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25/08/2003 - 03h20

Arcanjo girou US$ 69,8 mi no exterior de 1999 a 2002

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HUDSON CORRÊA
da Agência Folha, em Campo Grande

Documentos recebidos neste mês pela Justiça Federal de Mato Grosso apontam que o ex-policial civil João Arcanjo Ribeiro, 52, movimentou pelo menos US$ 69,8 milhões em duas agências, uma do Deutsche Bank, em Nova York, e outra do BankBoston, em Montevidéu (Uruguai), de setembro de 1999 a dezembro de 2002.

O MPF (Ministério Público Federal) investiga se a movimentação fez parte de esquema de lavagem de dinheiro comandado por Arcanjo, preso desde abril em Montevidéu por uso de identidade falsa. Arcanjo é acusado de chefiar um esquema de lavagem de dinheiro, obtido por uma organização criminosa, e de sonegar R$ 842 milhões da Receita.

O juiz Julier Sebastião da Silva, da 1ª Vara Federal em Cuiabá (MT), recebeu do governo uruguaio comprovantes de movimentação financeira da empresa Aveyron S.A, com sede em Montevidéu. Essa corretora de câmbio, segundo os documentos a que a Agência Folha teve acesso, foi criada no Uruguai em 1995 por Arcanjo. O MPF diz que a empresa era usada para lavar dinheiro.

Silva recebeu comprovante de depósito de US$ 47.368.304,54 feito pela Aveyron em agência do Deutsche Bank, em Nova York. O documento, de acordo com o juiz, mostra ainda que o dinheiro foi parar nas Ilhas Cayman. Toda a operação ocorreu no período de novembro a dezembro de 2002.

A Aveyron ainda manteve quatro contratos no valor de US$ 22.502.214,89 de setembro a dezembro de 1999 no BankBoston.

Irmão de Dante

Os documentos obtidos pela Justiça mostram que, nos bancos do Uruguai, Arcanjo foi avalista, direta e indiretamente, de dois empréstimos, que somam US$ 3,2 milhões, feitos pela Amper Construções Elétricas --empresa que pertence a Armando Martins de Oliveira, 56, irmão de Dante de Oliveira (PSDB), que foi governador de Mato Grosso (1995-2002).

O primeiro empréstimo, de US$ 2,2 milhões no BankBoston, ocorreu em 1998, e o avalista foi Arcanjo, como pessoa física. O segundo empréstimo, de US$ 1 milhão no Deutsche Bank, ocorreu em 2000, e a avalista foi a Aveyron, que recebeu uma comissão de 3%, ou seja, US$ 30 mil.

Esses documentos recebidos do Uruguai reforçarão as investigações sobre Arcanjo. O Ministério Público investiga a rota que seria usada por Arcanjo para lavar dinheiro. Até aqui, sabe-se que:

1. A Confiança Factoring, firma de Arcanjo que operava em Cuiabá desde 1995, recebeu da Assembléia Legislativa de Mato Grosso, segundo relatório do Banco Central, R$ 65.278.749,34, de maio de 1999 a dezembro de 2002.

2. Também houve depósito de R$ 1.723.600 feito pelo DVOP (Departamento de Viação Obras Públicas), órgão do público, durante o governo Dante.

3. Em depoimento na Justiça Federal no dia 14 passado, o ex-gerente da factoring, Nilson Roberto Teixeira, manteve a versão de que parte do dinheiro da Assembléia e do DVOP foi usada para pagar gastos de campanha de reeleição de Dante, em 1998.

4. A Confiança Factoring, ainda segundo o relatório do BC, emprestou, de 1998 a 2000, R$ 2.036.868,22 à Amper (empresa do irmão de Dante).

5. O ex-secretário estadual da Segurança Pública, Hilário Mozer Neto, recebeu empréstimo de R$ 240 mil da factoring em fevereiro de 2001, dois meses após deixar o governo. Outro documento, enviado do Uruguai para a Justiça Federal em Mato Grosso, envolve Mozer Neto. É uma ata da empresa Gamza, corretora de câmbio com sede em Montevidéu. O ex-secretário aparece como presidente da empresa, de fevereiro a março de 1998 e, em seguida, transfere o cargo para o sócio Luiz Alberto Dondo Gonçalves, que era contador das empresas de Arcanjo na época.
 

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