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21/08/2004
-
08h27
da Folha de S.Paulo, em Brasília
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desistiu de viajar ontem para Gramado (RS), onde termina hoje a 32ª edição do mais tradicional festival de cinema do país, para evitar eventuais críticas da classe artística ao projeto da Ancinav (Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual).
A viagem foi cancelada de última hora, após a avaliação de que, se não fossem críticas à Ancinav e eventuais vaias ao presidente, Lula poderia ser vítima de um grande lobby para mudar o projeto. Na dúvida, preferiu não arriscar.
O presidente, que chegou na quinta-feira de madrugada de uma viagem à República Dominicana e ao Haiti, teve reunião ontem com a cúpula do governo na qual foi feita a avaliação de que alguns desgastes da gestão petista poderiam ter sido evitados.
Um deles, na opinião do Palácio do Planalto, foi o projeto da Ancinav, classificada como dirigismo cultural. Na versão do governo, o vazamento de uma proposta que ainda estava em discussão gerou uma polêmica desnecessária e que se combinou a outras.
Declarações recentes de Lula tidas como desastradas, como chamar jornalistas de "covardes" por não apoiar o projeto de criação do CFJ (Conselho Federal de Jornalista), também foram avaliadas como desgastes desnecessários. Daí o presidente ter tido a preocupação de evitar a ida a Gramado no meio dessas polêmicas.
Tema inevitável
Os principais produtores, diretores e atores de cinema e TV do país participam do Festival de Gramado. O assunto Ancinav seria tema inevitável, segundo avaliação do governo. A principal crítica da categoria ao projeto diz respeito a um suposto dirigismo cultural. O ministro da Cultura, Gilberto Gil, foi orientado por Lula a negociar com a classe artística. Gil disse que sabia o que ela não queria, mas que chegar a um acordo poderia ser difícil.
Num sinal de boa vontade, Gil já propôs retirar do projeto o artigo 43, que dá poder à Ancinav para "dispor sobre a responsabilidade editorial e as atividades de seleção e direção da programação" das televisões. Numa reunião já marcada para depois do Festival de Gramado, o Ministério da Cultura pretende discutir uma nova redação para esse trecho do projeto.
No entender de boa parte da classe artística, o artigo 43 tem caráter dirigista e intervencionista por abrir caminho à censura da programação das TVs.
Especial
Arquivo: veja o que já foi publicado sobre o projeto de criação da Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual (Ancinav)
Reação ao projeto da Ancinav faz Lula desistir de Gramado
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desistiu de viajar ontem para Gramado (RS), onde termina hoje a 32ª edição do mais tradicional festival de cinema do país, para evitar eventuais críticas da classe artística ao projeto da Ancinav (Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual).
A viagem foi cancelada de última hora, após a avaliação de que, se não fossem críticas à Ancinav e eventuais vaias ao presidente, Lula poderia ser vítima de um grande lobby para mudar o projeto. Na dúvida, preferiu não arriscar.
O presidente, que chegou na quinta-feira de madrugada de uma viagem à República Dominicana e ao Haiti, teve reunião ontem com a cúpula do governo na qual foi feita a avaliação de que alguns desgastes da gestão petista poderiam ter sido evitados.
Um deles, na opinião do Palácio do Planalto, foi o projeto da Ancinav, classificada como dirigismo cultural. Na versão do governo, o vazamento de uma proposta que ainda estava em discussão gerou uma polêmica desnecessária e que se combinou a outras.
Declarações recentes de Lula tidas como desastradas, como chamar jornalistas de "covardes" por não apoiar o projeto de criação do CFJ (Conselho Federal de Jornalista), também foram avaliadas como desgastes desnecessários. Daí o presidente ter tido a preocupação de evitar a ida a Gramado no meio dessas polêmicas.
Tema inevitável
Os principais produtores, diretores e atores de cinema e TV do país participam do Festival de Gramado. O assunto Ancinav seria tema inevitável, segundo avaliação do governo. A principal crítica da categoria ao projeto diz respeito a um suposto dirigismo cultural. O ministro da Cultura, Gilberto Gil, foi orientado por Lula a negociar com a classe artística. Gil disse que sabia o que ela não queria, mas que chegar a um acordo poderia ser difícil.
Num sinal de boa vontade, Gil já propôs retirar do projeto o artigo 43, que dá poder à Ancinav para "dispor sobre a responsabilidade editorial e as atividades de seleção e direção da programação" das televisões. Numa reunião já marcada para depois do Festival de Gramado, o Ministério da Cultura pretende discutir uma nova redação para esse trecho do projeto.
No entender de boa parte da classe artística, o artigo 43 tem caráter dirigista e intervencionista por abrir caminho à censura da programação das TVs.
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