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04/12/2003 - 05h49

Delegado da PF surge em contas de esquema

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MARIO CESAR CARVALHO
da Folha de S.Paulo

A Operação Anaconda descobriu que mais um delegado da Polícia Federal de São Paulo mantinha relações com a suposta quadrilha acusada de venda de sentenças: trata-se de Eldo Saraiva Garcia. A PF, com base em documentos apreendidos, concluiu que ele recebeu cerca de R$ 100 mil por serviços prestados ao grupo que teria como mentor o juiz João Carlos da Rocha Mattos.

Garcia, segundo análise do setor de Inteligência da Polícia Federal, é o personagem tratado pelo codinome Qüem Qüem no livro-caixa apreendido no escritório do advogado Affonso Passarelli Filho, na cidade de São Paulo.

Dois pagamentos a Qüem Qüem foram encontrados no livro-caixa, nas páginas 55 e 61. Foram feitos em 11 e 23 de setembro de 2002 e somam cerca de R$ 100 mil, de acordo com o relatório do setor de Inteligência.

A Folha revelou em 21 de novembro que um pagamento de US$ 5.000 a Qüem Qüem havia sido contabilizado no livro-caixa.

Os peritos da PF descobriram que Qüem Qüem é Garcia a partir de uma simples consulta no celular do delegado José Augusto Bellini e na agenda do agente da PF César Herman Rodriguez, ambos presos. Na agenda do celular de Bellini, havia o codinome Qüem Qüem e um número. Na agenda eletrônica de Rodriguez, o mesmo número aparecia junto ao nome de Eldo Saraiva Garcia.

Desvio do túnel

O registro dos US$ 5.000 pagos a Qüem Qüem aparece abaixo de um pagamento de US$ 15 mil a AAC (identificado pela PF como sendo o subprocurador da República Antônio Augusto César).

Logo acima da sigla AAC está contabilizada uma entrada de US$ 30 mil, feita por Lavicem. O Ministério Público acusa o consórcio CBPO-Constran de ter usado a Lavicen (com ene, e não com eme) para desviar R$ 100 milhões durante a construção do túnel Ayrton Senna, a principal obra do prefeito Paulo Maluf em sua última gestão à frente da prefeitura paulistana (1993-1996).

Um dos supostos sócios da Lavicen é um sapateiro aposentado da região metropolitana de Curitiba que nem sabia que tinha uma empresa de aluguel de tratores e máquinas pesadas.

A CBPO afirma que a Lavicen não é uma empresa usada para desviar recursos da obra e que prestou os serviços contratados por ela: a locação de máquinas e tratores para a abertura do túnel.

Caso Paubrasil

O delegado Garcia atuou em casos famosos nos últimos dez anos. Ele investigou, por exemplo, a Paubrasil Engenharia e Montagens, que arrecadou irregularmente US$ 19 milhões para as campanhas de Paulo Maluf em 1990 e 1992, como reconheceu à PF um dos sócios da empresa, o pianista João Carlos Martins.

Foi por decisão de Garcia que Martins, Calim Eid (acusado de ser um dos caixas de Maluf) e Flávio Maluf, filho do ex-prefeito, foram indiciados sob acusação de formação de quadrilha, sonegação fiscal e falsidade ideológica.

Garcia era dado a rompantes. Em 1993, obrigou Calim Eid (1923-1999) a copiar três vezes a carta-testamento de Getúlio Vargas para um exame grafotécnico --queria confrontar a caligrafia com a contabilidade feita em cadernos apreendidos na sede da Paubrasil, os quais Eid dizia nunca ter visto.

O delegado também atuou na CPI dos Precatórios, a qual concluiu que os governos de Santa Catarina, Alagoas, Pernambuco e dos municípios de São Paulo, Guarulhos, Osasco e Campinas tiveram um prejuízo de pelo menos R$ 237,9 milhões com emissão irregular de títulos públicos. Os ex-prefeitos Paulo Maluf e Celso Pitta eram acusados de participar do esquema em São Paulo --o que ambos negam.

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) elogiou a atuação do delegado Garcia na CPI dos Precatórios. Em texto que está no site do Senado, sob o título "A CPI dos Precatórios começa a ter suas consequências na Justiça", Suplicy escreveu: "As informações obtidas com os depoimentos colhidos na Polícia Federal de São Paulo, sob a coordenação do delegado Eldo Saraiva Garcia, foram fundamentais para ajudar-nos a montar o quebra-cabeça dessas operações". O senador também elogia as investigações de Paulo Lacerda. Hoje, Lacerda dirige a PF e Garcia é suspeito de receber R$ 100 mil de uma quadrilha.
 

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