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14/03/2004 - 07h45

Para governo, nova revelação acirra crise

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da Folha de S.Paulo, em Brasília

A revelação de dirigentes da GTech, de que a renovação do contrato da multinacional com a Caixa Econômica Federal foi intermediada por Waldomiro Diniz e teve como moeda de troca a contratação da empresa de consultoria de Rogério Tadeu Buratti, foi classificada ontem de "grave" pela cúpula do governo.

Em sua primeira avaliação das novas acusações contra o ex-subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência, assessores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva acreditam que elas vão esquentar novamente a crise e alimentar a avaliação de que Waldomiro não estava agindo sozinho.

Anteontem, em depoimento à Polícia Federal e ao Ministério Público, o diretor de marketing da GTech do Brasil, Marcelo Rovai, e o ex-presidente da empresa Antonio Carlos Lino Rocha disseram que, durante as negociações para renovar o contrato com a Caixa, Waldomiro pediu a contratação da consultoria de Buratti, ex-secretário de governo de Ribeirão Preto (SP) na primeira gestão do ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) como prefeito da cidade, entre 1993 e 1996.

A maior preocupação de Lula é que o escândalo agora pode passar a envolver os seus dois principais ministros: José Dirceu (Casa Civil), ex-chefe de Waldomiro, e Palocci. O presidente foi informado do caso apenas ontem.

Palocci não quis comentar ontem o aparecimento do nome do antigo assessor no escândalo envolvendo Waldomiro, exonerado do governo federal em 13 de fevereiro, após aparecer numa gravação feita em 2002, quando presidia a Loterj (Loteria do Estado do Rio de Janeiro) na gestão Benedita da Silva (PT), cobrando propina de um empresário de jogos.

Em nome da Gtech, Rocha e Rovai estiveram à frente da renegociação do polêmico contrato com a Caixa para o processamento online de dados das lotéricas.

No depoimento, eles insistem em que não prosperou o pedido de contratação da consultoria de Buratti ou nenhuma outra forma de pagamento de propina a Waldomiro ou ao ex-secretário. Mas dizem que a assinatura da prorrogação por 25 meses, finalmente sacramentada em 14 de abril, chegou a ser adiada por duas vezes enquanto o ex-assessor do Planalto insistia em intermediar a negociação e na contratação de Buratti.

Segundo o depoimento dos dirigentes da GTech, Waldomiro sugeriu a contratação do ex-secretário num encontro em 31 de março de 2003. O ex-assessor, relatam os depoentes, teria dito que Buratti os iria procurar, o que de fato ocorreu. No encontro entre o ex-secretário e os dirigentes da GTech, Buratti teria feito o pedido de um acerto de valor impreciso --seria algo entre R$ 15 milhões e R$ 20 milhões-- para que o contrato da Caixa fosse renovado.

Ainda segundo os depoimentos, Buratti teria aceitado fechar um acordo por R$ 6 milhões, mas que nunca chegou a ser honrado porque a matriz da GTech nos EUA teria vetado o negócio por causa da legislação americana, que impede a contratação de consultorias que tenham relacionamentos com os governos atendidos pela empresa multinacional.

Mais tarde, já com a renovação de contrato com a Caixa assinada em 14 de abril, Waldomiro teria sugerido a contratação de outro consultor pela GTech, já que a empresa teria vetado Buratti. Na versão dos dirigentes, o novo nome também foi descartado.

A Caixa continua alegando que a renovação do contrato com a GTech não sofreu nenhum tipo de intermediação ou interferência de pessoas estranhas à burocracia do banco estatal. Por meio de sua assessoria de imprensa, a instituição afirmou que não tem conhecimento do conteúdo dos depoimentos de Rocha e Rovai e que eventuais adiamentos da assinatura da prorrogação de contrato com a Gtech teriam decorrido exclusivamente do cronograma de negociações técnicas da própria Caixa Econômica Federal.

A Folha não conseguiu localizar ontem Paulo Bretas, vice-presidente da Caixa. Nos depoimentos à Polícia Federal e ao Ministério Público, ele aparece como autor de telefonema comunicando que a assinatura da renovação do contrato com a GTech enfrentava problemas no mesmo momento em que Waldomiro insistia em ser intermediário do negócio.

Ligado ao PT, Bretas já afirmou, em entrevista, que Waldomiro não tinha procuração para negociar a prorrogação do contrato. Para Bretas, o ex-assessor teria agido "na condição de gaiato".

Uma das hipóteses em investigação pela PF e pelo Ministério Público é que a Caixa pode ter adiado por duas vezes a assinatura da renovação do contrato com a GTech à espera de um fechamento de acordo entre a multinacional e a consultoria de Buratti, o que a instituição nega.
 

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