Caiado acusa relator de fazer uso eleitoral da proposta orçamentária de 2010

Irritado com as afirmações do deputado Geraldo Magela (PT-DF) de que a oposição teria retirado recursos do Orçamento para a Copa de 2014, o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO) acusou o petista nesta quarta-feira de fazer uso eleitoral da proposta orçamentária de 2010.

Caiado disse que Magela, relator-geral do Orçamento deste ano, apresentou emendas individuais ao texto direcionadas ao Distrito Federal (seu Estado de origem) para tirar proveito dos recursos em ano eleitoral.

O democrata disse que o uso político da proposta orçamentária teve o aval do presidente da Comissão de Orçamento, senador Almeida Lima (PMDB-SE). O líder do DEM argumenta que o Distrito Federal e Sergipe, Estado de Lima, foram as unidades federativas que mais tiveram perdas no texto orçamentário depois que a oposição forçou Magela a cancelar as emendas individuais que apresentou ao Orçamento.

"Isso mostra o seu mau caráter, é imoral. Estão explícitos os interesses das emendas para a campanha eleitoral dele e do presidente da comissão. Ele quis repetir o escândalo dos anões do Orçamento, ele é a cópia piorada do ex-deputado João Alves", disse Caiado ao referir-se ao ex-relator do Orçamento de 1993.

Na época, a CPI do Orçamento foi instalada para investigar o escândalo e descobriu um esquema envolvendo João Alves e "laranjas" que atuavam em seu nome. Ele renunciou no dia 25 de março de 1994 para escapar da cassação e da perda de direitos políticos, mas não voltou a se candidatar. Para justificar o seu alto padrão de vida, alegava ser um ganhador contumaz de loterias --teriam sido 221 prêmios. Alves morreu em 2004.

Caiado disse que Magela quer "comprar o bilhete premiado da Mega-Sena da virada" no Distrito Federal para justificar os gastos da proposta orçamentária. "Ele foi pego fraudando e tentando transformar a peça eleitoral em um balcão de negócios", disse.

O impasse entre Magela e Caiado começou depois que o relator decidiu, a pedido da oposição, transformar R$ 2,4 bilhões da proposta orçamentária incluídas com emendas do relator-geral em emendas de bancadas. A mudança foi cobrada por Caiado, que acusou o petista de ter ferido um acordo firmado com a oposição ao direcionar os recursos para suas emendas individuais.

Magela, no entanto, disse que a mudança provocou cortes de R$ 1,8 bilhão no orçamento da Copa do Mundo de 2014. O relator-geral do Orçamento de 2010 argumenta que suas emendas estavam direcionadas diretamente para obras da Copa, enquanto as emendas de bancadas não têm a definição exata de como o dinheiro deve ser aplicado --por isso a Copa deve sofrer cortes em 2010.

Com uma tabela da Comissão de Orçamento em mãos, Caiado disse que o DF perdeu R$ 171 milhões e Sergipe R$ 117 milhões depois que as emendas do relator-geral foram transformadas em emendas de bancada --o que comprovaria a intenção dos parlamentares fazerem uso eleitoral da proposta. Caiado nega que os recursos das emendas de Magela fossem destinados à Copa de 2014.

Outro lado

Questionado sobre as declarações de Caiado, Magela disse que vai processar o democrata na Justiça por danos morais. O petista nega que suas emendas individuais tivessem o objetivo de beneficiar o Distrito Federal e Sergipe em ano eleitoral.

"O Caiado está totalmente desequilibrado. Ele não conseguiu impedir a votação do Orçamento, agora está indo para o desespero", afirmou à Folha Online.

Segundo Magela, suas emendas tinham como objetivo implementar obras no DF direcionadas para a Copa do Mundo, sem uso eleitoral da peça orçamentária.

"Como é que eu vou ter emendas para uso eleitoral se entre as emendas canceladas está uma direcionada para aquartelamento do Comando do Exército? Eu vou ganhar votos no Exército? Isso não existe", afirmou.

O relator reiterou que suas emendas tinham como prioridade beneficiar Estados que vão sediar a Copa do Mundo, entre eles o DF. "Se você tira recursos de Estados que vão sediar a Copa, eles são os maiores perdedores. E os maiores ganhadores são aqueles que não vão sediar a Copa", disse o petista.

Procurado pela Folha Online, o senador Almeida Lima não foi encontrado para comentar as declarações de Caiado.