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01/02/2004 - 07h20

Novo ministro preocupa evangélicos

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MURILO FIUZA DE MELO
da Folha de S.Paulo, no Rio

A nomeação de Patrus Ananias (PT-MG), um católico atuante, para o Ministério do Desenvolvimento Social e de Combate à Fome deixou evangélicos preocupados. O pastor batista Ariovaldo Ramos disse que a indicação é a "vitória da Igreja Católica na queda-de-braço com o governo" para controlar as políticas sociais.

O pastor integra o Consea (Conselho Nacional de Segurança Alimentar), ligado ao governo, e é vice-presidente da Associação Evangélica Brasileira, que reúne igrejas protestantes tradicionais.

"No ano passado, a Igreja Católica se distanciou das ações sociais do governo, em razão das críticas de d. Mauro Morelli e da doutora Zilda Arns. São críticas que eu respeito, embora não concorde."

Morelli, bispo de Duque de Caxias (RJ), e Arns, coordenadora da Pastoral da Criança, têm afirmado que não há planejamento nas ações sociais do governo.

O senador Magno Malta (PL-ES), batista e presidente de uma ONG de apoio a jovens viciados em drogas, disse esperar que Patrus tenha a "sensibilidade" de ouvir os evangélicos. "Assim como a Igreja Católica, os evangélicos têm o que oferecer. Esperamos continuar sendo ouvidos."

Patrus tem laços históricos com a ala progressista da Igreja Católica. Em Minas, ele preside o Instituto Jacques Maritain, que leva o nome do filósofo francês considerado um dos maiores pensadores da doutrina social da igreja.

Para Ramos, o ministro não pode privilegiar um segmento religioso em detrimento de outro. "Nós, evangélicos, estamos em compasso de espera. Apesar de professar uma religião, ele deve ter consciência que o Estado é leigo [laico]. No Brasil, o Estado é leigo por direito, mas, de fato, prevalece a força da Igreja Católica."

O secretário-geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), d. Odilo Pedro Scherer, discorda das críticas do pastor. Para ele, não se trata de queda-de-braço ou pretensão de controlar os projetos sociais.

O presidente da CNBB, Geraldo Magela, acha que a indicação de Patrus não implicará "subserviência" da igreja ao governo. "Nós vamos continuar colaborando, mas não vamos nos partidarizar." O presidente da CNBB não esconde suas críticas às ações sociais do governo em 2003. "Elas foram muito lentas. Não podemos esperar para amanhã, porque a situação é de emergência."

Para Zilda Arns, da Pastoral da Criança, o governo fracassou no primeiro ano por "falta de planejamento e organização". "Não houve um afastamento [da igreja], mas eu não concordava com alguns pontos. Acho uma besteira grande ficar cobrando notas fiscais [dos beneficiários dos programas sociais]. Espero que o governo confie nos pobres. É tão pouco dinheiro."

Ela avalia que Patrus tem "pé no chão", e que, por isso, deverá ampliar o leque de colaboradores do governo para além de prefeituras e Estados, incluindo maior número de ONGs. "O governo deve saber identificar os bolsões de miséria, mas, para isso, não bastam as prefeituras, ainda mais num ano eleitoral, em que muitas privilegiam cabos eleitorais."

Patrus disse, por meio de sua assessoria, que não pretende discriminar os evangélicos. Afirmou que representa um Estado laico e que, apesar de ser religioso, está aberto ao diálogo com todas as religiões. Afirmou que, quando foi prefeito de Belo Horizonte, nomeou dois secretários evangélicos e que pretende contar com o apoio "ativo" de todas as religiões.

O assessor da Presidência, Frei Betto, nega que a indicação de Patrus seja uma vitória da Igreja Católica. Segundo ele, os evangélicos "não serão prejudicados".
 

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