Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
21/09/2003 - 05h31

Enéas é acusado de embolsar verba de custeio

Publicidade

ANDRÉA MICHAEL
da Folha de S.Paulo, em Brasília

Uma gravação, dois cheques, uma carta, o carnê de prestações de um automóvel Blazer e uma apólice de seguros. Juntos, os documentos mostram como Enéas Carneiro (Prona-SP), o deputado mais votado do Brasil, firmou, com recursos da Câmara Federal, um contrato de R$ 3.000 --depois reduzido para R$ 2.600-- mensais pelo aluguel de uma Blazer com Levy da Costa Peres, seu motorista.

O dinheiro saiu da verba destinada pela Câmara para o custeio de despesas parlamentares. Um recurso que o deputado utiliza livremente, mediante comprovação dos gastos. A idéia de Enéas e seu motorista era dividir meio a meio a quantia.

Peres entregaria ao deputado um recibo da suposta despesa, como se a tivesse recebido integralmente. Com a sua parte, pagaria as prestações da Blazer (R$ 1.200 mensais), em 24 parcelas. Segundo o motorista, os recibos foram emitidos. Mas Enéas atrasou os repasses que lhe teria prometido e, devido a desavenças com funcionários de seu gabinete, dispensou o motorista.

Inconformado, Peres, lotado como secretário parlamentar do deputado no mês de junho (R$ 2.587 de salário), encaminhou uma carta aos cinco deputados que compõem a bancada do Prona. Informa que seu antigo chefe estaria lhe devendo R$ 14.600.

O suposto débito refere-se a aluguéis da Blazer (cobrados integralmente), multas e despesas pessoais de Enéas, presidente do Prona, como "fotos tiradas no plenário" (R$ 28) e até um "jogo de panelas para a residência" do deputado em Brasília (R$ 195).

No texto da carta, entre ameaças, Peres afirma possuir "várias provas escritas e gravadas". A Folha obteve parte das gravações. Deu-se no aeroporto de Brasília. Para negociar a dívida, Enéas reuniu-se com Peres. Estava acompanhado da advogada Ivete Maria Ribeiro. O diálogo foi em julho. Na conversa, acertaram a liquidação da dívida com dois cheques de R$ 6.000, do Banco do Brasil.

Nos diálogos gravados há falas inaudíveis. Os trechos audíveis deixam claro, porém, que Peres aceita os termos da negociação. Como ele só poderia depositar os cheques dias depois, pediu garantias. E Enéas: "Eu cubro... [com] a minha palavra de honra".

No início da conversa Peres disse que "dava um presente pra ele [Enéas] todo mês". Ele retruca: "Presente, se alguém dá, sou eu, que eu alugo um carro por 12 dias pagando R$ 3.000". Enéas reclama de que "o acordo de cavalheiros não era exatamente esse", pois Peres estava lhe cobrava o valor integral do aluguel da Blazer.

A gravação tem uma hora. Conforme a análise do perito Ricardo Molina, realizada a pedido da Folha, a fita é autêntica. "Não há montagem", atesta Molina.

Sozinha, a gravação sugere, como afirma o próprio Enéas, a existência do "acordo de cavalheiros" que uniu o deputado ao motorista Peres. Associado a documentos obtidos pela Folha, o conteúdo é robustecido. São cópias de dois cheques, o contrato de aluguel do carro e a carta enviada
aos deputados do Prona.

Os cheques, assinados pela advogada Ivete Maria Ribeiro, foram recebidos por Peres.

A Blazer que compõe o contencioso entre Enéas e Costa Peres é modelo executivo, ano 1997 e foi financiada em nome da mulher do motorista, Marli Gomes Peres. Há um seguro total do veículo em nome de Enéas, indicando como "estipulante" a Câmara.

Peres é segundo sargento da Polícia Militar do DF. Disse à Folha que foi cedido à Câmara a pedido de Enéas. Negou ter feito ameaças. "Só disse a ele que as injustiças que ele estava fazendo poderiam tirá-lo da Câmara por falta de decoro." Explicou que "injustiças" seriam não repassar a ele R$ 1.500 mensais do aluguel da Blazer pagos pela Câmara.

Além dos acertos sobre o aluguel do automóvel, Enéas e Peres conversam na gravação sobre a desavença que teria levado à demissão do motorista. Peres se desentendeu com o chefe de gabinete de Enéas, Aryone Franco.

Enéas, que chegou pela primeira vez à Câmara como o deputado mais votado do Brasil (1.573.642 votos), não quis dar entrevista. "Eu quero, tenho o direito de não falar. Pode ser?" O mesmo fez a advogada Ivete Ribeiro.
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página