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04/06/2005 - 09h03

Diálogo reabre suspeita de corrupção envolvendo o IRB

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ANDRÉA MICHAEL
RUBENS VALENTE
da Folha de S.Paulo

A Polícia Federal deve reconvocar o ex-presidente do IRB (Instituto Resseguros Brasil) Lídio Duarte para novo depoimento sobre um suposto esquema de pagamento de mesada de R$ 400 mil para o PTB. A decisão vai se basear em gravação divulgada ontem. A PF deve também requisitar à "Veja" a gravação do diálogo em que uma voz que a revista diz ser de Lídio afirma que os indicados pelo PTB para assumir cargos públicos têm de recolher a mesada.

"É assim, a história é a seguinte: dizem que o partido tem de ter os lances com os diretórios, com as festas, com os jantares, com não sei quê, cada indicado tem de botar lá R$ 400 mil por mês", diz Duarte, segundo a revista, ao repórter Policarpo Júnior, que diz ter gravado a conversa.

Procurada pela Folha, a revista "Veja" explicou da seguinte maneira o fato de ter omitido a identidade do ex-presidente do IRB na reportagem que publicou há duas semanas e resolvido revelá-la apenas agora. Segundo Mario Sabino, redator-chefe da revista, "todas as entrevistas relevantes da "Veja" são gravadas, e os entrevistados são avisados disso. Foi o caso da conversa mantida com o ex-presidente do IRB, Lídio Duarte. A revista comprometeu-se a não transcrevê-la na primeira matéria feita sobre o caso IRB. Como o sr. Duarte foi à PF dizer que a "Veja" tinha mentido, a revista, para preservar sua credibilidade e diante do interesse público envolvido, decidiu divulgar a gravação".

Em depoimento à Polícia Federal anteontem, Duarte negou o conteúdo da reportagem publicada pela "Veja". Segundo havia divulgado a revista, ele disse a um graduado funcionário público que enfrentava problemas no IRB por se negar a produzir a mesada mensal de R$ 400 mil para o PTB.

Duarte depôs como testemunha, condição que o obrigava a dizer a verdade, sob pena de responder por suposto crime de falso testemunho. A gravação da revista será periciada. Se for confirmada a autenticidade do material, o ex-presidente do IRB poderá ser indiciado, segundo a PF.

Em seu depoimento, Duarte também disse conhecer Brandão, mas negou ter sido cobrado por ele em nome de Jefferson.

Segundo Duarte, a legislação não prevê a obrigatoriedade de fazer licitação no caso de contratos para seguro e resseguro. Seria comum, conforme disse à PF, a empresa segurada indicar a corretora, como aconteceu no caso das estatais que demonstraram formalmente sua preferência pela Assurê do corretor Brandão.

Novo ingrediente

Com a gravação e o novo desenrolar da situação, a cúpula do governo, que avaliava até ontem de manhã que a crise política começara a esfriar com a definição de uma estratégia para tentar matar a CPI dos Correios no Congresso, voltou a ficar pessimista.

Em fitas divulgadas ontem no site da revista na internet, Duarte conta que o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), presidente do partido, costuma reunir todos os seus indicados em jantares na sua casa, em Brasília, para falar sobre contribuições ao partido.

Duarte reproduziu como seriam os diálogos: "Pô, como é que é isso, e tal. Fulano tá pressionando. A gente está com a espada sobre a cabeça e tal, e nada acontece". Pô, é um negócio constrangedor, cara".

O ex-presidente do IRB diz não sentir falta desses encontros. "É um negócio constrangedor. Eu, francamente, saí de lá e tô vivendo no mundo da Lua, sabe? Tô no paraíso", afirma Duarte, sempre segundo a revista.

Na conversa, Duarte conta que a cobrança da mesada de R$ 400 mil era feita por Henrique Brandão, dono da corretora Assurê, do Rio de Janeiro, doador de campanha eleitoral de uma filha de Roberto Jefferson. Segundo Duarte, Brandão tratava do assunto no IRB "diretamente".

A Assurê foi indicada pelas empresas Infraero, Eletronuclear e Furnas para intermediar operações de resseguro com o IRB. O PTB tem ascendência política sobre as três companhias estatais.

De acordo com Duarte, o corretor foi "colocado" para dialogar com ele pelo próprio Jefferson. A partir de determinado momento, as relações com Brandão teriam se deteriorado. Duarte foi então reclamar com Jefferson, que teria defendido o corretor.

"Aí, quando eu tentei falar com ele sobre os problemas que o intermediário estava me criando, ele deu aquela "Eu conheço o Fulano há 30 anos". Aí eu fui saber, o Fulano empregava o genro [de Jefferson], bancava um monte de coisas pra ele, quer dizer, é a pessoa que opera pra ele, né?"

Em outro trecho divulgado ontem, Duarte conta que o deputado Roberto Jefferson também tentava interferir em ações judiciais relativas ao IRB.
"Ações judiciárias em curso. "Ah, vamos fazer acordo, e tal". Fazer acordo? Administração pública só pode fazer acordo em juízo. E mais, não pode renunciar a ir à última instância se não tiver uma certeza de que o caso está perdido", disse Duarte.

Desabafo

Durante a conversa com o jornalista, Duarte faz um desabafo: "Eu digo uma coisa pra você: o Brasil, enquanto esse negócio de partido for financiado por cargos [inaudível], é complicado, né?"

Indicado para o cargo pelo ex-presidente da legenda José Carlos Martinez, que morreu em um desastre aéreo, Duarte diz que não atendeu ao pedido de Brandão.

Procurado ontem pela Folha, Duarte não foi encontrado. Seu advogado, José Araújo, afirmou que desconhece qualquer entrevista de seu cliente à revista.

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