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24/09/2004 - 09h16

Maluf usa imagens de Recife para atacar Serra

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LILIAN CHRISTOFOLETTI
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
da Folha de S.Paulo

O programa eleitoral do candidato do PP à Prefeitura de São Paulo, Paulo Maluf, usou no horário eleitoral gratuito de ontem declarações de seis pessoas de Recife para criticar duramente o adversário tucano José Serra.

As pessoas aparecem no final do programa que foi dedicado integralmente a criticar o tucano. Em nenhum momento o programa informa que os entrevistados não são eleitores de São Paulo.

O coordenador de marketing de Maluf, Marcelo Teixeira, disse que isso "não importa", que a reportagem deveria se deter no teor das denúncias.

As acusações contra Serra vão desde ele ter mentido sobre a construção de hospitais e de uma estação de metrô até ele ter dado o calote em um deficiente físico, que teria trabalhado em sua campanha presidencial em 2002.

As falas dos entrevistados são usadas como um desfecho do depoimento de Alexandre Arêas que, numa cadeira de rodas, disse ter levado um "calote" de Serra na eleição de 2002. Ele pergunta: "Se ele dá calote em deficiente físico, meu amigo e minha amiga, o que é que ele pode fazer com você?".

A resposta é dada pelos entrevistados, cujos nomes não são revelados. "Independentemente de ser deficiente físico ou não, acho que o ser humano merece respeito", disse uma mulher. "Tem que pegar uma pessoa dessas e punir, né?", falou um homem.

Em nenhum momento, nos seis depoimentos, o nome de Serra é citado. A pergunta feita para eles também não aparece.

A revelação de que a cena foi gravada em Recife, e não em São Paulo, foi possível graças ao reflexo de um ônibus captado pelo vidro de uma loja, que serviu de fundo para um dos entrevistados.

Em câmera lenta e com a imagem espelhada, lê-se claramente a palavra "Pedrosa" na lateral de um ônibus branco. A viação é de Recife e, segundo a própria empresa, atende a área urbana da capital pernambucana (norte-leste).

Também é de Recife o marqueteiro Marcelo Teixeira, que acumula uma longa trajetória em campanhas petistas.

No final de 2003, Teixeira deixou a conta publicitária com a Prefeitura de São Paulo, da prefeita Marta Suplicy (PT), para entrar na campanha de Maluf. Hoje ele ainda é prestador de serviços para a Prefeitura de Recife, do prefeito João Paulo (PT) --os dois prefeitos são candidatos à reeleição e têm como marqueteiro Duda Mendonça.

Há duas semanas, a Folha publicou que o PT e PP firmaram um pacto de não-agressão a Marta. Em troca, Maluf seria beneficiado dentro dos limites legais na CPI do Banestado, que apura envio de recursos para o exterior.

Maluf não apareceu em nenhum momento do programa. O nome dele também não foi citado.

Ameaça

Maluf afirmou ontem, durante evento de campanha, que recebeu uma ameaça por telefone após o programa ter sido exibido.

"Era um homem e ele disse 'você vai se arrepender de fazer'. Eu respondi: 'Eu não me intimidei nem com o AI-5 nem com o Geisel, não vou me intimidar com ameaça de tucano". Ele não fez boletim de ocorrência. "Para quê?", perguntou Maluf.

Outro lado

O marqueteiro de Paulo Maluf, Marcelo Teixeira, apresentou ontem duas versões sobre a produção do programa eleitoral. Primeiro, disse que as imagens foram gravadas na última segunda, em frente ao escritório de SP.

Ao ser informado sobre a imagem do ônibus de Recife, a ligação foi interrompida. Cerca de duas horas depois, disse que não importava onde as cenas foram filmadas, já que a denúncia não é apenas contra José Serra (PSDB), mas contra o PSDB nacional.

Folha - Marcelo, quando você filmou as cenas do 'povo fala'?
Marcelo Teixeira - A gente botou uma televisão na calçada da produtora aqui. O povo foi passando, vendo e dando o depoimento.

Folha - Na frente da produtora daqui de São Paulo?
Teixeira - É, na própria calçada da produtora. Há outros depoimentos disso para pior.

Folha - Que dia vocês gravaram?
Teixeira - Segunda-feira.

Folha - Marcelo, preste atenção: numa das imagens aparece um ônibus que circula apenas em Recife. Em São Paulo não tem...
A ligação é interrompida. Cerca de duas horas depois Teixeira telefonou para a Redação e disse: "A edição do programa é detalhe. Se eu gravei no Rio de Janeiro, em Recife, em Nova York ou em São Paulo, não interessa. A Folha tem de apurar o conteúdo das denúncias. Quem deve ser investigado é o candidato", disse. O publicitário negou manter ligações com o PT em São Paulo e não revelou o local das gravações.

Colaborou FÁBIO GUIBU, da Agência Folha em Recife

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