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20/02/2005 - 18h11

Acusado de intermediar morte de freira é indiciado no Pará

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da Folha Online

O agricultor Amair Feijoli da Cunha, um dos quatro acusados pelo assassinato da freira Dorothy Stang, foi formalmente indiciado hoje por homicídio qualificado em processos conduzidos pela Polícia Civil e Federal. Isso significa que ele foi qualificado como suspeito do crime no inquérito policial.

Cunha, conhecido como Tato, prestou depoimento hoje à Polícia Civil de Altamira (PA). Ele é acusado de intermediar o assassinato da freira. No depoimento, Tato negou envolvimento no crime.

Ele, no entanto, ele entrou em contradição ao explicar sua relação com o suposto mandante Vitalmiro de Moura Bastos. Ele disse ainda não ter havido mandante para o crime.

Se for condenado, Tato pode pegar entre 12 e 30 anos de reclusão.

Tato se apresentou ontem, por volta das 13h (horário de Brasília), à Polícia Civil do Pará em Altamira. Cunha, que negou as acusações e estava com prisão preventiva decretada, é o primeiro dos quatro suspeitos de participação no crime a ser preso.

As negociações para a entrega de Tato começaram na manhã de anteontem. O advogado do agricultor, Oscar Damasceno Filho, procurou pessoalmente o superintendente da Polícia Civil Regional do Xingu, delegado Pedro Monteiro, para viabilizar a apresentação. A condição imposta pelo advogado, segundo Monteiro, foi exigir a segurança de Cunha.

Após os acertos, o advogado e os delegados Monteiro e Rilmar Firmino seguiram pela rodovia Transamazônica até uma estrada vicinal, a cerca de 50 km de Altamira, perto do município de Belo Monte, onde o advogado apresentou Cunha.

Tato é suspeito de ter contratado, a mando do fazendeiro Vitalmiro de Moura Bastos, dois supostos pistoleiros --Rayfran das Neves Sales, o Fogoió, e Uilquelano de Souza Pinto, o Eduardo-- para matar a irmã Dorothy Stang. O agricultor foi levado para a Delegacia de Mulheres de Altamira e, de lá, transferido para um presídio. Só deve depor hoje.

No presídio, Tato negou que fugiu. "Eu não fugi. Eles estavam lá para matar a gente, os posseiros, os sem-terra. Vinha um monte de gente armada e eu corri para o barraco da minha terra."

Segundo o advogado de Tato, ele não trabalha para Bastos, de quem teria adquirido, em 2004, 300 ha de terra, nos fundos do PDS (Projeto de Desenvolvimento Sustentável) Esperança. O fazendeiro alega ser dono da área.

De acordo com o advogado, na sexta anterior ao assassinato, Tato presenciou uma reunião na qual irmã Dorothy teria instado colonos a invadirem a área do agricultor. No dia do crime, ele estava cortando madeira quando soube que a religiosa estava morta. Segundo Cunha, quem relatou o crime foi um rapaz de 15 anos, filho do agricultor Adalberto Xavier Leal, assassinado na noite do mesmo sábado. Pouco tempo depois, disse ter visto cerca de 20 pessoas armadas ligadas à irmã correndo em sua direção.

Damasceno Filho afirmou que Tato não sabe quem matou a missionária, mas "supõe" que tenham sido Fogoió e Eduardo, peões que trabalhavam plantando sementes de capim para ele.

Mas o detido admitiu que se encontrou com os dois foragidos no sábado pela manhã, momentos antes do crime. "Encontrei com eles cedo, no sábado de manhã, mandei eles jogarem semente de capim na terra. Eles foram para o serviço. Eu fui para outro."

O advogado de Vitalmiro de Moura Bastos, Augusto Septimio, que acompanhou ontem a apresentação de Tato em Altamira, disse a mesma versão: o crime foi resultado de uma "discussão entre a irmã Dorothy e os funcionários do Amair". Septimio afirmou que Bastos "não tem interesse em se entregar até que seja concluído o inquérito [policial]".

Ele disse que o último contato mantido com Bastos foi na segunda-feira e que não sabe onde ele está. Afirmou ainda que pertence ao fazendeiro uma das camionetes encontradas perto do local do crime e que o veículo teria sido alvejado por tiros disparados pelo grupo da missionária.

Para a Polícia Federal, Rayfran das Neves Sales e Uilquelano de Souza Pinto, ainda foragidos, percorreram mais de 50 km mata a dentro na fuga. Chegaram a um lugar chamado Pau de Ferro, trecho da Transamazônica entre Anapu e Altamira. De lá, segundo a Polícia Federal, os dois entraram num lotação com destino a Altamira. A PF traçou a rota após ouvir mais três testemunhas em Anapu, na sexta. Elas reconheceram retratos falados e fotos dos acusados foragidos.

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