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07/03/2004 - 09h04

INSS encontra por acaso obra de Picasso

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MARTA SALOMON
da Folha de S.Paulo, em Brasília

Uma mulher desenhada por Pablo Picasso passa os dias debaixo de luzes fluorescentes e em meio à papelada de uma repartição do governo federal.

O desenho é uma das preciosidades do patrimônio do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) localizadas recentemente e quase por acaso.

O historiador Francisco Azevedo tentava recompor o acervo do INSS.
Procurava "Homens numa Jangada", uma tela de Cândido Portinari, da qual só foi encontrada uma reprodução. "Na nossa avaliação, trata-se de um objeto novo colocado numa moldura antiga", escreveu Azevedo num laudo de sua consultoria ao Ministério da Previdência. O quadro original era de 1940. A pedido do instituto, a Polícia Federal investiga a hipótese de furto.

Na busca do Portinari, o historiador encontrou o desenho de Picasso numa das salas da administração do INSS em Brasília. Sob a moldura, havia restos de insetos e uma segunda assinatura do artista espanhol, que indicaria a autenticidade da obra. "Não fazemos idéia do que pode ter sido perdido", afirma o historiador.

O trabalho de rastreamento das obras se torna complicado por causa de uma antiga regra do patrimônio da União. Na lista dos bens numerados, não apareciam detalhes da peça nem de sua autoria, mas apenas a indicação "obra de arte de vulto histórico".

A moldura encontrada com a reprodução de "Homens numa Jangada", por exemplo, levava duas plaquinhas do patrimônio: 7332-Ipase e 004.206-INSS.

"Nem sabemos se o Portinari está realmente desaparecido", disse o coordenador-geral de logística do INSS, Cantídio Mundin Neto. Parte das obras localizadas do acervo está num depósito no prédio da diretoria do órgão. Outras peças do Museu da Previdência, fechado há cinco meses, estão armazenadas numa empresa transportadora.

Pendurada desde o final do ano passado numa das salas da diretoria do instituto próxima de uma fotografia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a mulher de Picasso ainda aguarda um destino melhor. "A sensibilidade para a arte nem sempre foi o forte na administração pública, mas não podemos perder uma riqueza dessas", observa o ministro Amir Lando (Previdência), disposto a negociar um lugar mais seguro para as obras, onde elas possam ser expostas ao público.

Há atualmente uma mostra com 126 trabalhos de Picasso em cartaz em São Paulo, no parque do Ibirapuera. A exposição prossegue até o dia 2 de maio.

As principais obras de arte do INSS faziam parte da coleção particular de Tomás Santa Rosa, comprado pelo antigo instituto de Previdência, o Ipase, em 1957, ano seguinte ao da morte do artista plástico pernambucano. Santa Rosa trabalhou como auxiliar de Portinari, que também foi seu padrinho de casamento.

No início dos anos 50, Santa Rosa passou uma temporada na Europa, época em que teria se encontrado com Picasso e comprado um de seus desenhos.

Além do desenho da mulher de braços cruzados e dos indícios de uma tela de Portinari, a coleção de Santa Rosa também reúne pinturas a óleo do também pernambucano Augusto Rodrigues, telas do próprio Santa Rosa e outras de autoria desconhecida.

O Museu Santa Rosa --destino original da coleção-- foi extinto. As obras passaram para o também extinto INPS no final dos anos 60 e viajaram para Brasília já nos anos 90, quando a direção do INSS mudou-se para a capital.
 

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