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03/11/2004
-
11h14
ELIANE CANTANHÊDE
Colunista da Folha de S.Paulo
O governador Geraldo Alckmin, 51, não se assume presidenciável, mas já delimita terreno ao classificar como "inadmissível" a hipótese de José Serra trocar a Prefeitura de São Paulo por qualquer candidatura em 2006.
Ele concordou de pronto que isso seria "suicídio político" de Serra e acrescentou: "É inadmissível, uma hipótese fora de cogitação".
O governador também deixa claro que o PFL seria o principal aliado numa eventual candidatura à Presidência e afirma que, na sua opinião, o grande erro de Serra na disputa presidencial de 2002, quando perdeu para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi ter rejeitado esse partido.
Segue a entrevista à Folha, concedida no Palácio dos Bandeirantes às 8h de ontem:
Folha - Durante a campanha, falava-se que um só partido ter simultaneamente a Presidência e a prefeitura da maior capital seria excesso de poder. Não é também excesso de poder o PSDB ocupar tanto o governo como a prefeitura da capital no principal Estado?
Geraldo Alckmin - O PSDB cresceu, inseriu-se nos grandes centros urbanos. Veja Curitiba, Florianópolis, Teresina, Cuiabá. E teve um bom desempenho mesmo onde não ganhou. Quando você está no governo, incha. Quando está fora e cresce, é crescimento real. E o resultado das urnas é sempre o melhor para todos.
Folha - O sr. acha positiva a polarização entre um núcleo governista, do PT, e outro de oposição, com o PSDB? O que projeta para 2006?
Alckmin - Nós não fizemos a lição de casa, que é a reforma política, mas o povo está fazendo por nós, na prática, pelo voto. Com sua sabedoria, a população vai formatando essa reforma, com partidos maiores e mais identidade. Isso é bom para a democracia.
Folha - Significa também a redefinição de blocos políticos? A reaproximação PSDB-PFL é resultado disso? Como ficam os demais?
Alckmin - Eu sempre enxerguei no PFL um partido com mais unidade e com posições. Muitos achavam, simplisticamente, que o PFL era um partido governista, qualquer que fosse o governo. Não. O PFL compôs com FHC já no início da campanha, bem antes de ele ganhar, porque concordava com o programa, com as idéias. E é preciso ressaltar que foi muito correto. A presença do próprio vice-presidente Marco Maciel foi impecável. E, depois que o PSDB saiu do governo, o PFL continuou tendo uma postura correta, de oposição, séria, responsável.
Folha - Inclusive o senador Antonio Carlos Magalhães?
Alckmin - Estou analisando do ponto de vista partidário, amplo.
Folha - O grande problema de José Serra na campanha de 2002 foi ter rejeitado o PFL?
Alckmin - Não tenho a menor dúvida. Ali começaram as dificuldades.
Folha - Mas o grande problema da campanha de 2004 não foi o vice do PFL, o Gilberto Kassab?
Alckmin - Esse foi um entre os grandes equívocos do PT na campanha, que gastou muito tempo do horário de rádio e de televisão com a crítica de que ele foi secretário do ex-prefeito [Celso] Pitta, quando muita gente que trabalhou com o Pitta estava apoiando a nossa adversária. Se houvesse crítica palpável, deveria ter apontado e ido à Justiça, não ficar falando em época de campanha.
Folha - Quem mostrou o crescimento anormal do patrimônio do Kassab não foi o PT, foi a Folha.
Alckmin - Se isso não tivesse alguma justificativa, teria tido desdobramento. E não teve. Crítica de véspera de eleição o eleitor analisa com cuidado, com desconfiança. O PFL tem bons quadros. Por exemplo, o vice-governador Cláudio Lembo, um excelente companheiro de trabalho.
Folha - E os demais partidos, viram coadjuvantes, satélites?
Alckmin - Não. O PPS teve uma vitória importante em Porto Alegre, o PMDB tem presença nacional. Mas o fato é que o PSDB cresceu, se consolidou. E houve um processo que as pessoas talvez não tenham percebido bem: reforçaram-se os laços afetivos no partido. Só fiz duas viagens, uma para o Norte e Nordeste, outra para Centro-Oeste e Sul, e isso não muda absolutamente nada do ponto de vista eleitoral, mas é importante do ponto de vista partidário. O Marconi Perillo [governador de Goiás], o Aécio Neves [governador de Minas], o Tasso Jereissati [senador pelo Ceará], o Arthur Virgílio [senador pelo Amazonas] também viajaram. O partido sentiu: "Não estamos sozinhos". Inclusive em São Paulo, um fator muito importante foi todo mundo sentir que estávamos todos na mesma direção. E foi uma campanha aguerrida, disputada, mas de bom nível.
Folha - Aliás, qual o sentido de três governadores do PSDB, o sr., Aécio e Perillo irem a Uberlândia (MG) para prestigiar a candidatura de um expoente do PP, Odelmo Leão? Já é para atrair o partido para o núcleo oposicionista?
Alckmin - Nós somos liderados do Aécio [rindo]. O Odelmo foi meu amigo na Câmara, e nós três quisemos dar uma força para o candidato a vice, que é tucano.
Folha - Quem é ele?
Alckmin - Humm... não lembro.
Folha - Quais os critérios para a formação da equipe do Serra? O PFL vai ter papel decisivo? PDT e PPS vão participar?
Alckmin - Eu não sei, pergunte ao prefeito. O Serra é bom formador de equipe, vem de uma escola, a do [Franco] Montoro [ex-governador de São Paulo], um formador de quadros por excelência.
Folha - O sr. vai ceder quadros para Serra?
Alckmin - Enquanto não apuraram o último voto, não tocamos nisso. Não quisemos sentar na cadeira antes da hora.
Folha - Isso é uma crítica a FHC, que sentou na cadeira de prefeito, mas perdeu para o Jânio Quadros?
Alckmin - Não, cuidado com isso. É que nós fomos muito cautelosos. Uma das virtudes na política é a moderação. E o partido está agindo com moderação.
Folha - O que significa moderação agora? Fazer acenos para o PT?
Alckmin - Entender que política é serviço, é responsabilidade. Isso aqui não é guerra, não é filme de mocinho, em que alguém sai dizendo: "Fui o grande vitorioso". É legítimo comemorar a vitória, mas, no dia seguinte, é botar o pé no chão e começar o trabalho. O partido está consciente de que não é fácil ser governo.
Folha - Por que FHC ficou fora da campanha e nem votou no 2º turno? As pesquisas indicam que ele mais atrapalhava do que ajudava?
Alckmin - O presidente FHC foi um fator decisivo para Serra sair candidato. A decisão foi tomada na casa dele, com a presença da dona Ruth [Cardoso]. Foi ali que nós nos reunimos, e ele decidiu.
Folha - Ele temia a derrota?
Alckmin - O Serra avaliava, o que é normal, e FHC foi determinante para a decisão.
Folha - O sr. preferia o seu secretário da Segurança, Saulo Abreu?
Alckmin - Quando o Serra colocou que a candidatura dele era pouco provável, é claro que o partido precisava ter um nome. Quem não entra em campo não forma bom time. E nós tínhamos opções, mas sempre defendi o nome de Serra. Ganhar em São Paulo era importantíssimo, porque o PSDB nunca governou a cidade. Havia uma barreira PT-Maluf, que impedia uma terceira força de se afirmar. O próprio Serra tentou duas vezes e não conseguiu.
Folha - O sr. tentou uma.
Alckmin - Eu não cheguei por um milésimo, 7.000 votos em 7,5 milhões. Fiquei na frente na apuração inteira, só perdi no finalzinho, já à noite. E, aí, nós vimos que o partido estava maduro, tinha criado a consciência nas pessoas de que chegara a nossa vez. O voto no Executivo é cada vez mais amadurecido. Chegando ao segundo turno com uma rejeição baixa, com uma campanha limpa, nossas possibilidades eram enormes. É preciso registrar, aliás, que o governo do Estado e o governador não tiveram nenhum tipo de problema, em nenhum momento, durante a campanha.
Folha - É uma contraposição a Lula, que foi multado pela Justiça?
Alckmin - Não. É um registro.
Folha - Serra deixar a prefeitura para concorrer em 2006 seria um suicídio político?
Alckmin - Concordo. Você deixar o Legislativo pode ser compreendido, mas não o Executivo, especialmente numa cidade-Estado como São Paulo. É inadmissível, uma hipótese fora de cogitação. O próprio Serra já disse isso na campanha e reiterou, eleito.
Folha - Serra fora da disputa para o governo não complica a vida do PSDB? A avaliação que se faz é que o PT tem excesso de candidatos e que o PSDB não tem nenhum.
Alckmin - O partido terá um ótimo candidato, mas no momento certo. Se você olhar os resultados de cabo a rabo no Brasil, os mais conhecidos não foram os eleitos. Você não escolhe o candidato com base numa pesquisa para ver quem é o mais conhecido.
Folha - Do jeito que o sr. fala, lembra o Maluf fazendo o Pitta prefeito e aquela expressão: "Fulano elege até uma porta".
Alckmin - O importante agora é não forçar o processo eleitoral antes da hora. Na vida pública, há dois grandes ansiosos: o político e o jornalista, que querem estar sempre na frente, antes mesmo do fato. Mas, a mim, interessam o trabalho e os resultados.
Folha - Aos fatos: FHC não iria para uma terceira eleição contra o Lula com a possibilidade de perder. Serra está amarrado à prefeitura. Aécio perdeu Belo Horizonte, e Jereissati, Fortaleza. O sr. é o grande vitorioso. Logo, é o candidato natural do PSDB à Presidência?
Alckmin - Bem... eu diria que o presidente FHC, este sim, é o candidato natural. E nem o Aécio nem o Tasso eram candidatos a prefeito e estão extremamente qualificados a concorrer. Cada eleição é uma eleição.
Folha - Ganhar a Prefeitura de São Paulo não significa nada, não tem repercussão nenhuma?
Alckmin - Isso é bom, muito bom, mas não para uma pessoa e sim para o time. Um partido que quer ser forte precisa ser forte num Estado que tem um quarto da população brasileira.
Folha - Significa que o candidato do partido vai ser desse Estado?
Alckmin - Não obrigatoriamente.
Folha - Mas possivelmente?
Alckmin - Significa que o eleitor confia maciçamente no partido, mas 2006 é um outro quadro.
Folha - Um momento tenso da campanha de São Paulo foi quando a Marta Suplicy insinuou que, com o presidente de um partido e o prefeito de outro, o dinheiro não vinha. O dinheiro vem?
Alckmin - Isso só pode ser parte do estresse de campanha, e o próprio presidente da República já recolocou as coisas nos devidos lugares. O que se espera é que a Presidência, o governo do Estado e a prefeitura tenham relações republicanas e façam o que é melhor para a população.
Folha - O governo Lula é centralizador?
Alckmin - Eu diria que há uma tendência centralizadora, e isso não funciona. Tem que delegar. Política é parceria. Veja só: aquela obra da Radial Leste, que o presidente veio inaugurar e até deu aquela confusão, foi toda feita num terreno que o Estado repassou para a prefeita. Isso vale numa mão, tem de valer na outra. É preciso separar as questões partidárias, por mais legítimas que sejam, das questões de governo.
Folha - O senador Jorge Bornhausen disse que o PSDB vai colar em Alckmin, e o PFL, em Cesar Maia, para, no fim de 2005, discutir o nome para a Presidência. O que o sr. acha disso?
Alckmin - Eu acho que saí dessa eleição robustecido para arregaçar as mangas, suar a camisa e trabalhar, trabalhar, trabalhar. Meu nome é trabalho.
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Alckmin diz ser "inadmissível" Serra disputar as eleições em 2006
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Colunista da Folha de S.Paulo
O governador Geraldo Alckmin, 51, não se assume presidenciável, mas já delimita terreno ao classificar como "inadmissível" a hipótese de José Serra trocar a Prefeitura de São Paulo por qualquer candidatura em 2006.
Ele concordou de pronto que isso seria "suicídio político" de Serra e acrescentou: "É inadmissível, uma hipótese fora de cogitação".
O governador também deixa claro que o PFL seria o principal aliado numa eventual candidatura à Presidência e afirma que, na sua opinião, o grande erro de Serra na disputa presidencial de 2002, quando perdeu para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi ter rejeitado esse partido.
Segue a entrevista à Folha, concedida no Palácio dos Bandeirantes às 8h de ontem:
Folha - Durante a campanha, falava-se que um só partido ter simultaneamente a Presidência e a prefeitura da maior capital seria excesso de poder. Não é também excesso de poder o PSDB ocupar tanto o governo como a prefeitura da capital no principal Estado?
Geraldo Alckmin - O PSDB cresceu, inseriu-se nos grandes centros urbanos. Veja Curitiba, Florianópolis, Teresina, Cuiabá. E teve um bom desempenho mesmo onde não ganhou. Quando você está no governo, incha. Quando está fora e cresce, é crescimento real. E o resultado das urnas é sempre o melhor para todos.
Folha - O sr. acha positiva a polarização entre um núcleo governista, do PT, e outro de oposição, com o PSDB? O que projeta para 2006?
Alckmin - Nós não fizemos a lição de casa, que é a reforma política, mas o povo está fazendo por nós, na prática, pelo voto. Com sua sabedoria, a população vai formatando essa reforma, com partidos maiores e mais identidade. Isso é bom para a democracia.
Folha - Significa também a redefinição de blocos políticos? A reaproximação PSDB-PFL é resultado disso? Como ficam os demais?
Alckmin - Eu sempre enxerguei no PFL um partido com mais unidade e com posições. Muitos achavam, simplisticamente, que o PFL era um partido governista, qualquer que fosse o governo. Não. O PFL compôs com FHC já no início da campanha, bem antes de ele ganhar, porque concordava com o programa, com as idéias. E é preciso ressaltar que foi muito correto. A presença do próprio vice-presidente Marco Maciel foi impecável. E, depois que o PSDB saiu do governo, o PFL continuou tendo uma postura correta, de oposição, séria, responsável.
Folha - Inclusive o senador Antonio Carlos Magalhães?
Alckmin - Estou analisando do ponto de vista partidário, amplo.
Folha - O grande problema de José Serra na campanha de 2002 foi ter rejeitado o PFL?
Alckmin - Não tenho a menor dúvida. Ali começaram as dificuldades.
Folha - Mas o grande problema da campanha de 2004 não foi o vice do PFL, o Gilberto Kassab?
Alckmin - Esse foi um entre os grandes equívocos do PT na campanha, que gastou muito tempo do horário de rádio e de televisão com a crítica de que ele foi secretário do ex-prefeito [Celso] Pitta, quando muita gente que trabalhou com o Pitta estava apoiando a nossa adversária. Se houvesse crítica palpável, deveria ter apontado e ido à Justiça, não ficar falando em época de campanha.
Folha - Quem mostrou o crescimento anormal do patrimônio do Kassab não foi o PT, foi a Folha.
Alckmin - Se isso não tivesse alguma justificativa, teria tido desdobramento. E não teve. Crítica de véspera de eleição o eleitor analisa com cuidado, com desconfiança. O PFL tem bons quadros. Por exemplo, o vice-governador Cláudio Lembo, um excelente companheiro de trabalho.
Folha - E os demais partidos, viram coadjuvantes, satélites?
Alckmin - Não. O PPS teve uma vitória importante em Porto Alegre, o PMDB tem presença nacional. Mas o fato é que o PSDB cresceu, se consolidou. E houve um processo que as pessoas talvez não tenham percebido bem: reforçaram-se os laços afetivos no partido. Só fiz duas viagens, uma para o Norte e Nordeste, outra para Centro-Oeste e Sul, e isso não muda absolutamente nada do ponto de vista eleitoral, mas é importante do ponto de vista partidário. O Marconi Perillo [governador de Goiás], o Aécio Neves [governador de Minas], o Tasso Jereissati [senador pelo Ceará], o Arthur Virgílio [senador pelo Amazonas] também viajaram. O partido sentiu: "Não estamos sozinhos". Inclusive em São Paulo, um fator muito importante foi todo mundo sentir que estávamos todos na mesma direção. E foi uma campanha aguerrida, disputada, mas de bom nível.
Folha - Aliás, qual o sentido de três governadores do PSDB, o sr., Aécio e Perillo irem a Uberlândia (MG) para prestigiar a candidatura de um expoente do PP, Odelmo Leão? Já é para atrair o partido para o núcleo oposicionista?
Alckmin - Nós somos liderados do Aécio [rindo]. O Odelmo foi meu amigo na Câmara, e nós três quisemos dar uma força para o candidato a vice, que é tucano.
Folha - Quem é ele?
Alckmin - Humm... não lembro.
Folha - Quais os critérios para a formação da equipe do Serra? O PFL vai ter papel decisivo? PDT e PPS vão participar?
Alckmin - Eu não sei, pergunte ao prefeito. O Serra é bom formador de equipe, vem de uma escola, a do [Franco] Montoro [ex-governador de São Paulo], um formador de quadros por excelência.
Folha - O sr. vai ceder quadros para Serra?
Alckmin - Enquanto não apuraram o último voto, não tocamos nisso. Não quisemos sentar na cadeira antes da hora.
Folha - Isso é uma crítica a FHC, que sentou na cadeira de prefeito, mas perdeu para o Jânio Quadros?
Alckmin - Não, cuidado com isso. É que nós fomos muito cautelosos. Uma das virtudes na política é a moderação. E o partido está agindo com moderação.
Folha - O que significa moderação agora? Fazer acenos para o PT?
Alckmin - Entender que política é serviço, é responsabilidade. Isso aqui não é guerra, não é filme de mocinho, em que alguém sai dizendo: "Fui o grande vitorioso". É legítimo comemorar a vitória, mas, no dia seguinte, é botar o pé no chão e começar o trabalho. O partido está consciente de que não é fácil ser governo.
Folha - Por que FHC ficou fora da campanha e nem votou no 2º turno? As pesquisas indicam que ele mais atrapalhava do que ajudava?
Alckmin - O presidente FHC foi um fator decisivo para Serra sair candidato. A decisão foi tomada na casa dele, com a presença da dona Ruth [Cardoso]. Foi ali que nós nos reunimos, e ele decidiu.
Folha - Ele temia a derrota?
Alckmin - O Serra avaliava, o que é normal, e FHC foi determinante para a decisão.
Folha - O sr. preferia o seu secretário da Segurança, Saulo Abreu?
Alckmin - Quando o Serra colocou que a candidatura dele era pouco provável, é claro que o partido precisava ter um nome. Quem não entra em campo não forma bom time. E nós tínhamos opções, mas sempre defendi o nome de Serra. Ganhar em São Paulo era importantíssimo, porque o PSDB nunca governou a cidade. Havia uma barreira PT-Maluf, que impedia uma terceira força de se afirmar. O próprio Serra tentou duas vezes e não conseguiu.
Folha - O sr. tentou uma.
Alckmin - Eu não cheguei por um milésimo, 7.000 votos em 7,5 milhões. Fiquei na frente na apuração inteira, só perdi no finalzinho, já à noite. E, aí, nós vimos que o partido estava maduro, tinha criado a consciência nas pessoas de que chegara a nossa vez. O voto no Executivo é cada vez mais amadurecido. Chegando ao segundo turno com uma rejeição baixa, com uma campanha limpa, nossas possibilidades eram enormes. É preciso registrar, aliás, que o governo do Estado e o governador não tiveram nenhum tipo de problema, em nenhum momento, durante a campanha.
Folha - É uma contraposição a Lula, que foi multado pela Justiça?
Alckmin - Não. É um registro.
Folha - Serra deixar a prefeitura para concorrer em 2006 seria um suicídio político?
Alckmin - Concordo. Você deixar o Legislativo pode ser compreendido, mas não o Executivo, especialmente numa cidade-Estado como São Paulo. É inadmissível, uma hipótese fora de cogitação. O próprio Serra já disse isso na campanha e reiterou, eleito.
Folha - Serra fora da disputa para o governo não complica a vida do PSDB? A avaliação que se faz é que o PT tem excesso de candidatos e que o PSDB não tem nenhum.
Alckmin - O partido terá um ótimo candidato, mas no momento certo. Se você olhar os resultados de cabo a rabo no Brasil, os mais conhecidos não foram os eleitos. Você não escolhe o candidato com base numa pesquisa para ver quem é o mais conhecido.
Folha - Do jeito que o sr. fala, lembra o Maluf fazendo o Pitta prefeito e aquela expressão: "Fulano elege até uma porta".
Alckmin - O importante agora é não forçar o processo eleitoral antes da hora. Na vida pública, há dois grandes ansiosos: o político e o jornalista, que querem estar sempre na frente, antes mesmo do fato. Mas, a mim, interessam o trabalho e os resultados.
Folha - Aos fatos: FHC não iria para uma terceira eleição contra o Lula com a possibilidade de perder. Serra está amarrado à prefeitura. Aécio perdeu Belo Horizonte, e Jereissati, Fortaleza. O sr. é o grande vitorioso. Logo, é o candidato natural do PSDB à Presidência?
Alckmin - Bem... eu diria que o presidente FHC, este sim, é o candidato natural. E nem o Aécio nem o Tasso eram candidatos a prefeito e estão extremamente qualificados a concorrer. Cada eleição é uma eleição.
Folha - Ganhar a Prefeitura de São Paulo não significa nada, não tem repercussão nenhuma?
Alckmin - Isso é bom, muito bom, mas não para uma pessoa e sim para o time. Um partido que quer ser forte precisa ser forte num Estado que tem um quarto da população brasileira.
Folha - Significa que o candidato do partido vai ser desse Estado?
Alckmin - Não obrigatoriamente.
Folha - Mas possivelmente?
Alckmin - Significa que o eleitor confia maciçamente no partido, mas 2006 é um outro quadro.
Folha - Um momento tenso da campanha de São Paulo foi quando a Marta Suplicy insinuou que, com o presidente de um partido e o prefeito de outro, o dinheiro não vinha. O dinheiro vem?
Alckmin - Isso só pode ser parte do estresse de campanha, e o próprio presidente da República já recolocou as coisas nos devidos lugares. O que se espera é que a Presidência, o governo do Estado e a prefeitura tenham relações republicanas e façam o que é melhor para a população.
Folha - O governo Lula é centralizador?
Alckmin - Eu diria que há uma tendência centralizadora, e isso não funciona. Tem que delegar. Política é parceria. Veja só: aquela obra da Radial Leste, que o presidente veio inaugurar e até deu aquela confusão, foi toda feita num terreno que o Estado repassou para a prefeita. Isso vale numa mão, tem de valer na outra. É preciso separar as questões partidárias, por mais legítimas que sejam, das questões de governo.
Folha - O senador Jorge Bornhausen disse que o PSDB vai colar em Alckmin, e o PFL, em Cesar Maia, para, no fim de 2005, discutir o nome para a Presidência. O que o sr. acha disso?
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