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22/06/2003 - 05h04

Assembléia de MT põe R$ 65 mi em empresa de Arcanjo

JOSIAS DE SOUZA
Diretor da Folha de S.Paulo, em Brasília
HUDSON CORRÊA
da Agência Folha, em Campo Grande

Empresas de factoring de João Arcanjo Ribeiro, 52, chefe de uma das maiores quadrilhas criminosas sob investigação no Brasil, receberam R$ 65,2 milhões da Assembléia Legislativa de Mato Grosso e R$ 5,4 milhões da Prefeitura de João Pessoa (PB), segundo relatório do Banco Central.

Os repasses ocorreram entre 1998 e 2002 e foram descobertos graças à quebra do sigilo bancário das empresas de Arcanjo Ribeiro. Os dados constam de processo que apura, entre outros crimes, lavagem de dinheiro.

Uma empresa de factoring opera "comprando" cheques pré-datados. Em troca de comissões, antecipa o dinheiro aos comerciantes e mantém os cheques em carteira até a data do desconto.

Sustentada pelo contribuinte mato-grossense, a Assembléia Legislativa só recebe cheques do governo de Mato Grosso. Os R$ 65,2 milhões entregues à firma de factoring correspondem a 22% do dinheiro repassado pelo Estado no mesmo período: cerca de R$ 300 milhões. O Ministério Público busca explicações.

Responsável pelo caso, o juiz da 1ª Vara Federal de Mato Grosso, Julier Sebastião da Silva, convocou para depor o atual presidente da Assembléia, José Geraldo Riva, e o antecessor dele, Humberto de Melo Bosaipo. Os dois deputados estaduais estão sem partido. O primeiro foi eleito pelo PSDB. O segundo, pelo PL.

O Ministério Público arrolou Riva e Bosaipo como testemunhas. Na condição de deputados, os dois puderam escolher a data e hora do depoimento: 20 de junho, às 14h. Não compareceram.

À véspera do feriado de Corpus Christi, Riva e Bosaipo enviaram ao juiz um ofício em que afirmam que só poderão depor em 25 de agosto. O juiz não parece disposto a esperar. Deferindo um pedido do Ministério Público, determinou à PF que encontre os dois deputados e os conduza à sua presença. Preventivamente, remarcou para a próxima sexta, às 9h, o depoimento dos deputados.

O último depósito da Assembléia em favor da Confiança Factoring (R$ 77.500) foi feito em 3 de dezembro de 2002. Dois dias antes, a PF realizara operação de busca e apreensão de computadores e documentos nas empresas e nas casas de integrantes da quadrilha de Arcanjo, conhecido no Estado como "comendador".

Entre os papéis recolhidos pela PF na firma de factoring estavam 22 notas promissórias. Traziam a assinatura dos mesmos deputados Riva e Bosaipo. Somavam R$ 15,4 milhões. A primeira promissória é de fevereiro de 1999. A última, de dezembro de 2000. Apreenderam-se também três cheques da Assembléia de Mato Grosso. Somavam R$ 1,04 milhão -R$ 348 mil cada.

Em discurso que fez na Assembléia, em 9 de dezembro de 2002, o deputado Bosaipo afirmou: "Sou amigo pessoal do comendador e o nosso time de futebol já jogou partidas em sua chácara várias vezes. Agora que ele caiu em desgraça, não vou fugir da raia."

No mesmo dia, o deputado Riva disse que, quando assumira a mesa diretora da Assembléia, a Casa acumulava dívidas de R$ 40 milhões. "Essas notas [promissórias] foram um compromisso pessoal meu e do Bosaipo", disse.

A Confiança Factoring foi fundada em 1994. Pertence ao comendador e à mulher dele, Silvia Chirata Arcanjo Ribeiro. Em dezembro de 2000, os dois "venderam" a empresa para uma firma com sede no Uruguai, a Lyman, e para uma pessoa física chamada Edson Marques de Freitas. Ao investigar a venda, a PF descobriu que tratou-se de operação fictícia.

Ex-policial civil, Arcanjo Ribeiro amealhou uma das maiores fortunas de Mato Grosso. Daí o apelido de comendador.

Relatório da Receita informa que os auditores detectaram movimentação de R$ 1 bilhão nas contas bancárias do comendador e de suas empresas entre 1997 e 2001. Chegou-se a esse valor a partir do cruzamento de dados relativos à CPMF, o imposto do cheque. Possui negócios em Mato Grosso, no Distrito Federal, no Uruguai e nos Estados Unidos.

Preso em Montevidéu, no dia 10 de abril, depois de quatro meses foragido, Arcanjo Ribeiro responde a inquéritos por lavagem de dinheiro, exploração de jogo ilegal e tráfico de armas.

Responde também à acusação de ter encomendado o assassinato de Sávio Brandão, dono do jornal "Folha do Estado", ocorrido em 30 de setembro do ano passado. O jornal referia-se a ele como "Al Capone de Mato Grosso".
 

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