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18/09/2000 - 08h03

No sertão, favores são cabos eleitorais

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MARILENE FELINTO
da Folha de S.Paulo

"Ajuda" de todo tipo ainda é a moeda de troca mais poderosa nas eleições de pequenos municípios do sertão do Nordeste: um voto vale um botijão de gás, um saco de cimento, uma caixa de remédio ou mesmo a simples plastificação do título de eleitor.

As relações de parentesco, o analfabetismo e as coligações partidárias heterodoxas são os demais elementos que movem a engrenagem da eleição para as prefeituras do interior.

No município paraibano de Mogeiro (150 km de João Pessoa), a oposicionista Margarida Maria Silveira Gomes -da coligação PTB/PSDB/PFL/PT/PV- chama de "o pede-pede do povo" o costume de trocar votos por favores.

"O povo pede de tudo. É tijolo, pagamento de conta de luz, óculos, prótese dentária, registro de nascimento, mas hoje é mais difícil porque a lei está muito rígida."

Prefeita de Mogeiro na gestão anterior, diz que nunca praticou clientelismo, mas desconfia que a prática ainda existe. "Por baixo do pano tudo existe, não é? Quando pedem, digo que é crime eleitoral, que pode ser punido com impugnação ou multa de R$ 1.000 a R$ 50.000. Aí o povo entende."

Para Luiz José Monteiro de Farias (Lula, PMDB), 42, prefeito de Taperoá (250 km de João Pessoa) e candidato a reeleição, um prefeito do interior não pode só administrar. "Tem que ser padre, juiz, médico e amigo, para detectar o problema do povo."

Lula contou à Folha que um de seus principais projetos de governo, se reeleito, é o auxílio gratuito à construção e recuperação da casa própria: "A pessoa se inscreve e a prefeitura entra com tudo, até com mão-de-obra."

Para o caminhoneiro José Pereira da Silva, 49, Lula é a melhor opção para Taperoá por estar sempre com os pobres na hora da doença. "Ele ofereceu um caixão quando meu pai morreu, mas recusei. Disse que deixasse para alguém mais necessitado. Acho errado dar propina em dinheiro, sou a favor da fiscalização. Mas dar uma ajuda, emprego, remédio, cesta básica, acho que deve."

O agricultor Inocêncio Brandão Diniz, 64, ainda está indeciso. Esperando há quatro anos que seu pedido de aposentadoria dê resultado, ele disse que vai votar no candidato que o ajude a resolver isso "com advogado e Justiça".

A estudante Elizângela de Lima, 18, por sua vez, tem simpatia pelo candidato da oposição, Deoclécio Moura Filho (o Deó, da coligação PSC/PSDB/PST/PT). Enquanto caminhava pela feira de Taperoá, exibindo no peito uma bandeira do Brasil em formato de miniblusa, explicou que fica em dúvida se o prefeito eleito vai ajudar mesmo os pobres, mas que já conseguiu plastificar seu título de eleitor.

"Fui pedir ao vereador Betinho (situação) R$ 0,50 para plastificar o título e ele disse que não dava. Pedi para o vereador William, de Déo, e ele deu. Achei um absurdo um vereador dizer que não tem R$ 0,50 para plastificar um título."

Elizângela, na 6ª série do ensino fundamental, foi empregada doméstica em João Pessoa e Campina Grande, ganhando R$ 50 por mês. Hoje está desempregada, tem quatro irmãos e depende do salário mínimo da mãe, cozinheira do hospital da cidade.

Para o candidato oposicionista Deó, compra de voto sempre existiu no interior. "Foi feito um recadastramento dos eleitores de Taperoá este ano, em apenas 60 dias. O número de eleitores reduziu de 12 mil para 8 mil", afirmou.

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