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25/06/2003 - 08h16

Vasculhem minha vida", diz Dante sobre acusação

JOSIAS DE SOUZA
da Folha de S.Paulo, em Brasília

O ex-governador de Mato Grosso Dante de Oliveira (PSDB) negou ontem a acusação de que seu comitê de campanha eleitoral tenha recebido recursos provenientes da Confiança Factoring, empresa de João Arcanjo Ribeiro, chefe de uma das maiores quadrilhas do país. "Tentar me envolver com o crime organizado é um absurdo", declarou à Folha.

Em depoimento à Justiça, no último sábado, Nilson Roberto Teixeira, ex-gerente-geral da Confiança Factoring, disse que a firma de Arcanjo Ribeiro realizou "pagamentos de campanha do ex-governador Dante de Oliveira". As despesas teriam sido cobertas por 27 depósitos do DVOP (Departamento de Viação e Obras Públicas de Mato Grosso). De acordo com rastreamento feito pelo Banco Central, somam R$ 1.723.600,00. "O que pode ter acontecido é que o DVOP pagou a determinado fornecedor, ele pegou esses cheques e foi lá, entregou como pagamento de dívida", afirmou Dante.

Nilson Teixeira disse que se reuniu na firma de Arcanjo Ribeiro com dois coordenadores de campanha de Dante: José Carlos Novelli, ex-dirigente do DVOP, e Carlos Avalone, ex-secretário de Indústria e Comércio. Ambos negam, segundo Dante, a realização de negócios com a factoring.

"O Carlos Avalone tinha uma amizade pessoal com o Nilson", disse Dante. "Mas relações de negócio, ainda mais envolvendo governo e campanha, é outra coisa."

Algum entendimento pode ter sido feito sem o conhecimento de Dante de Oliveira? "Eu nunca autorizei e nunca fui consultado para nada disso. Por mim nunca passou absolutamente nada e acredito que não tenha havido nada", disse o ex-governador.

Folha - O sr. analisou, com seus advogados, o depoimento de Nilson Roberto Teixeira, gerente da empresa de factoring de João Arcanjo Ribeiro?
Dante de Oliveira
- Nós conversamos bastante, elaboramos uma nota oficial que diz o que penso.

Folha - O que aconteceu?
Dante
- A verdade é que eu sempre tive posição muito clara. Nunca autorizei nem tive contato com factoring, coisa nenhuma. Passei o meu governo inteirinho cobrando do Fernando Henrique e das autoridades federais que trouxessem para o Mato Grosso, para cuidar das fronteiras, as Forças Armadas. Sempre achei que era um papel indelegável das Forças Armadas, com todo o poderio que elas têm, enfrentar o narcotráfico e o tráfico de drogas. Nunca consegui. Quando montou-se aqui em Mato Grosso o Gaeco, que é o grupo especializado da Polícia Federal de combate ao crime organizado, eu os recebi no palácio, dei todo apoio, jamais atrapalhei nenhuma investigação. Tentar me envolver agora com o crime organizado é um absurdo. Podem vasculhar. Pega meu patrimônio e compatibiliza com tudo que ganhei nesses anos todos.

Folha - A que conclusões os senhores chegaram a respeito dos 27 depósitos, num total de R$ 1.723.600,00, do DVOP (Departamento de Viação e Obras Públicas de Mato Grosso) em favor da firma Confiança Factoring?
Dante
- Esses depósitos não existem segundo o meu [ex-]presidente do DVOP José Carlos Novelli. Ele soltou uma nota em que nega que tenha feito negócios com factoring. Não tem cheque. Ele é conselheiro do Tribunal de Contas e diz que não existe isso.

Folha - Quanto à existência dos cheques parece não haver dúvidas. Foram rastreados pelo BC.
Dante
- Vou fazer uma análise sobre o que acho que pode ter acontecido. E não estou defendendo isso. Aqui em Mato Grosso, havia dez factorings aprovadas pelo Banco Central. Das dez, sete eram desse moço [o comendador João Arcanjo Ribeiro]. Uma empresa que recebesse no dia 1º um cheque para o dia 20 e quisesse trocar, ia na factoring. Dentistas e médicos recebiam cheques para 30 dias e iam na factoring para fazer dinheiro. O grande empresário a mesma coisa. Era o banco que funcionava para descontar cheques de todo mundo. O que pode ter acontecido é que o DVOP pagou a determinado fornecedor, ele pegou esses cheques e foi lá, entregou como pagamento de dívida. Isso pode ter ocorrido pelo que entendi das explicações que obtive. Não sei se é isso.

Folha - O DVOP pagava aos fornecedores em cheque ou em crédito direto na conta?
Dante
- Acho que em cheque.

Folha - O sr. conversou com as duas pessoas que coordenaram a sua campanha e que, segundo o depoimento de Nilson Teixeira, o auxiliar de Arcanjo, se reuniram com ele na Confiança Factoring?
Dante
- Falei com os dois. Um deles é esse José Carlos Novelli [ex-presidente do DVOP], que divulgou essa nota negando os cheques. O outro, Carlos Avalone, deve estar chegando de viagem hoje [ontem] e vai providenciar nota ou fazer pronunciamento.

Folha - Eles estiveram, afinal, na empresa de factoring, em reuniões com Nilson Roberto Teixeira?
Dante
- O Novelli nunca esteve em reunião. O Carlos Avalone tinha uma amizade pessoal com o Nilson antes de ele trabalhar com a factoring. Era amigo pessoal. Segundo ele fala, quando o Nilson trabalhava no Banco Econômico, já eram amigos. Quando ele foi trabalhar na factoring, disse a ele: "Não faça isso". Ele foi. Quando o sr. Nilson quis fazer uma adoção de criança, quem orientou e fez tudo foi o Avalone, porque ele também tem criança adotada. Os dois têm relação, um ia na casa do outro. Essa relação pessoal tinha. Mas relações de negócio, ainda mais envolvendo governo e campanha, aí é outra coisa.

Folha - O sr. Nilson Roberto Teixeira há de estar blefando, portanto, quando diz no depoimento que conseguiria provar, com documentos, a relação entra a Confiança Factoring e o comitê de campanha?
Dante
- Não sei que documentos são esses, não sei sobre o que ele está falando. O duro é que está se criando uma coisa no Brasil de pegar o depoimento de um cidadão, colocar em todos os sites do Brasil e do mundo e você tem de ficar correndo atrás do prejuízo. Quem lê esse tipo de coisa diz: "Olha, o Dante aí envolvido com o crime organizado". Agora tem de refazer tudo isso. É terrível.

Folha - A contabilidade de campanha era controlada pelo sr. na condição de candidato?
Dante
- Tinha um comitê de campanha, no qual o Carlos Avalone era a pessoa que fazia os contatos com empresários. Ele, no meu segundo mandato, foi secretário da Indústria e Comércio, tinha muitas relações empresariais. Ele era o contato empresarial.

Folha - Não pode ter havido algum entendimento que fugisse ao seu conhecimento?
Dante
- Eu nunca autorizei e nunca fui consultado para nada disso. Por mim nunca passou absolutamente nada e acredito que não tenha havido nada.
 

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