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11/04/2005 - 09h39

Só luta pelo poder separa PT e PSDB, diz FHC

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VERA MAGALHÃES
da Folha de S.Paulo, em Brasília

O que separa PT e PSDB não é nenhuma diferença ideológica ou programática, mas pura e simplesmente a disputa pelo poder. É o que diz o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que, nos últimos meses, tem intensificado as críticas ao governo do sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva.

A análise de FHC foi feita ao senador Cristovam Buarque (PT-DF) em entrevista à revista "Comunicação & Política", publicada pelo Cebela (Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos), que será lançada hoje. Roberto Amaral, ex-ministro de Ciência do governo Lula, é editor da revista e foi um dos fundadores do instituto.

Trata-se de um raro debate cordial entre figuras de proa do tucanato e do petismo. Sem esconder a admiração por FHC, Cristovam reconhece avanços de seu governo, admite perplexidade com a dificuldade do PT de empreender mudanças e parece torcer por uma futura aliança.

FHC, em resposta, diz que já pensou na possibilidade de PT e PSDB estarem do mesmo lado, mas considera a hipótese pouco provável por conta da disputa pela hegemonia política no país.

"É porque nós não discutimos nem disputamos ideologia, é poder, é quem comanda", diz FHC. Segundo ele, há uma "massa atrasada" no país e partidos que "representam esse atraso". "Os dois partidos que têm capacidade de liderança para mudar isso são o PT e o PSDB. Em aliança com outros partidos. No fundo, nós disputamos quem é que comanda o atraso", afirma.

O tucano diz que o PT combateu seu governo "passando a imagem de que tinha uma outra idéia". "Depois chegou ao governo e não parece ter", provoca.

Diante disso, Cristovam emenda: "A pergunta é se nós, do PT, fomos cooptados, ficamos lúcidos, amedrontados ou oportunistas. Nossa mudança veio de qual desses fatos?"

Ao analisar a campanha que deu a vitória a Lula, FHC diz que gostou do slogan "Lula paz e amor", que, a seu ver, retrata bem o sucessor. Diz que o marketing eleitoral cria mitos, e que o seu era "fácil, era o Real". "O Lula era ele próprio, era a vida dele. Um líder que subiu, veio do pobre, imigrante, e chegou lá."

Mas FHC acrescenta: "Agora, uma coisa é campanha e outra coisa é governo. No governo não basta paz e amor. No governo tem que ter conhecimento, capacidade, competência, perseguir os objetivos e fazer com que o atraso entre na sua. Senão você entra na dele. A luta permanente é essa".

O ex-presidente demonstra certa mágoa por Lula não procurá-lo com mais freqüência. Descreve conversas que teve com o petista após a posse e as tentativas que fez de se aproximar dele, sem sucesso.

Por fim, o ex-presidente critica a política de superávit primário alto e diz não ver qual será a plataforma de Lula para tentar a reeleição.

A entrevista, de 22 páginas, é uma descontraída conversa sobre temas que não se restringem à política. FHC e Cristovam discorrem longamente sobre teoria política, globalização, terrorismo e a insuficiência das ciências sociais para responder às transformações sociais, tecnológicas e políticas.

Cristovam pergunta a FHC qual é o legado da geração deles --ao que o ex-presidente diz que não são exatamente da mesma geração, já que é mais velho que o senador. FHC diz que é a redemocratização, mas que o Brasil ainda "não completou a República em vários sentidos".

Cristovam propõe um pacto entre os partidos como forma de fazer um "choque social". O tucano sai pela tangente: "Acho que nós não devemos falar de pacto porque dá má sorte, está desgastado".

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