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26/07/2003 - 07h08

"Não quis incitar violência", afirma Stedile

PAULO ROLEMBERG
da Agência Folha, em Aracaju

João Pedro Stedile, um dos coordenadores nacionais do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), disse ontem em Aracaju (SE) que não quis incitar a violência no campo com declarações dadas na quarta-feira.

Num acampamento em Canguçu (RS), Stedile definiu o MST como "um exército de 23 milhões de pessoas" que não podem "dormir enquanto não acabarem com eles [os latifundiários]".

As declarações foram publicadas na quinta-feira, pelo jornal gaúcho "Zero Hora", e ontem, pela Folha e por outros jornais.

"Evidentemente, o jornalista não me entrevistou. Ele botou uma versão distorcida", disse ontem. "Não tive o intuito de ficar incitando violência ou confronto. O que eu fiz foi uma análise de classe da sociedade brasileira."

Em nota, o MST disse que "as declarações do companheiro João Pedro Stedile foram claramente manipuladas e distorcidas, com má intenção, pelo veículo "Zero Hora". O Movimento Sem Terra não emite declarações ou entrevistas para nenhum veículo do grupo RBS, por sua postura parcial e favorável ao latifúndio. Acreditamos que esse é um grupo de comunicação que não merece credibilidade".

Marcelo Rech, diretor de Redação do "Zero Hora", disse à Agência Folha que as informações não foram manipuladas. "As declarações dadas por João Pedro Stedile foram gravadas pelo repórter e reproduzidas na íntegra."

Stedile também comentou as afirmações do presidente do PT, José Genoino, de que o governo Lula não é conivente com os movimentos sociais nem "com ações de desrespeito às leis". "Acho que é um exagero do Genoino.Ele sabe que as mobilizações sociais são um direito do povo brasileiro e são a única forma do governo ter força social organizada para fazer as mudanças", declarou.

O líder dos sem-terra disse que as lutas que existem, seja no meio rural ou na cidade, não dependem da vontade dos movimentos. E que as invasões vão continuar.

"Os pobres tem o direito e precisam se organizar. O MST não vai parar de organizar os pobres para que eles usem todas as formas de organização possível", disse.

O líder do MST participou da passeata que reuniu cerca de 10 mil pessoas, segundo a PM, que percorreu ruas da cidade até o ginásio estadual de esportes Constâncio Vieira.

Ruralistas

O presidente da UDR (União Democrática Ruralista), Luiz Antônio Nabhan Garcia, 45, disse ontem que pedirá ao Ministério Público Federal ação criminal, por "incitação ao crime", contra Stedile e que enviará ofício às Forças Armadas "pedindo providências contra as declarações de guerra" do líder do MST.

"Se eu fizesse declarações semelhantes, hoje já estaria na cadeia. É grande a diferença de tratamento dispensada ao MST e aos ruralistas. Só porque ele é amigo do presidente Lula não significa que pode dizer tudo sem consequências", afirmou. Segundo Garcia, "o Exército, a Marinha e a Aeronáutica precisam se posicionar contra essa incitação à guerra".

As declarações também provocaram reação da Farsul (Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul), que ingressou no Ministério Público Estadual com notícia-crime contra Stedile, com pedido de prisão preventiva, por crime contra a paz.

O procurador-geral, Roberto Bandeira Pereira, disse ontem que vai encaminhar o expediente à Promotoria em Canguçu, onde Stedile deu declarações.

Stedile disse que a postura da Farsul constitui parte do "jogo de cena" dos latifundiários. "Eles sabem que não têm moral nenhuma para manter tanta terra improdutiva. Então, ficam criando factóides", declarou.
 

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