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24/09/2004 - 10h23

SP está fechado para nós, diz empresário mineiro do lixo

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RUBENS VALENTE
Enviado especial da Folha de S.Paulo a Ribeirão Preto
ROGÉRIO PAGNAN
da Folha de S.Paulo, em Ribeirão Preto

As investigações do Ministério Público de Ribeirão Preto (SP) sobre a coleta de lixo na região indicam que empresas de outros Estados que tentavam participar de licitações públicas em São Paulo eram abordadas por executivos da empresa Leão Leão para desistir das concorrências ou fazer acordos com a empresa sobre preços e propostas.

A Leão Leão é a maior empresa do ramo na região, com faturamento anual de R$ 200 milhões. Um de seus ex-executivos sob investigação é Rogério Tadeu Buratti, secretário de Antonio Palocci Filho (Fazenda) na sua primeira gestão na Prefeitura de Ribeirão Preto (93-96). Outro executivo, Wilney Barquete, também foi secretário municipal de Palocci.

Localizado ontem pela Folha, pelo telefone, em Belo Horizonte (MG), um dos empresários que teve conversas gravadas durante a investigação, Múcio de Castro Maia, diretor e sócio da empresa Consita Ltda., afirmou que a Leão Leão queria que ele desistisse de participar de uma licitação da Prefeitura de Sertãozinho (SP), de R$ 22,5 milhões.

A Consita tem 3.000 funcionários e opera na coleta de lixo em 20 cidades mineiras. Maia disse que não conseguiu participar da licitação da Prefeitura de São Paulo, mas culpou "o sistema":

Folha - As investigações do Ministério Público de Ribeirão Preto identificaram conversas entre o sr. e representantes da Leão Leão.
Múcio Castro Maia -
O que acontece é que ela [Leão Leão] é uma empresa que mexe com lixo igualmente à nossa. Nós entramos naquela concorrência de Sertãozinho. Então houve algumas ligações de um diretor deles, cujo nome não estou me recordando agora, mas posso lembrar, deixa eu ver, acho que acho o cartão dele aqui... Marcelo Franzine.

Folha - Certo.
Maia -
Então o que eu posso dizer pra você é que o único contato que tive com aquele moço. Então evidentemente pediu, deu aqueles mil argumentos, de que a sede deles parece que é naquela região etc. e pedindo pra gente não entrar [em Sertãozinho], vamos dizer assim. Então a coisa foi mais ou menos assim. Como você chegou ao meu nome?

Folha - Pelas investigações do Ministério Público e da Polícia Civil.
Maia -
Não tenho nada a esconder. Minha empresa é uma empresa de 32 anos pagando impostos e não tem nada a ver com essa confusão aí. E eu não entro nesse negócio de São Paulo. Mesmo porque eles não deixam entrar.

Folha - Eles? A Leão Leão?
Maia -
O sistema não deixa. Para você ter uma idéia, tratando-se da maior empresa de Minas, nós não conseguimos ser habilitados a participar da licitação do lixo da cidade de São Paulo. Essa grande, que está na mídia de vocês.

Folha - Na de Sertãozinho...
Maia -
Nós não entramos. Porque também não tínhamos todos os atestados. Na verdade, eles exigem, eles se cercam de exigências tais que fica difícil para uma firma de fora poder entrar.

Folha - As conversas de Frazine lhe pareceram estranhas...
Maia -
Não, isso não é muito estranho, não. É pedindo preferência. Que "eles estão aí", e que "têm compromissos" etc. E aí você vê o seguinte, a gente não pode sair brigando pra tudo quanto é lado.

Folha - Ele...
Maia -
Ele simplesmente fez um apelo a mim, e eu me reuni com os companheiros aqui, meus sócios, e chegamos à conclusão de que não íamos entrar, não convinha entrar e não entramos.

Folha - Na transcrição o sr. diz: "Nós temos aquela combinação que eu evidentemente mantenho".
Maia -
Essa combinação ele queria dizer o seguinte: na hora em que houvesse um caso similar, em que eu estivesse perto... Por exemplo, a licitação em Belo Horizonte, em outras cidades, eu trabalho em 20 e poucas cidades. Então quando tivesse isso, ele também não entraria. Bastava eu me manifestar que era interesse nosso que ele poderia trocar esse favor. É uma relação comercial que existe entre empresas e dentro desse espírito. Ele não me impediu, mesmo porque não tinha condições de me impedir de entrar. Eu é que avaliei com meus companheiros aqui que não valia a pena.

Folha - No fundo, o sr. teve que fazer o que ele pediu.
Maia -
Seria dar tiro na água. Você há de convir que nossa empresa tem contas a pagar todo mês e não pode gastar sem ter uma previsão de faturamento. Eu achei que era uma luta difícil, que não valia a pena. Eu nunca tive nenhum negócio com a Leão Leão.

Folha - Voltando à licitação de São Paulo. Por que motivo o sr. não conseguiu entrar na licitação?
Maia -
Não consegui porque as exigências eram grandes e minha empresa não tinha... Eu posso até te adiantar o que é. Em São Paulo tem meia dúzia ou pouco mais que isso de aterros autorizados. Esse aterros, a maioria, são particulares. Um dos documentos exigidos para a pré-qualificação é que você tivesse uma declaração do proprietário do acordo que receberia o seu resíduo. E isso aí, se você raciocinar, que é por volta de meia dúzia, e todos eles com interesse na Prefeitura de São Paulo, fica difícil você conseguir uma coisa dessas, uma firma, contrariando a vontade da maioria.

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