Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
21/04/2005 - 10h42

Igrejas evangélicas atraem fiéis excluídos

Publicidade

PEDRO SOARES
da Folha de S.Paulo, no Rio

As igrejas evangélicas brasileiras arrebanharam mais fiéis nos últimos anos nos grupos mais desprotegidos da população. É o que mostra o estudo "Retrato das Religiões do Brasil", divulgado ontem pela FGV. Dados do Censo 2000 revelam que a presença evangélica é maior do que a média (16,22%) em favelas (20,61%), periferias de regiões metropolitanas (20,72%), entre pessoas com até um ano de estudo (15,07%), desempregados (16,52%) e migrantes recentes (19,17%).

Por outro lado, os católicos são mais numerosos entre os empregadores --76,38%-- e os mais escolarizados --74%, contra 10,3% dos evangélicos. No Brasil, os católicos representam 73,89% da população --eram 91,78% em 1970 e 83,36% em 1991.

Para Marcelo Neri, coordenador do Centro de Políticas Sociais da FGV (Fundação Getúlio Vargas), a estagnação econômica da chamada "década perdida" (anos 80) possibilitou a expansão dos evangélicos. "[A igreja] é vista como uma forma de ascensão social.

As igrejas emergentes cumprem um papel fundamental como rede de proteção social, num momento de desconforto econômico. Elas substituíram em parte o Estado, pois oferecem serviços sociais e cobram impostos, os dízimos."

Em média, os evangélicos correspondiam a 16,22% da população (dados do Censo de 2000) --eram 9,59% em 1991 e 6,55% em 1980.

No período, avançou também o percentual de pessoas que se declararam sem religião --para 7,34% em 2000.

Diferentemente do retrato traçado pelo sociólogo alemão Max Weber (1864-1920) em seu clássico "A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo", as religiões ditas hoje como evangélicas não se desenvolveram no Brasil entre os mais ricos e mais estudados, diz Neri. "A tesa da "Ética Protestante" não se confirma no Brasil."

Weber sustentava que o capitalismo pôde avançar graças à evolução das religiões protestantes, que não culpavam seus seguidores por acumular capital.

Comparando populações com exatamente as mesmas características socioeconômicas e raciais, a renda dos católicos é 7% maior do que a dos evangélicos e 10% mais alta do que a dos sem-religião.

Para Neri, o declínio relativo da religião católica no Brasil se explica por "uma certa inércia" na mudança de seus costumes e regras, ao mesmo tempo em que "o contexto econômico e social no Brasil mudou muito". "A Igreja Católica não acompanhou a necessidade de mulheres e desempregados, por exemplo, que foram buscar abrigo em religiões alternativas."

A pesquisa traçou ainda um perfil regional das religiões: há mais católicos no meio rural e pequenas cidades, enquanto os evangélicos se concentram nas periferias das grandes cidades.

Neri disse que tal fenômeno ocorre porque a crise social e econômica foi muito mais grave nas grandes metrópoles. "O crescimento dos evangélicos é um fenômeno de periferia", afirmou.

Em áreas rurais, os católicos eram 84,26%. Nas periferias das regiões metropolitanas, 65,18%. Os evangélicos representavam 20,72% dos moradores de periferias metropolitanas.

Os dados também mostram que o Rio é o Estado com o maior contingente de pessoas sem religião (15,76%). Também é o com menos católicos proporcionalmente (56,19%). Em São Paulo, os católicos eram 70,53% --os evangélicos eram 17,04%.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre igrejas evangélicas
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página