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12/08/2004 - 06h23

PT discutiu tática na CPI para preservar compadre de Lula

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RUBENS VALENTE
da Folha de S.Paulo
ANDRÉA MICHAEL
da Folha de S.Paulo, em Brasília

Um diálogo captado pela TV Senado, logo após uma sessão da CPI do Banestado, revela que integrantes petistas da comissão estudaram uma maneira de retaliar a possível convocação, para depoimento, do advogado Roberto Teixeira, compadre do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A conversa foi gravada em 23 de junho último na sala de reuniões da CPI, sem que os petistas soubessem que as câmeras e microfones da TV estavam abertos. Participaram o relator da comissão, José Mentor (PT-SP), a senadora Serys Slhessarenko (PT-MT) e o deputado federal Eduardo Valverde (PT-RO).

A pedido da Folha, o diálogo, travado em voz baixa e com trechos ainda inaudíveis, foi degravado ontem pelo perito Ricardo Molina, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

No diálogo, o relator da comissão, José Mentor, qualifica Teixeira como "compadre do Lula (...), e é meu amigo".

O relator indicou ter material suficiente para tomar depoimentos de pessoas relacionadas ao presidente da comissão, o senador Antero Paes (PSDB-MT), com quem trava uma batalha política na comissão.

"Eu tenho um caminhão! É que eu não quero fazer desse jeito, nós não vamos desse jeito, vamos fazer de outro jeito", disse Mentor, referindo-se à estratégia a ser adotada contra os tucanos.

"Nós vamos convocar o pessoal dele [do senador Antero] também", afirma o deputado Eduardo Valverde. Mentor então tenta tranqüilizar seus colegas petistas sobre os rumos da CPI. "Nós [conseguimos] fazer maioria aqui."

Ouvido ontem pela reportagem, Valverde confirmou que a tática do partido é a retaliação na CPI. "É lógico. Se atacar, recebe. É bateu, levou." Ele afirmou que "tem muita coisa" contra o "tucanato e esse pefelê [PFL]".

Procurado pela Folha, Mentor disse se recordar de ter usado a expressão "caminhão" em conversa com os colegas, mas preferiu não fazer mais comentários antes de ter acesso e ouvir a fita. "Eu preciso me recordar do contexto em que eu falei", afirmou.

Remessas

O nome do advogado Roberto Teixeira, 60, apareceu nas investigações sobre o Banestado (Banco do Estado do Paraná) porque ele defende o empresário Antonio Celso Cipriani, 57, proprietário da Transbrasil, e também integrou o conselho de administração da empresa de aviação de São Paulo. Ela quebrou em 2001, deixando R$ 910 milhões em dívidas.

Roberto Teixeira não é investigado formalmente pela CPI nem teve sigilos quebrados -sua convocação era pedida pelo senador Arthur Virgílio (PSDB-AM).

De acordo com o laudo da Polícia Federal número 675, do ano passado, o irmão de Cipriani e ex-conselheiro fiscal da Transbrasil, Emídio Cipriani, aparece como beneficiário de US$ 1,51 milhão depositados em contas dos bancos United National de Miami e First Union Jax, nos Estados Unidos. As transferências, de acordo com o laudo, foram feitas por meio de empresas de doleiros brasileiros, como a June International, controlada pelo megadoleiro do Paraná Alberto Youssef.

Além disso, de acordo com ofício entregue à comissão pelo presidente da CPI, senador Antero, Antonio Cipriani estaria relacionado à movimentação de US$ 35 milhões no exterior por meio da empresa Beacon Hill Service, que teve suas portas fechadas no ano passado após a Promotoria de Nova York (EUA) apontar fraudes financeiras.

Bate-boca

Antonio Cipriani teve seu sigilo bancário quebrado por determinação da CPI, em fevereiro último. Por duas vezes, Mentor tentou inutilmente impedir a quebra do sigilo, alegando que a apuração não poderia "pinçar nomes".

Na sessão que antecedeu o diálogo gravado pela TV Senado, houve um intenso bate-boca entre Mentor e o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) a respeito do advogado Roberto Teixeira.

"Gostaria de não ver mais aqui apadrinhamento a "seu" [Antonio] Cipriano [sic]. Gostaria de não ver mais aqui apadrinhamento ao "seu" Roberto Teixeira. É hora de passarmos a limpo. É ladrão, é para botar aqui e de fato execrar o ladrão, pertença a que partido pertencer", disse Virgílio.

A reação do relator, indicado para a função pelo Palácio do Planalto, foi imediata: "Vossa Excelência está chamando alguém de ladrão? Vossa Excelência está chamando Roberto Teixeira de ladrão?", perguntou Mentor, insistindo para que ele assinasse um documento com a acusação.

Ante a recusa de Virgílio, o relator afirmou: "Vossa Excelência não assina porque não sabe como acusá-lo. (...) Vossa Excelência é leviano. Não assina".

Teixeira e o presidente Lula são amigos desde, pelo menos, a década de 80. Durante anos, Lula morou numa casa emprestada por Teixeira, em São Bernardo do Campo (SP). Em meados da década de 90, Teixeira foi acusado por militantes do próprio PT de fazer lobby nas administrações petistas para contratações, sem licitação, da empresa de consultoria Cpem.

Em 19 de junho, Lula foi o convidado de honra do casamento de uma filha de Teixeira em Monte Alegre do Sul (120 km de São Paulo). Isso ocorreu quatro dias antes da gravação da conversa de Mentor na CPI do Banestado.

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