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02/05/2005 - 18h39

Severino diz que estupro é "acidente" e que casou "mais ou menos virgem"

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FABIANA FUTEMA
ROSE ANE SILVEIRA
TATHIANA BARBAR
da Folha Online

Sabatinado por duas horas no evento promovido pela Folha, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), disse que o estupro é um "acidente" e chegou a mencionar que a pena de morte seria a melhor forma de punir quem comete o crime.

"O estupro é um acidente horrendo. O homem que faz o estupro deveria até ter a pena de morte, como sou cristão, não admito a pena de morte, mas ele [estuprador] deveria ser condenado duramente", declarou.

O presidente da Câmara reafirmou que continua defendendo o direito à vida, é contra o aborto, mesmo em caso de estupro. "Tem tantas crianças felizes, que é demonstração de que a vida pertence a Deus. Se houve o estupro, a criança deve nascer.

Numa outra questão polêmica, Severino defendeu que os casais só viessem a praticar sexo após o casamento. "Essa experiência [sexo antes do casamento], eu acho muito ruim. Eu acho que a vida sexual deve começar no casamento. Eu era um homem puro e me casei com uma mulher que foi uma dádiva de Deus e que me serviu. São 52 anos de casado e sou feliz."

Ao ser questionado se havia se casado virgem, Severino respondeu que era "mais ou menos virgem". Segundo ele, a "mulher tem de ser pura" ao se casar. "Acho que a mulher tem que ser virgem, tem que ser pura. O homem não, muitas vezes quer aprender como fazer o serviço. Tem que aprender com quem estiver disposta a ser professora."

Ele também disse que é contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo. "Sou contra a união de homem com homem e de mulher com mulher. Mas não posso impedir que [um projeto de lei sobre o assunto] tenha uma transição normal. Eu, como presidente da Câmara, colocaria para votar. Como deputado, irei votar defendendo minha posição."

Em outro momento, Severino foi indagado sobre como agiria se tivesse um neto gay. O presidente da Câmara respondeu que o trataria "com muito carinho". "Mas faria de tudo para que ele não continuasse gay. A legislação atual não permite isso [união entre pessoas do mesmo sexo. Não vamos pensar no futuro."

Severino evitou dizer qual sua posição pessoal sobre o uso da camisinha. "O senhor está sendo muito indiscreto, não vou responder não." Em seguida emendou: "Eu vou lhe dizer com 74 anos não posso ser mais testemunha nesse sentido. Se a Igreja Católica é contra, seus seguidores deverão seguir a sua orientação", disse ele, que se declara um católico fervoroso.

Nepotismo

Severino voltou a defender posições impopulares e causou indignação ao público que acompanhava a sabatina ao dizer que o nepotismo é uma prática justa e que tem somente três parentes lotados em seu gabinete da presidência da Câmara.

O deputado creditou a nomeação de seu filho, José Maurício, no Ministério da Agricultura, como uma responsabilidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues.

"Por que o meu filho não deveria ser nomeado? Só porque é meu filho? Ele deveria ser punido? Gostaria que se fizessem estas perguntas aos dirigentes das empresas. Os jornais Folha de S.Paulo ou Estado de S.Paulo não são dirigidos de pai para filho? Qual a diferença?"

A resposta de Severino provocou a indignação de parte da platéia, que apesar de não poder se manifestar verbalmente durante a sabatina, fez questão de dizer ao presidente da Câmara que o problema está no fato de os recursos para a contratação de parentes nos três Poderes é feita com dinheiro público.

Vaias

O presidente da Câmara disse que as vaias lhe dão mais coragem. Severino se referia às vaias recebidas ontem na festa de 1º Maio promovida pela Força Sindical na praça Campo de Bagatelle, na zona norte de São Paulo. O evento reuniu cerca de 1 milhão de pessoas, segundo a Polícia Militar.

"Tenho coragem de enfrentar [as vaias]. Tanta coragem que no ano que vem vou voltar lá", afirmou.

Severino disse também que tentará entender os motivos que levaram o público da festa a vaiá-lo. "O único lugar em que fui vaiado foi lá. E olha que foi uma vaia forte", comentou.

Ontem, ao sair do palco da festa, Severino afirmou que não havia sido vaiado. Severino disse que só percebeu hoje que as manifestações do público eram vaias. "Depois que eu lia a Folha de S.Paulo eu entendi que fui vaiado mesmo", acrescentou.

Hoje, ao se despedir do público, Severino foi vaiado mais uma vez. "Tinham me dito para não participar dessa sabatina, que eu seria massacrado. Mas fui muito bem tratado. E nem fui vaiado." Ao dizer isso, o presidente da Câmara arrancou uma vaia da platéia.

Reajuste

Severino também voltou a defender outra bandeira polêmica: a do reajuste salarial dos congressistas. Segundo ele, o deputado brasileiro ganha pouco diante da responsabilidade de seu cargo.

"Eu fiz realmente [campanha para elevar o salário dos deputados] porque o deputado tem que ter salário à altura de sua responsabilidade. Acho que o salário é pequeno em função da sua responsabilidade."

Severino afirmou também que os congressitas não podem se preocupar em ficar com a conta no vermelho.

Na opinião dele, os deputados deveriam ter férias prolongadas para visitar suas bases eleitorais.

MPs

Indagado sobre a eleição que o levou à presidência da Câmara, Severino disse que sua vitória não foi uma derrota do governo Lula, mas do PT. "Acho que deveriam culpar o partido deles [PT] e não a falta de segurança dos parlamentares que demonstraram na primeira vez que são livres. São 300 parlamentares que tomaram posição de rebeldia."

O presidente da Câmara voltou a criticar o excesso de edições de medidas provisórias. "Durante toda existência das MPs, nunca um governo fez o que esse governo está fazendo: colocar seus deputados para obstruir a pauta para matérias não serem votadas. Se continuar dessa maneira, as MPs vão atravancar o bom andamento do Legislativo", afirmou.

Ele lembrou a derrota que o governo sofreu com a MP 232, que elevava impostos dos prestadores de serviços. "Tem de despertar para fazer como foi feito com a 232. Foi um impulso da população que saiu às ruas e não aceitou aquela medida que iria prejudicar os micro e pequenos empresários que dão sustentação ao emprego."

Sabatina

Severino participou hoje da sabatina da Folha. Esta é a segunda da série de dez sabatinas que serão feitas ao longo do ano com personalidades de destaque no noticiário nacional. O primeiro a ser sabatinado foi o médico Drauzio Varella, que também é escritor e colunista do jornal.

Ao chegar ao shopping Higienópolis, Severino deu uma volta pela praça de alimentação e cumprimentou o público, que não foi muito receptivo. Ele chegou acompanhado pelo deputado federal Ciro Nogueira (PP-PI), assessores, entre outros.

Estiveram na platéia o líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP), o ex-prefeito de São Paulo, Paulo Maluf, o presidente da ACSP (Associação Comercial de São Paulo), Guilherme Afif Domingos, o secretário-geral da Mesa da Câmara, Mozart Vianna, o deputado federal Robson Tuma (PFL-SP), entre outros.

Especial
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