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02/09/2003 - 10h01

Veículos confirmam faturamento de textos

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da Folha de S.Paulo, em Brasília

Todas as 76 empresas de comunicação com notas fiscais de venda de "reportagens" foram procuradas pela Folha. O jornal encontrou 67. As demais não estão mais no endereço que aparece na documentação (notas fiscais e cópias das "reportagens").

Dos 67 veículos encontrados, oito preferiram não comentar. Apenas um dos contatados negou de forma peremptória a publicação de "matéria paga": a revista de celebridades "IstoÉ Gente", para a qual há notas fiscais no valor total de R$ 500 mil -duas operações de R$ 250 mil para dois textos de oito páginas cada um.

O diretor de projetos institucionais da Editora Três, Expedito Grossi, declarou que "o governo [do Estado do Paraná] comprou uma quantidade "X" de "reprints" do caderno para redistribuição lá [no Paraná]". "Reprints", explicou, são reimpressões de uma determinada notícia, em grande quantidade. No caso, o governo do Paraná teria se interessado em fazer a distribuição dos textos publicados por "IstoÉ Gente".

A fatura da revista menciona que a natureza dos serviços foi "inserção", termo comumente usado para publicidade. Grossi diz que isso deve ter ocorrido "para simplificar", mas o trabalho teria sido, "com certeza", uma reimpressão. A Folha perguntou se poderia ter acesso a algum documento que demonstrasse o pedido de reimpressão do governo do Paraná. Segundo Grossi, seria difícil localizar tal papel, pois a operação foi há mais de um ano.

As respostas da maioria (53) dos outros veículos contatados foram sempre positivas, admitindo a publicação de "matérias pagas". "Quando a matéria é informativa, nós não vemos nenhuma necessidade se o cliente pedir para não cercar. Até porque é uma matéria informativa", diz Baltazar Oliveira, proprietário da "Tribuna do Norte", de Apucarana.

"Sai como matéria jornalística", afirma Vânio Pressinatte, editor de "A Tribuna do Povo", de Umuarama.

Representantes de alguns veículos disseram que os casos apresentados pela Folha poderiam representar algum engano. Mas não chegaram a contestar propriamente a publicação --uma vez que foram confrontados com suas notas fiscais e as "reportagens" anexadas. A minoria (cinco) das pessoas contatadas disse que enviaria explicação por escrito, o que nunca aconteceu.

Alguns disseram que a prática é antiga e remonta a vários governos passados. É o caso do colunista Pedro Washington, cujo texto era publicado por sete jornais diários no ano passado. Ele recebia um pagamento para divulgar informações em sua coluna: "É publicidade de matéria de interesse do governo".

"Aqui, no Paraná, sempre foi muito comum isso. Você tem uma coluna valorizada e é como se fosse um "merchandising" que hoje se faz na televisão", explica Washington.

Roney Rodrigues Pereira, diretor do "Jornal do Estado", relata algo semelhante: "Talvez identificar seja mesmo o mais correto. Convencionou-se que não seria. Os outros jornais também não identificavam. Sempre foi assim, inclusive nos governos passados. Não foi uma coisa trazida pelo governo [Jaime] Lerner".

Governadores

A Folha procurou durante quatro semanas o ex-governador Jaime Lerner (PFL), que esteve no comando do Paraná de 1995 a 2002. Por meio de sua assessoria, Lerner disse que preferia não comentar. O seu secretário de Comunicação em 2002, Deonilson Roldo, também não se manifestou. Três ex-governadores procurados negaram ou disseram não saber exatamente se a compra de "reportagens" ocorria quando estiveram no poder.

José Richa, 68, que hoje está no PSDB e governou o Paraná pelo PMDB (1983-1987), declara que "não existia" o uso de matérias pagas durante o seu mandato. "Inclusive, eu sempre disse: aquilo que for notícia, se vocês quiserem, publiquem; se não quiserem, não precisam publicar", afirmou.

Álvaro Dias, 58, do PDT (governou pelo PMDB de 1987 a 1991), disse que, "infelizmente, no Paraná há essa manipulação do governo". "As formas são as mais diversas." Indagado se havia "matérias pagas" na sua época, declarou: "Não. Pelo menos formalmente, não". E informalmente? "Não, não... Na verdade, eu descentralizava. O secretário [de Comunicação] é que cuidava disso. E eu não me lembro do procedimento que ele adotava em relação aos jornais do interior."

Roberto Requião, 62, do PMDB, atual governador e que também comandou o Estado de 1991 a 1994, nega usar "matérias pagas" em seus dois mandatos. "Eu nunca fiz isso", declara.

Agências

A Loducca e a Opus Múltipla informaram, por meio de suas assessorias, que preferiam não se manifestar sobre a venda de "reportagens" no Paraná.

Antonio Freitas, 58, presidente da Master, declarou o seguinte: "Nós veiculamos preferencialmente anúncios publicitários. Pela legislação, a agência autoriza o veículo por conta e ordem do cliente. É política de cada veículo identificar ou não como informe publicitário. A agência não tem o poder de fazer um jornal publicar sem identificação. Eticamente, essa prática não é correta. O que é necessário é deixar claro para o leitor que aquilo é pago, mas essa é uma tarefa do veículo".

A ANJ (Associação Nacional dos Jornais) foi informada de que quatro de seus sócios estão na lista de veículos que publicam "matérias pagas" no Paraná, mas preferiu não se manifestar a respeito.
 

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