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08/06/2005 - 09h12

Planalto admite "sinal amarelo" para reeleição

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CLÓVIS ROSSI
Colunista da Folha de S.Paulo

O Planalto admite: a crise é grave e acendeu o sinal amarelo para o projeto de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A avaliação foi obtida pela Folha no núcleo íntimo de um governo que dá a nítida sensação de estar atarantado pela crise.

Evitar que o sinal amarelo passe para vermelho depende do que a fonte chama de "administração da crise" daqui para a frente.

Primeiro passo: acabar com toda e qualquer "operação abafa". Na reunião de anteontem do chamado gabinete de crise, no Planalto, o próprio presidente deu a orientação para que todos os casos sejam apurados, nos âmbitos próprios e sempre depois de consultados os partidos aliados.

Ou seja, haverá CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) onde couber (com certeza, caberá no caso do escândalo dos Correios) e haverá apuração pela Corregedoria da Câmara onde for o caso.

Se, por exemplo, não houver um certo consenso sobre a criação da CPI do "mensalão" denunciado pelo presidente do PTB, Roberto Jefferson, a Corregedoria faria a investigação.

Há duas lógicas por trás da decisão de abandonar os "abafas". A primeira é técnica: o governo usava suas próprias investigações, via Polícia Federal, como escudo para barrar a CPI dos Correios.

"Sinceramente, confio mais na apuração da Polícia Federal do que na de uma CPI", ouviu ontem a Folha do Planalto. Acontece que a PF não tem competência para investigar deputados, que são os envolvidos no "mensalão".

A segunda lógica tem a ver com política e com imagem: se está aceso o sinal amarelo para a reeleição de Lula, seria um tremendo risco deixar que o presidente continuasse aparecendo como interessado em barrar a investigação de corrupção em seu governo.

Uma segunda fonte governamental, mais diretamente vinculada às investigações, diz que o estrago na imagem do governo foi produzido antes mesmo das denúncias de Jefferson, em conseqüência da "operação abafa", até porque ela é uma contradição com as virulentas críticas que o PT fazia ao governo anterior, quando era este que travava investigações congressuais.

O grupo palaciano não consegue dar uma resposta sobre as razões pelas quais o deputado falou, no momento em que falou. Uma das fontes da Folha especula com a hipótese de que Jefferson quis desviar a atenção do escândalo dos Correios, no qual estaria diretamente envolvido. Deu certo em parte: é óbvio que as atenções se voltaram para o "mensalão".

Uma segunda fonte reclama do que chama "beatificação" do deputado por certos setores da opinião pública, por ter denunciado o esquema do mensalão. Se houve tal "beatificação", o que é no mínimo discutível, no Congresso o deputado, ao contrário, passou a ser satanizado. "Ele não vai conseguir entrar na Casa", imagina-se no Planalto.

As fontes palacianas juram que não foram lenientes na investigação da primeira denúncia do "mensalão", feita pelo "Jornal do Brasil", em setembro do ano passado.

Dizem que, ao contrário, o governo se despreocupou porque a apuração percorreu o ciclo completo, começando na Corregedoria da Câmara e chegando até à Procuradoria Geral da República, como é de praxe nos casos em que estão envolvidos parlamentares.

Mas há um detalhe: o ofício à Procuradoria inocentava os parlamentares e atacava o jornal, pedindo retratação pela suposta ofensa.

Os governistas até estranharam que a denúncia da época não tivesse alcançado repercussão, dada a gravidade óbvia de se pagar supostamente mesada a parlamentares. Mas, como a época era a mais adequada para o surgimento de denúncias (véspera das eleições municipais) e elas não repercutiram, houve a acomodação, dinamitada na segunda-feira quando a Folha publicou a entrevista do presidente do PTB.

Algum arrependimento no governo a respeito de ter feito um acordo com o PTB, à luz dos fatos novos? Não se trata de discutir arrependimento ou não, respondem os palacianos. Trata-se de uma anomalia do sistema político brasileiro em que partido algum consegue maioria suficiente para governar isoladamente.

Ou seja, ainda que o sinal amarelo passe a vermelho e Lula perca a eleição de 2006, o novo presidente estará com um pé na mesma armadilha que criou a crise que agora o Planalto já rotula como "grave".

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