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09/02/2005 - 09h38

Aos 25 anos, PT foge de Waldomiro e pergunta por sua base social

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da Folha de S.Paulo

O PT completa 25 anos amanhã, mas empurrou para março as principais comemorações em torno da data. Isso para que o aniversário não seja contaminado ou ofuscado por um outro, incômodo para o partido: no próximo domingo, dia 13, o caso Waldomiro Diniz completa um ano.

O episódio em que o então assessor do ministro José Dirceu (Casa Civil) aparecia, numa gravação de 2002, negociando propina não foi o primeiro envolvendo membros ou assessores de petistas em suspeitas de corrupção, mas retirou de vez das mãos do PT a chamada "bandeira ética", vendida até então como um dos seus traços distintivos no quadro político brasileiro.

O caso Waldomiro é parte do mal-estar do PT nos seus 25 anos, mas não basta para explicá-lo. Mais do que um mal-estar, talvez se deva falar em crise de identidade ou de esquizofrenia para definir o atual momento do PT.

Por um lado, não há como negá-lo, o partido chega ao seu jubileu de prata seguindo uma trajetória vitoriosa. Cresceu em termos institucionais, espalhou-se pelo território nacional, se estruturou, se modernizou e hoje está no comando do país.

Ao mesmo tempo, foi também por esse percurso que o PT se burocratizou e se descaracterizou, distanciando-se de suas origens, até se tornar um partido entre outros: perdeu ou manteve apenas laços residuais com os movimentos sociais e de massa; viu a sua velha militância ceder espaço a um exército de mercenários nas campanhas (o caso dos "visitadores" de Marta Suplicy no ano passado serve de exemplo); incorporou para si as estratégias de marketing que antes criticava na direita; tornou-se uma máquina eleitoral e passou a acumular escândalos à medida que foi conquistando governos; por fim, abandonou progressivamente suas bandeiras históricas para aderir à ortodoxia econômica liberal e a um discurso reformista de contorno suave e conciliador, o qual, na substância, pouco ou nada difere daquele pregado pelo seu grande rival hoje, o PSDB.

Contradições

O fato de que o PT, hoje no poder, seja adulado por banqueiros e cumpra o programa do FMI não impede com que ainda ocupe, paradoxalmente, o espaço da esquerda no espectro político. Trata-se de uma contradição, ou de uma ambivalência, estimulada pela conduta e pelos discursos do presidente, em torno de quem ainda giram em grande medida as expectativas de mudança social --as quais ele trata de renovar com novas promessas.

O poder de atração de Lula, porém, já deixou de seduzir uma parcela sensível da esquerda petista ou ex-petista --intelectuais e profissionais liberais, dentro dos setores médios, e movimentos sociais menos dependentes de verbas e/ou favores do Estado, no campo propriamente popular--, o que vem provocando descontentamentos e dissidências que, mesmo pouco numerosas, passaram a preocupar a cúpula do PT. Para os que desembarcaram, o governo Lula representa uma espécie de tsunami que varreu 20 anos de energia social acumulada na e pela esquerda.

No nível do discurso, pelo menos, o próprio presidente do partido, José Genoino, vocaliza essa preocupação quando confirma que o PT precisa voltar a atrair as classes médias e se reaproximar dos movimentos sociais.

Um dos desafios da cúpula do PT é, portanto, conciliar a defesa da política econômica com um dos objetivos das comemorações pelos 25 anos: "A revitalização dos laços partidários com a intelectualidade e os movimentos sociais, fortalecendo o bloco histórico que permitiu a eleição do presidente Lula", como diz a resolução do partido sobre o jubileu.

O paloccismo --chancelado sem ressalvas pelo Planalto-- foi responsável principal pelo acúmulo de dissidências entre a intelligentsia petista da USP e a carioca. Provocou a saída dos parlamentares radicais e, agora, de um grupo de filiados no 5º Fórum Social Mundial, em Porto Alegre.

A política econômica é a parte mais flagrante do vazio programático do partido que chegou ao poder após apagar de suas palavras de ordem, gradativamente, o socialismo, os bravejos contra o FMI e contra os juros altos.

Uma das bandeiras que restaram --a da prioridade à área social formatada em torno do Fome Zero-- foi desmoralizada pelo próprio governo durante seu primeiro ano. Reformulada, passou a funcionar numa espécie de extensão do molde de rede social criado durante o segundo governo de Fernando Henrique Cardoso, mas ainda hoje é alvo de inúmeras denúncias de desvios, mau gerenciamento e corrupção.

Até em áreas de forte base do PT, como as que envolvem as questões indigenista e ambiental, existe a percepção crescente de que o PT não avança em relação ao governo de FHC --razão também de algumas dissidências.

"Continuo sonhando. Não sonhei o sonho errado", disse à Folha a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy sobre o jubileu.

A frase é uma resposta, com quase dois anos de distância, ao deputado Fernando Gabeira, que deixou o partido em 2003. Decepcionado com a liberação de sementes transgênicas, afirmou ter "sonhado o sonho errado" no PT.

Apocalíptico e contraditório, o deputado da ala esquerda do partido Ivan Valente (PT-SP) diz que "a onda maior [de dissidência] ainda está por vir". Depois, completa: ainda há espaço para a luta interna no PT.

O partido se prepara para a primeira eleição direta para dirigentes após a chegada de Lula ao poder --e também o primeiro encontro nacional. No último, em 2001, o mote ainda era a "ruptura" com o FMI. A eleição será em setembro. É quando a ala moderada, que se acomoda melhor às contradições, deve ganhar ainda mais espaço.

Evento

A principal comemoração do jubileu de prata do PT será em Belo Horizonte, em 19 de março, mais de um mês após a data oficial, 10 de fevereiro.

O partido fará ato com a participação do presidente Lula. Na cidade onde Fernando Pimentel (PT) se reelegeu prefeito com quase 70% dos votos no primeiro turno, o partido espera estar blindado de manifestações populares.

Na data, além do aniversário do caso Waldomiro, o partido espera ter superado a luta fratricida pela presidência da Câmara, marcada para próxima segunda, dia 14.

Os detalhes da programação vão ser apresentados amanhã pelo presidente do partido, José Genoino, em coletiva na sede do PT, em São Paulo. Lá também será lançado o site comemorativo do jubileu.

O PT prepara também um seminário, entre 21 e 24 de março, em SP, para discutir os rumos do partido e do governo. Os nomes não estão fechados, mas a programação prévia inclui ministros e intelectuais críticos do governo.

Preocupado com distanciamento da base social, o PT prepara conferência com sem-terra e outros grupos. O evento não tem data fechada.

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