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08/08/2004 - 08h55

Urna eletrônica ajuda menos escolarizados

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FLÁVIA MARREIRO
da Folha de S.Paulo

Atacada em sua implantação-- quando se falou em fraudes e do impacto da exclusão social no voto--, a urna eletrônica se redimiu: além de diminuir a quantidade de votos não válidos, dado já conhecido, agora se sabe, em São Paulo, onde a redução foi maior: nos locais que possuem as menores médias de escolaridade do chefe de domicílio.

O dado é de uma pesquisa do Centro de Estudos da Metrópole do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), que ainda está em curso.

Com base na comparação entre as votações para governador na cidade em 1994 --a urna eletrônica não havia sido implantada-- e em 1998, já com o novo equipamento, o estudo mostra que a melhora percentual dos índices de votos válidos foi tanto maior quanto menor são os índices de escolaridade da região. Um mapa foi construído cruzando dados dos distritos censitários com as informações da Justiça Eleitoral.

No geral, de uma eleição para outra, o voto não válido (reúne brancos e nulos) caiu de 19,07% para 10,53% do total --quase a metade.

Tendo às mãos o desenho do voto gerado pela pesquisa vê-se que em Parelheiros (extremo sul da cidade), de 94 para 98, o voto não válido recuou 17 pontos percentuais. No Itaim Bibi, área de elite, a redução não chegou a 1 ponto percentual na comparação (leia quadro nesta página).

No primeiro bairro, a média de anos de estudo do chefe da família é de apenas 5,45 anos. No distrito mais rico, 12,45 anos. A média da cidade é de 8,1 anos.

Para o cientista político Fernando Limongi, que orienta a pesquisa no Cebrap, as razões estão na dificuldade do uso da cédula convencional. Sem cores ou qualquer símbolo de identificação --só com palavras e números-- o papel era um obstáculo para o eleitor menos escolarizado. "Nós fomos atrás da pista lançada por Jairo Nicolau e vimos o que aconteceu em São Paulo", diz.

Limongi faz referência ao trabalho do cientista político do Iuperj, que em 2002 publicou "História do Voto no Brasil" (Editora Jorge Zahar). Lá, Nicolau ligava a quantidade de votos não válidos à dificuldade de votar, e não só à descrença no sistema político.

"Antes, não se prestava atenção nisso. Agora vamos olhar outros países, sobretudo os com nível de escolaridade como o nosso, e vemos como o nosso modelo era complicado. Eles recorrem a cores, a símbolos", compara Limongi.

Antecedentes

Até chegar à instalação universal da urna eletrônica, em 2000, o voto no país passou por várias fases. Até a década de 50, não havia sequer a cédula oficial. Cada eleitor tinha de levar a sua própria para votar. "O santinho do candidato é que virava a cédula. Isso facilitava muito o chamado voto de cabresto. O eleitor votava em um partido só de alto a baixo", explica o pesquisador. Com a padronização-- e a dificuldade-- o Brasil virou um um dos campeões mundiais do voto não válido. Segundo dados de Nicolau, a média de votos anulados nas quatro eleições legislativas pós-regime militar (86, 90, 94 e 98) é de 33% --a média de outras democracias com voto obrigatório é de 7%.

Em São Paulo, em 98, já com o equipamento, a eleição para deputado federal teve 14,35% dos votos não válidos.

Especial
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