21/03/2005 - 20h13

Severino dá ultimato a Lula por ministério

MARI TORTATO
da Agência Folha, em Curitiba

O presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PP-PE), disse em discurso na Assembléia Legislativa do Paraná, ao receber homenagem hoje à tarde, que a permanência do PP na base de sustentação do governo estava condicionada à nomeação do deputado federal Ciro Nogueira (PI) para o Ministério das Comunicações. Nogueira o acompanhou na viagem.

"Está na mesa o deputado Ciro Nogueira, que hoje será sacramentado pelo presidente da República, porque, se o presidente não assinar a indicação do Ciro, amanhã o PP poderá ser o aliado do PFL. Ou teremos um ministro, ou tomaremos uma posição diferente [deixar a base aliada]."

Antes de dizer isso no microfone, Severino já tinha apresentado Nogueira como "futuro ministro" em um primeiro discurso na mesma Assembléia e em uma entrevista. Ele tratou de apressar o retorno a Brasília porque, segundo disse, tinha sido chamado para uma reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e discutir a indicação.

Severino também não deixou brechas para troca do nome. Disse que Nogueira "é uma unanimidade" dentro da sua bancada e tratou de defender seu apadrinhado das avaliações de que não é atuante na Câmara. "Não se mede a qualidade de um deputado pelo número de requerimentos que ele apresenta, mas por sua atuação nas comissões, e, nelas, o Nogueira é atuante", disse.

Apesar da ameaça pública de rompimento, na entrevista Severino disse que ele e seu partido pretendem apoiar a reeleição do presidente Lula. Mas não quis entrar na polêmica sobre a mudança da lei eleitoral para permitir que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, possa disputar o cargo mais uma vez. "Isso é briga paulista, na qual eu não entro."

No primeiro evento, que misturou o abono da ficha no PP de um deputado estadual e uma homenagem que recebia da federação do comércio do Paraná, Severino atacou a medida provisória 232 ao dizer que ela traduz "a gula do governo federal" por mais impostos. Ele reagiu às críticas do PFL por ter negociado termos da MP com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, sem aval dos partidos, dizendo-se porta-voz dos pequenos empresários que o procuraram em busca de um consenso. Disse ainda que, se necessário, poderá mobilizar os 300 deputados que o elegeram presidente da Câmara "para derrotar a MP".

"Aqueles que fazem a produção no Paraná sabem do risco que estão correndo com a gula do governo federal, querendo impingir essa 232 que nós iremos derrotar", disse ele.

Severino ainda prometeu trabalhar pela fidelidade partidária "para acabar com essa excrescência de um deputado dormir num partido e acordar no outro" e reagiu a críticas de que é fisiológico à frente da Câmara.

"Fisiológico, não. O que defendemos é a clarividência e a oportunidade para todos os deputados. Eu irei acabar com essa história de baixo clero [maioria sem influência da qual fez parte] na Câmara dos Deputados (...) Aquela cupulazinha que dominava, hoje já está sentindo mais porque o deputado Severino Cavalcanti está dando a oportunidade para todos", disse.

Ele contou que, no final dos anos 40, viajava de São Paulo --onde morou --para o norte do Paraná "quando queria ganhar dinheiro". Segundo Severino, ele enfrentou "muita poeira" vendendo relógios como mascate ou ambulante, em frente à rodoviária das cidades da região.

"Já pensou o que é um mascate sair daqui agora num avião para encontrar o presidente da República e decidir quem vai ser o ministro? Não é uma vitória grande do povo?", perguntou a uma jornalista que quis saber mais da história. À observação de que falaria com o presidente ex-metalúrgico, Severino emendou: "Só que ele foi mais esperto do que eu. Já é presidente da República e eu ainda presidente da Câmara dos Deputados".

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