lançamento de uma revista de Ziraldo.

Ela diz que Mendes teria hoje "grande projeção política", mas provavelmente estaria filiado ao PV --ele foi fundador do PT no Acre, Estado governado há quase dez anos pela sigla.

Neste mês, o ativista foi anistiado pela perseguição sofrida durante o regime militar por conta de suas atividades sindicais, quando foi enquadrado na Lei de Segurança Nacional por "incitar atentado contra a paz".

A viúva de Mendes recebeu R$ 337,8 mil de indenização e uma pensão vitalícia de R$ 3.000. A decisão, em meio às homenagens ao líder, ocorre no momento em que o fazendeiro Darly Alves da Silva, condenado como mandante do assassinato, passou a cumprir pena em regime domiciliar. Elenira diz que a possibilidade de encontrar com Darly causa desconforto, embora a tensão não seja a mesma da vivida pela família em 1988. "Tenho de aprender a conviver com isso."

Outro lado

Condenado a 19 anos de prisão pela morte de Chico Mendes, Darly Alves da Silva, 72, mandante do crime, está rico e fora da prisão, mas vive um drama pessoal, segundo seu advogado, Heitor Andrade Macedo.

O advogado diz que há um mês um filho que Darly teve fora de seus dois casamentos e que morava no Pará entrou em sua fazenda em Xapuri (AC) e matou a atual mulher do pai com um tiro de espingarda.

"O menino tinha raiva. Achava que o pai nunca tinha cuidado dele, e viu que o Darly estava muito bem de vida", diz Macedo. O rapaz confessou o crime e está preso em Rio Branco.

Darly, condenado por outros dois crimes que somam 31 anos de prisão, segundo o Tribunal de Justiça do Acre terá direito a cumprir a pena em regime semi-aberto a partir de janeiro.

Já Darci, filho de Darly e condenado pelo assassinato, hoje mora em Medicilândia (PA), onde cuida de outra fazenda do pai. A Folha não o localizou.

Comentários dos leitores
ernani sefton campos (136) 11/11/2009 09h41
ernani sefton campos (136) 11/11/2009 09h41
A discussão continua, como a "dos sexos dos anjos".
Assim, não se vai a lugar,algum.
Enquanto o Governo,tratar o assunto, de forma "política, para o Inglês, ver",não passaremos do desmatamento desordenado, e exploração dos recursos,concentração de rendas, etc...,ficará por aí.
A Amazônia e seu processo de desmatamento,requer, a meu ver, a constituição de uma COMISSÃO de notáveis, nas areas de infraestrutura,energia,agricultura,recursos naturais,engenharia de obras,e desenvolvimento sustentável,urbanismo e implantação de cidades e PESSOAS.
Estes, selecionados , reunidos e remunerados, para tal, elaborariam um PROJETO COMPLETO, incluindo o Gerenciamento do mesmo - um plano Marshall Tupiniquim - para Desenvolvimento, da região de abrangência, integrado, a fim de ocupação racional, autosustentável e harmonico.
" FOCO e Desenvolvimento TOTAL "
Teriamos aí, sim o maior PAC , do MUNDO , por 20 anos, futuros.
Até que poderia ocorrer,por osmose, o envolvimento
dos países vizinhos, que margeiam o rio Amazonas.
Dinheiro, pelo visto, não FALTA.Basta organizar e mandar " BALA ".
Aposto neste MEGA PROJETO, como Vitorioso.
sem opinião
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Rodrigo Vieira de Morais (175) 23/10/2009 15h33
Rodrigo Vieira de Morais (175) 23/10/2009 15h33
Gente, teremos que resolver os problemas ambientais, agora ou depois.
Existem diversas areas desmatadas que agora estão com pastagem degradada.
Grande parte dos ruralistas querem mesmo é vender madeira e lucrar muito. Depois vendem a terra aos pequenos produtores rurais (isto aconteceu e acontece em todo o Brasil).
Outra coisa, se o solo da amazonia não mudou, quando desmatarem aquilo-lá, vai tudo virar deserto.
O solo dos EUA e EUROPA é diferente daqui, possui quantidade de argila diferente e capacidade de armazenamento de água diferente, não dá para comparar.
Decisão técnica e não política.
Muitas ONGs são honestas mais que os políticos de plantão.
sem opinião
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Os Estados Unidos criam centenas de ONGs no Brasil que são financiadas em partes por eles, para proteger o meio ambiente. Será?..... Será mesmo que se preocupam tanto com o meio ambiente, ou a concorrência do Brasil no agronegócio esta incomodando. 12 opiniões
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