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28/03/2004
-
08h14
FABIO SCHIVARTCHE
da Folha de S.Paulo
A globalização, processo de integração da economia mundial que começou na metade do século passado, está agravando um problema que, em tese, estaria enterrado nos livros de história: a exploração do trabalho escravo.
A análise é de Roger Plant, chefe do Programa Internacional de Combate ao Trabalho Escravo da OIT (Organização Internacional do Trabalho) e um dos maiores especialistas do assunto no mundo. Ele está no Brasil para participar nesta semana de seminário no Tribunal Superior do Trabalho.
Por telefone, de Genebra (Suíça), ele disse à Folha que a pressão das empresas multinacionais nos mercados de trabalho de países subdesenvolvidos está provocando um aumento da exploração de trabalho análogo à escravidão.
Inglês de 56 anos, Plant já visitou o Brasil várias vezes e elogiou as ações do governo Lula, mas disse que o número de explorados pode ser maior que os 25 mil admitidos oficialmente.
Folha - Em que países o trabalho escravo é mais grave?
Roger Plant - Naqueles onde o Estado é diretamente responsável pelo trabalho forçado. Mianmar [antiga Birmânia] é um desses casos. Mas isso não significa que países vizinhos na Ásia estejam em situação melhor. Estamos falando de problemas estruturais, ligados à globalização.
Folha - A globalização agrava o trabalho escravo no mundo?
Plant - Sim. Com a abolição de fronteiras, empresas investem em países onde o trabalho é mais barato, forçando produtores a reduzir custos. A primeira tentação do produtor é diminuir o preço da mão-de-obra, indo a regiões afastadas onde o uso de trabalho análogo à escravidão não é visto e muito menos punido. Enquanto isso, os países industrializados estão impondo mais barreiras para a migração legal, mesmo sabendo que há grande demanda por serviços para os potenciais migrantes. Quando há um desequilíbrio entre a oferta e a demanda de mão-de-obra nos subempregos é que o tráfico entra com força e explora o fato de que milhares de pessoas querem deixar seus países em busca de trabalho.
Folha - O combate ao trabalho escravo aqui melhorou com Lula?
Plant - Eu diria que sim. Pelas declarações do presidente, há um compromisso muito ambicioso e corajoso de erradicar toda forma de trabalho escravo até 2007. Mas é difícil combater o problema em áreas remotas da Amazônia. Há indivíduos poderosos envolvidos.
Folha - O crescente desemprego empurra a população pobre para a escravidão?
Plant - O desemprego pode alimentar o trabalho escravo, mas não pode ser visto como responsável direto. Pessoas em situação vulnerável de pobreza podem estar mais aptas a aceitar qualquer oferta de trabalho.
Folha - Há dois meses, três fiscais que apuravam denúncia de trabalho escravo foram assassinados em Unaí (MG). Ainda não há suspeitos. A impunidade agrava o problema?
Plant - Até onde sabemos, o governo está se esforçando para resolver o crime e punir os responsáveis. O governo FHC falava em 3.000 escravos no Brasil. Agora, dizem que há 25 mil. Ninguém mentiu. Mas quanto mais as equipes de fiscalização procurarem, mais vão encontrar.
Folha - O número pode ser maior que esses 25 mil?
Plant - Sim, pode crescer. Acabei de voltar da Rússia, onde descobrimos imigrantes ilegais das ex-repúblicas soviéticas em diversas formas de trabalho forçado. São 1 milhão de pessoas. No Paquistão, há centenas de milhares.
Folha - Especialistas defendem a aprovação de legislação que expropria terras nas quais for constatada prática de trabalho escravo. O senhor concorda com a medida?
Plant - É uma decisão de cada país. Mas é necessário que se achem maneiras de punir.
Folha - Que outras maneiras o senhor sugere?
Plant - Num país como o Brasil, com alto índice de pobreza, dar terra a quem foi explorado pode ser importante para a reintegração deles e evitar que sejam novamente arregimentados pelos exploradores. Essas pessoas precisam de novas chances.
Globalização ajuda a agravar trabalho escravo, diz OIT
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da Folha de S.Paulo
A globalização, processo de integração da economia mundial que começou na metade do século passado, está agravando um problema que, em tese, estaria enterrado nos livros de história: a exploração do trabalho escravo.
A análise é de Roger Plant, chefe do Programa Internacional de Combate ao Trabalho Escravo da OIT (Organização Internacional do Trabalho) e um dos maiores especialistas do assunto no mundo. Ele está no Brasil para participar nesta semana de seminário no Tribunal Superior do Trabalho.
Por telefone, de Genebra (Suíça), ele disse à Folha que a pressão das empresas multinacionais nos mercados de trabalho de países subdesenvolvidos está provocando um aumento da exploração de trabalho análogo à escravidão.
Inglês de 56 anos, Plant já visitou o Brasil várias vezes e elogiou as ações do governo Lula, mas disse que o número de explorados pode ser maior que os 25 mil admitidos oficialmente.
Folha - Em que países o trabalho escravo é mais grave?
Roger Plant - Naqueles onde o Estado é diretamente responsável pelo trabalho forçado. Mianmar [antiga Birmânia] é um desses casos. Mas isso não significa que países vizinhos na Ásia estejam em situação melhor. Estamos falando de problemas estruturais, ligados à globalização.
Folha - A globalização agrava o trabalho escravo no mundo?
Plant - Sim. Com a abolição de fronteiras, empresas investem em países onde o trabalho é mais barato, forçando produtores a reduzir custos. A primeira tentação do produtor é diminuir o preço da mão-de-obra, indo a regiões afastadas onde o uso de trabalho análogo à escravidão não é visto e muito menos punido. Enquanto isso, os países industrializados estão impondo mais barreiras para a migração legal, mesmo sabendo que há grande demanda por serviços para os potenciais migrantes. Quando há um desequilíbrio entre a oferta e a demanda de mão-de-obra nos subempregos é que o tráfico entra com força e explora o fato de que milhares de pessoas querem deixar seus países em busca de trabalho.
Folha - O combate ao trabalho escravo aqui melhorou com Lula?
Plant - Eu diria que sim. Pelas declarações do presidente, há um compromisso muito ambicioso e corajoso de erradicar toda forma de trabalho escravo até 2007. Mas é difícil combater o problema em áreas remotas da Amazônia. Há indivíduos poderosos envolvidos.
Folha - O crescente desemprego empurra a população pobre para a escravidão?
Plant - O desemprego pode alimentar o trabalho escravo, mas não pode ser visto como responsável direto. Pessoas em situação vulnerável de pobreza podem estar mais aptas a aceitar qualquer oferta de trabalho.
Folha - Há dois meses, três fiscais que apuravam denúncia de trabalho escravo foram assassinados em Unaí (MG). Ainda não há suspeitos. A impunidade agrava o problema?
Plant - Até onde sabemos, o governo está se esforçando para resolver o crime e punir os responsáveis. O governo FHC falava em 3.000 escravos no Brasil. Agora, dizem que há 25 mil. Ninguém mentiu. Mas quanto mais as equipes de fiscalização procurarem, mais vão encontrar.
Folha - O número pode ser maior que esses 25 mil?
Plant - Sim, pode crescer. Acabei de voltar da Rússia, onde descobrimos imigrantes ilegais das ex-repúblicas soviéticas em diversas formas de trabalho forçado. São 1 milhão de pessoas. No Paquistão, há centenas de milhares.
Folha - Especialistas defendem a aprovação de legislação que expropria terras nas quais for constatada prática de trabalho escravo. O senhor concorda com a medida?
Plant - É uma decisão de cada país. Mas é necessário que se achem maneiras de punir.
Folha - Que outras maneiras o senhor sugere?
Plant - Num país como o Brasil, com alto índice de pobreza, dar terra a quem foi explorado pode ser importante para a reintegração deles e evitar que sejam novamente arregimentados pelos exploradores. Essas pessoas precisam de novas chances.
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