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03/12/2003 - 21h00

Polícia entra em confronto com ruralistas no RS

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LÉO GERCHMANN
da Agência Folha, em Porto Alegre

A Brigada Militar entrou em confronto hoje pela manhã com ruralistas no km 90 da RS-630 para permitir que 400 integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) prosseguissem, escoltados por 80 policiais, marcha até uma propriedade comprada por uma pessoa física e a eles cedida. Os sem-terra chegaram à propriedade às 15h.

Os produtores, após negociações frustradas com a Brigada Militar (PM gaúcha) para deixar os sem-terra passarem, montaram um bloqueio.

O prefeito de São Gabriel, Rossano Dotto Gonçalves (PDT), e o presidente do sindicato rural local, José Francisco Costa, foram detidos por desacato a autoridade e depois soltos.

O confronto ocorreu porque a tropa de choque tentou desbloquear a rodovia. Para dispersá-los, utilizou balas de borracha e bombas de efeito moral. Os ruralistas reagiram com paus e pedras. Um ruralista ficou ferido e alguns apresentam hematomas provocados por cassetetes. Dentre eles, o estudante universitário Álvaro Laureano, 23, filho de um ruralista --foi atingido por um tiro de bala de borracha na perna.

As ordens, segundo a BM, foram do governador Germano Rigotto (PMDB), que se disse preocupado com o desrespeito à lei, "por produtores ou sem-terra". À tarde, Rigotto afirmou que seria aberta sindicância sobre a ação policial.

Segundo o prefeito Gonçalves, "foi uma ação truculenta da Brigada. O governo não dialogou conosco em nenhum momento". Ele disse ter sofrido uma luxação.

Uma das líderes da marcha, Ana Leite, afirmou que a intenção dos sem-terra é permanecer acampados no local. O MST espera ter um "assentamento modelo", segundo deputado estadual frei Sérgio Görgen (PT).

A área de 13,2 mil hectares de Alfredo Southall em São Gabriel --o motivo da marcha-- seria trocada por dívidas do proprietário com órgãos públicos. De acordo com Görgen, tais dívidas seriam superiores a R$ 36 milhões. Southall, porém, diz não ter nem sequer 10% desse valor em dívidas com o Estado.

A fazenda onde chegou o MST fica em Vacaraí, perto do complexo Southall. A Agência Folha não localizou ontem os proprietários, mas os ruralistas dizem que ela está em pleno processo de inventário. Por isso, sua venda seria irregular. A Farsul (Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul) anunciou, no final da tarde, uma medida judicial contra a venda e a cessão da área.

A venda foi efetivada pelos irmãos Milton Bergamo e Cledi Bergamo, por R$ 8.600 --são 3.600 hectares. O comprador é o agricultor José Guilherme Leal.

O prefeito, uma figura polêmica, diz "só defender a comunidade" e assegura não temer ser taxado de xenófobo ao vetar a presença de sem-terra na cidade, porque "o município não tem condições de receber estas pessoas".

Ele usa um bordão do regime militar --"Ame-o ou deixe-o"--, referindo-se aos habitantes favoráveis aos sem-terra, como o ex-presidente Emílio Médici (69-74) se referia à oposição nos "anos de chumbo".
 

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