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02/12/2004 - 22h36

Fazendeiro acusado de morte de sem-terras disse não ter planejado morte de ninguém

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THIAGO GUIMARÃES
da Agência Folha, em Belo Horizonte

O fazendeiro Adriano Chafik Luedy, 37, acusado de ser o mandante da chacina de cinco sem-terra ligados ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) ocorrida no último dia 20 em Felisburgo (MG), disse hoje que não planejou a morte de ninguém e que, se pudesse prever o resultado do conflito com os agricultores, não teria feito nada por "respeito à vida humana".

Ele foi apresentado hoje à imprensa pela Polícia Civil mineira. Em tumultuada entrevista, Chafik disse que agiu em legítima defesa, após ser atingido por um sem-terra com um golpe de foice no peito. "O sujeito me agrediu com a foice. Não sei nem se eu cheguei a atingir alguém, foi muito rápido."

Antônio Patente, um dos advogados de Chafik, disse que o fazendeiro estava "armado, reagiu e atirou", mas negou que ele tivesse planejado a ação. "Se houvesse premeditação, era muito mais fácil ir à noite, o que dificultaria a identificação e facilitaria a fuga deles", afirmou.

Chafik, que se entregou à polícia na terça-feira em São Paulo, foi apresentado no Deoesp (Departamento de Operações Especiais) da Polícia Civil mineira, em Belo Horizonte. De lá, seguiu para a Casa de Detenção Dutra Ladeira, em Ribeirão das Neves (Grande BH), onde estão presos outros três suspeitos de participação na chacina.

Ao todo, seis pessoas estão presas sob suspeita de participação nos crimes. Outros quatro suspeitos com mandados de prisão temporária expedidos --entre eles o primo de Chafik, Calixto Luedy-- estão foragidos.

Chafik disse hoje estar "chocado" e "abalado" com a situação. "Se eu soubesse do efeito negativo que a coisa teria, se eu pudesse prever o que aconteceria, eu não teria feito, com respeito à vida humana. Mas ali eu estava defendendo a minha [vida]."

Após ter ouvido Luedy ontem, em Jequitinhonha (MG), o delegado Wagner Pinto, que preside o inquérito do caso, disse que o fazendeiro premeditou o crime.

"As provas demonstram pacificamente que o Adriano premeditou o crime, contratou mão-de-obra em Itajuípe [BA], por intermédio de Quito [Calixto], e foi lá com o firme propósito de expulsar, mediante violência, os sem-terra de sua propriedade rural."

No último dia 20, por volta das 12h, entre dez e 15 homens entraram no acampamento do MST na fazenda Nova Alegria, onde viviam cem famílias, e atiraram contra os sem-terra. Além dos mortos, 13 pessoas foram feridas. Cerca de 30 barracas foram queimadas.

Segundo o Iter (Instituto de Terras de Minas Gerais), pelo menos 708 ha da fazenda Nova Alegria --de 1.702 ha-- são de terras devolutas (sem registro privado e sem uso pelo poder público). O instituto ainda não precisou se a área do acampamento integra a parte devoluta da fazenda.

O coordenador do MST em Minas Ademar Supitz disse ontem que a versão de Luedy é uma "farsa". "Foi um ataque covarde. Não teve reação nossa em momento nenhum. Eles chegaram atirando na fazenda", afirmou.

Na Bahia, a polícia de Itabuna aguarda a notificação da Justiça para promover a reintegração de posse em uma fazenda localizada em Itajuípe, de propriedade da família de Adriana Chafik Luedy.

Segundo a assessoria da PM, o mandado judicial não havia sido entregue até o final da tarde de ontem. O MST invadiu a propriedade cinco dias depois da chacina, para pressionar pela punição do fazendeiro.

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