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21/03/2004 - 06h40

Ex-seminarista, Buratti hoje tem patrimônio de R$ 1,4 mi

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RUBENS VALENTE
enviado especial da Folha de S.Paulo a Ribeirão Preto

A vida do ex-seminarista Rogério Tadeu Buratti, 41, --acusado por executivos da empresa de informática GTech Brasil de envolvimento com o escândalo Waldomiro Diniz-- se divide em duas.

O auge da primeira é o ano de 1992, quando Buratti chegou a Ribeirão Preto guiando um Fusca ano 79, adquirido do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de São Bernardo do Campo, para integrar a vitoriosa campanha do candidato do PT, Antonio Palocci Filho, em uma das prefeituras mais ricas do interior paulista.

Modesto, o ex-seminarista era um típico quadro da burocracia petista dos anos 80, que vivia do e para o partido. Vinha para "ajudar a construir o partido", como dizia o jargão da militância.

Embora já tivesse assessorado dois pesos pesados do partido, os atuais ministros Antonio Palocci Filho (Fazenda) e José Dirceu (Casa Civil), Buratti se aproximava dos 30 anos de idade com pouquíssimos bens.

Em 1994, durante uma sessão pública na Câmara Municipal de Ribeirão Preto, Buratti narrou, em três linhas, o patrimônio de que dispunha no dia 1º de janeiro de 1993, quando tomou posse como secretário de Governo do então prefeito Antonio Palocci Filho: R$ 13 mil (uma Belina ano 84, um Fiat Prêmio ano 86 e um Fiat 147 ano 80).

A virada

A virada na história de Buratti começou no final de 1994, quando deixou a Prefeitura de Ribeirão Preto "a pedido", depois de a Folha ter divulgado a transcrição de uma fita gravada pelo próprio Buratti, na qual falava sobre favorecimento para grupos de empreiteiras da cidade em licitações de obras publicas.

Fora da prefeitura, Buratti montou uma empresa de consultoria, a Assessorarte, que hoje está em nome de sua irmã, Rosângela. Logo passou a trabalhar para uma das maiores empresas da região, a Leão Leão, que em 2003 teve um faturamento de R$ 170 milhões e empregou 1.900 funcionários.

A empreiteira mantém contratos com prefeituras do PT e de outros partidos na coleta de lixo e construção civil e foi a principal contribuinte da campanha de Palocci Filho em 2000.

Em dez anos, o patrimônio de Buratti teve um salto espetacular. Os R$ 13 mil viraram aproximadamente R$ 1,4 milhão, segundo levantamento feito pela Folha nos últimos quatro dias em cartórios de registros de imóveis e dados colhidos pelo Ministério Publico de Ribeirão Preto.

O Fusca fica

Daquele Buratti dos carros usados só existe um traço: o Fusca 79, que até hoje ele mantém. Buratti tem três carros 2003 (um Santana, um Corolla SGE e um Nissan Frontier), uma moto Kawasaki de 800 cilindradas, ano 2002, circula num Ômega vinho australiano (que não está em seu nome) e vive num dos condomínios fechados mais caros da cidade, o Country Village. Mudou-se para lá há duas semanas, coincidentemente um dia antes de a imprensa divulgar o teor dos depoimentos dos executivos da Gtech prestados à Polícia Federal em Brasília.

Corretores de imóveis consultados pela reportagem indicam que um terreno nas dimensões do adquirido por Buratti não vale menos de R$ 500 mil (a escritura fala em R$ 30 mil). O valor de uma casa no local oscila entre R$ 1,2 milhão e R$ 3,5 milhões. Só de condomínio, R$ 500 mensais.

Outros R$ 500 mensais Buratti gasta como sócio de um clube de tênis que atende a 312 associados da elite de Ribeirão, incluindo o ex-prefeito e empreiteiro Luis Roberto Jabali (PSDB) e os Biagi, uma rica família de usinas de álcool e fábrica de refrigerantes.

Rogério Buratti tem aparecido pouco no clube, pois passa a maior parte da semana em São Paulo, no escritório da Leão Leão. Perde a chance de freqüentar quatro quadras de tênis, sauna, piscinas e restaurante.

Em nome de Buratti há outro terreno, avaliado em R$ 80 mil, num local valorizado da cidade, o loteamento Royal Park. Ele o comprou da própria Leão Leão.

O contador

Segundo o contador José Henrique Barreira, que cuida das finanças da empresa de Buratti, a BBS Consultores Associados, seu cliente emite anualmente entre R$ 200 mil e R$ 300 mil em notas fiscais. É a única empresa ativa e regular de Buratti.

O grosso do movimento são serviços prestados a Leão Leão (Buratti não é funcionário contratado, usa a BBS para ser remunerado), onde exerce as funções de vice-presidente.

Barreira explicou que o ex-secretário, advogado por formação, também é contador. Buratti prepara suas próprias declarações de Imposto de Renda.
 

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