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22/06/2003 - 20h58

Empresário se entrega à polícia e denuncia esquema de Arcanjo

HUDSON CORRÊA
da Agência Folha, em Campo Grande

O empresário Nilson Roberto Teixeira, 43, que administrava as factorings do "comendador" João Arcanjo Ribeiro, 52, se entregou ontem à Polícia Federal em Cuiabá (MT). Ele estava foragido desde o dia 4 de abril.

Em seu depoimento, Teixeira afirmou que a Confiança, uma das factorings de Arcanjo, recebia dinheiro da Assembléia Legislativa de Mato Grosso para pagar despesas de campanhas do ex-governador Dante de Oliveira (PSDB), que administrou o Estado de 1995 a abril de 2002, e de deputados estaduais.

Teixeira envolveu o presidente da Assembléia Legislativa, José Riva, e o deputado e ex-presidente da instituição Humberto Bosaipo (ambos sem partido). Eles assinaram cheques emitidos pela Assembléia para as factorings.

Entre 1998 e dezembro de 2002, a Casa fez depósitos de R$ 65.278.749,34 na factoring para pagar dívidas de empréstimos, segundo o Banco Central. Factorings são empresas que compram notas promissórias e cheques e também recebem esses títulos como garantia de empréstimos.

"Todo o montante depositado na conta da Confiança Factoring pela Assembléia Legislativa se refere às operações de empréstimos realizadas pelo Parlamento estadual, sendo dados cheques em garantia, sempre assinados pelos deputados José Riva e Humberto Bosaipo", afirmou Teixeira em seu depoimento.

O empresário disse se "recordar que débitos da campanha do ex-governador Dante de Oliveira foram quitados por empréstimos realizados pela Assembléia Legislativa do Estado de Mato Grosso junto à Confiança Factoring".

A operação serviu para pagar "restos da campanha de 1994, no ano de 1996, assim como débitos de campanha política do então candidato Dante de Oliveira no pleito de 1998", afirmou Teixeira.

Ao juiz federal Julier Sebastião da Silva, Teixeira disse que "consegue provar a triangulação para o pagamento de despesas [de campanha], através de documentos que possui, os quais entregará em Juízo".

A Confiança Factoring ainda teria recebido R$ 1.723.600 do Departamento de Viação e Obras Públicas de Mato Grosso, órgão extinto em janeiro pelo atual governador Blairo Maggi (PPS).

O depósito foi realizado, segundo Teixeira, para quitar uma dívida com a Confiança Factoring, pois a empresa teria pago "débitos de fornecedores de campanha" de Dante de Oliveira.

Esse acerto teria sido feito por Teixeira com os coordenadores da campanha de Dante: o ex-secretário de Indústria e Comércio Carlos Avalone e o atual conselheiro do Tribunal de Contas de Mato Grosso, José Carlos Novelli.

Deputados

No interrogatório, Teixeira disse ainda que a Confiança Factoring "recebia uma lista com nome de pessoas a quem o dinheiro deveria ser repassado. E entre essas pessoas havia os deputados estaduais". De "60% a 70% dos deputados" teriam sido beneficiados. Mato Grosso tem 24 parlamentares na Assembléia Legislativa.

Ainda no depoimento, o empresário diz "que é difícil separar dentre os recursos nas operações que envolveram a Assembléia Legislativa de Mato Grosso qual foi o montante destinado à campanha do deputado José Riva".

O Ministério Público Federal acusa a Confiança Factoring de sonegar R$ 500 milhões da Receita Federal. A empresa ainda faria parte do esquema de lavagem de dinheiro de Arcanjo, que está preso desde o dia 10 de abril em Montevidéu, no Uruguai.

Segundo relatório do Banco Central, a factoring movimentou R$ 69 bilhões desde 1998. Em março de 2001, Arcanjo teria simulado, segundo Teixeira, a venda da Confiança para a empresa uruguaia Lyman.

Para simular a operação, Arcanjo entregou 99% da empresa para o uruguaio Adolfo Sesini, também preso em Montevidéu, e 1% para o garçom Edson Freitas, que recebia R$ 900 por mês para ceder o seu nome e assinar cheques em brancos. Em depoimento no mês passado, ele confirmou a história.

A lavagem de dinheiro no Uruguai, segundo a Justiça Federal, teria movimentado US$ 45 milhões.
 

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