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16/06/2005 - 09h01

Lula vê "situação grave" e quer reforma para afastar Dirceu

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KENNEDY ALENCAR
da Folha de S.Paulo

Em reunião ontem por volta das 13h30 com 16 ministros e o vice-presidente José Alencar, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que a crise política "ficou muito mais grave" após o depoimento de anteontem de Roberto Jefferson na Câmara. Avisou que faria logo uma reforma ministerial e que não deixará a economia ser contaminada pela política. Prometeu mais medidas, como criar "gabinete de crise".

O ministro José Dirceu (Casa Civil) deverá ceder seu lugar a um petista. O mais cotado é o prefeito de Aracaju, Marcelo Déda. A Folha apurou que o ministro disse ontem a Lula: "Não dá mais". Dirceu pretende depor em todas as CPIs sobre as recentes acusações de corrupção ao governo.

O presidente fez a reunião com os 16 ministros após a cerimônia de assinatura da chamada "MP do Bem", de incentivo ao setor produtivo. No encontro, afirmou que as palavras de Jefferson levantaram uma suspeição sobre o governo e o PT que "não pode ficar sem resposta". Prometeu tomar "providências" de "hoje [ontem] para amanhã [hoje]", marcando reunião ministerial para comunicá-las a todos. Contou já ter medidas "amadurecidas".

Disse ter tido vontade ontem mesmo de fazer "pronunciamento à nação" para tratar das acusações de corrupção contra sua administração. Afirmou que desistiu porque "a notícia" no dia seguinte não seria a "MP do Bem".
"Isso não é reunião ministerial", disse Lula, que pedira às secretárias que chamassem todos os ministros presentes na cerimônia ao seu gabinete: "Vocês viram o depoimento do Roberto Jefferson. O quadro ficou muito mais grave". Para o presidente, Jefferson atacou o governo injustamente. "A Abin (Agência Brasileira de Inteligência) não foi usada contra ele." Lula disse que Jefferson perdeu força no PTB porque deputados avaliaram que ele montara um esquema em benefício próprio.

Determinou aos ministros "cara boa e tranqüilidade" em suas aparições públicas. Afirmou que o governo não ficará "paralisado". Pediu a Márcio Thomaz Bastos (Justiça) que desse um relato das investigações da PF. O ministro falou que a polícia já desvendara os autores da gravação que flagrou o funcionário dos Correios recebendo propina e falando de esquema de corrupção do PTB. Disse já estar em andamento operação "pente-fino" em todos os contratos dos Correios.

Lula falou que instalará no Planalto um "gabinete de crise", com uma equipe de ministros. Ele previu longa batalha no Congresso, onde já está funcionando a CPI dos Correios. Outras CPIs, como a do "Mensalão", deverão ser instaladas. "Sou a favor de investigar tudo. Vamos apurar tudo." Falou que ordenou ao senador Delcídio Amaral (PT-MS) que aceitasse presidir a CPI: "Vamos à luta".

PT e Dirceu

No meio da reunião, Dirceu pediu a palavra. Disse que acertaria com o PT a sua "situação". Afirmou que vai depor em todas as CPIs e investigações do Congresso. Dirceu deve reassumir o mandato de deputado federal. Ele é o presidente eleito do PT. Está licenciado e pode voltar ao cargo, hoje nas mãos de José Genoino. Essa negociação está em curso.

Anteontem, terminado o depoimento de Jefferson, Dirceu desabafou, dizendo que o petebista mentira e que não sairia da Casa Civil por sua vontade. Contudo, ao ver o noticiário de ontem, no qual aparecia como o principal fator de desgaste de Lula, tomou a iniciativa de pedir para sair, como queria o presidente.

Ontem de manhã houve a reunião semanal de Coordenação de Governo, da qual participam Lula e os chamados ministros palacianos. Nessa reunião, o diagnóstico foi o de que Jefferson preservara Lula, mas atacara ferozmente Dirceu e o PT. A maioria julgava conveniente o afastamento.

Na reunião, Dirceu se limitou a dizer que analisava duas possibilidades: ficar no posto ou voltar à Câmara. Ao sair do encontro, disse a Lula: "Não dá mais". O presidente perguntou: "Tem certeza?". Dirceu respondeu afirmativamente. "Então, vamos agir", disse Lula. Esse diálogo foi relatado à Folha por pessoas que ouviram a versão de José Dirceu.

Resolver a "situação" de Dirceu era a senha para uma reforma mais ampla. Há possibilidade de que ela ocorra até amanhã. O critério principal será recompor pontes de governabilidade no Congresso, mas Lula gostaria de ter um ou dois nomes de peso da sociedade civil para não dar a impressão de uma rendição ao esquema político tradicional.

Anteontem, o empresário Abílio Diniz (grupo Pão de Açúcar) foi sondado por Lula para uma pasta ministerial. O presidente estuda colocar secretarias especiais na Secretaria Geral da Presidência, dar mais pastas ao PMDB e integrar o PP ao primeiro escalão.

Além de Lula, Alencar e do presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, participaram da reunião após a cerimônia da "MP do Bem" os seguintes ministros: Dirceu, Thomaz Bastos, Jaques Wagner, Aldo Rebelo, Luiz Dulci, Eduardo Campos, Celso Amorim, Miguel Rossetto, Luiz Fernando Furlan, Roberto Rodrigues, Jorge Armando Felix, Ricardo Berzoini, Paulo Bernardo, Dilma Rousseff, Antonio Palocci Filho e Waldir Pires.

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