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10/09/2004 - 19h54

Análise: Erundina, a professora

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ELIANE CANTANHÊDE
Colunista da Folha de S.Paulo

A candidata do PSB à Prefeitura de São Paulo, Luiza Erundina, 69, considerou os concorrentes Marta Suplicy (PT) e Paulo Maluf (PP) "iguaizinhos", criticou a corrupção, falou da licitação do lixo na gestão Marta e jogou José Serra (PSDB) no meio: "E os "vampiros" da Saúde? Ele também tem responsabilidade".

Tudo isso foi hoje (10) na estréia das sabatinas que a Folha faz até a próxima quarta-feira (15) com os candidatos paulistanos. Erundina foi a primeira, depois vêm Maluf, na segunda-feira; Serra, na terça; e Marta, na quarta, encerrando o ciclo.

Ao contrário dos debates entre candidatos nas TVs, em que tudo é muito rígido, controlado e fica parecendo uma grande encenação teatral, o formato de sabatina permite maior compreensão do que é e do que pensa o candidato.

Foi assim com Erundina, que se apresenta como "mulher, nordestina e pobre" e destilou durante duas horas uma enorme qualidade e um imenso defeito: a força do caráter, da credibilidade, maculada por um ressentimento que ela nem faz questão de dissimular.

Bons motivos não faltam. Erundina que foi petista e se mudou para o PSB, disse que se identifica até hoje com o velho PT e que, se alguém mudou, não foi ela: "Eu não me afastei do PT, o PT é que se afastou do PT", disse ela, sob aplausos isolados de assessores e amigos. Depois, acrescentou: "Marta não é o PT".

Erundina lembrou que, ao ser eleita prefeita de São Paulo, em 1988, não era a candidata dos "capas pretas" do então seu partido, que preferiam Plínio de Arruda Sampaio, homem, paulistano e intelectual. Mas foi a escolhida pelas bases militantes e acabou eleita. "E o PT nunca me engoliu", disse, contando as agruras que passou com o próprio partido durante o mandato, até concluir que "não era prefeita do PT, mas da cidade".

Por isso, Erundina acabou mudando para o PSB e, hoje, é uma adversária dura e implacável de Marta Suplicy. Mas não fica só nisso. Se o discurso contra o PT e Marta vai até à acusação de corrupção no caso do lixo e no aliciamento de votos na Câmara Municipal de São Paulo, ela também não aliviou ao falar no outro candidato favorito para chegar ao segundo turno, José Serra.

A candidata do PSB só faltou repetir, ao pé da letra, a acusação de que "são todos iguais, farinha do mesmo saco". O que, evidentemente, não são. Dá para dizer que Maluf é igualzinho a Marta e a Serra? Eu não diria isso.

Muito crítica contra os vícios da política brasileira, Erundina defendeu uma reforma política drástica, com voto distrital misto e fundo público para pagar as campanhas. Foi como tentou escapulir de uma pergunta incômoda, que todos se fazem e que a bancada de entrevistadores da Folha _coordenada por Clóvis Rossi, que dispensa apresentações_ competentemente fez e repetiu: do alto de tanta pureza, como é que ela foi fazer aliança justamente com Orestes Quércia, do PMDB, com quem sempre trocou acusações, algumas bem pesadas?

Em diversos momentos da sabatina, que foi realizada à tarde, no Teatro Folha (Shopping Higienópolis), Erundina disse que as alianças dos outros são sempre questionáveis e, no mínimo, oportunistas. Mas as dela própria são com base em "compromissos". Em caso de não ir ao segundo turno, por exemplo, ela admitiu que faria alianças "não com pessoas, mas com compromissos em cima de idéias e programas".

Não conheço muito os problemas da cidade em si, mas ela me pareceu consistente ao falar sobre eles. Defendeu a troca de empresas terceirizadas por pessoas da comunidade para serviços simples (como limpeza de córregos ou distribuição de pães nas escolas), falou sobre transportes e criticou os Ceus de Marta. Segundo ela, eles custam R$ 20 milhões, consomem R$ 500 mil de manutenção por mês e atendem um universo pequeno. O importante, defendeu Erundina, é "a universalização da educação".

Ela também acha que políticas de Marta para distribuir uniformes e ônibus escolares é boa, mas não retirando as verbas dos 25% vinculados por lei para a Educação. Nesse caso, ensinou: educação é uma coisa, políticas assistencialistas (uniformes, etc.) são outra.

Erundina apresentou-se como "candidata e educadora", o que explica muita coisa. A primeira delas é a própria decisão de concorrer, mesmo com chances remotas de vitória. Erundina quer passar uma mensagem de transparência, de mudança, de novos parâmetros na política. A segunda é o ressentimento e a necessidade de colocar os pontos nos "i" em vários aspectos de sua gestão na Prefeitura. Ela está sempre lembrando como foi duro suportar as críticas e as baixarias do próprio PT contra ela.

Com tanta ênfase ao bater nos adversários, o duro é saber com quem ela vai se aliar, se é que vai, no segundo turno. A julgar pela sabatina, não seria com ninguém. Mas a política é a política. E nem Erundina consegue reinventar essa roda. A aliança com Quércia já diz tudo.

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