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21/06/2005 - 18h07

Leia a íntegra do discurso do presidente Lula

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da Folha Online

Confira abaixo a íntegra do discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que participou nesta terça-feira da abertura do Congresso da União Nacional de Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária em Luziânia (GO).

"Comecem a ficar entusiasmados que daqui a pouco vocês vão ver o que vai acontecer.
Meu caro Alcides Rodrigues Filho, governador do estado de Goiás,
Meus companheiros ministros de Estado, Miguel Rossetto, Olívio Dutra, Jaques Wagner, Dulci,
Meu companheiro José Fritsch,
Meus queridos companheiros deputados federais aqui presentes, o Zezé não está na minha nominata mas citá-lo-ei de forma precisa,
Meu caro Assis Miguel do Couto,
Meu caro Vinhatti,
Meu caro Orlando Desconsi, Pedro Canedo,
Senhor Hélio Roriz, prefeito em exercício de Luziânia,
Meu querido companheiro Paul Singer,
Meu caro Humberto Oliveira, secretário do Desenvolvimento Agrário,
Meu caro José Paulo Ferreira Crisóstomo, representante da Coordenação Provisória da Unicafes,
Meu companheiro Luiz Marinho, presidente da CUT,
Meu caro Manoel dos Santos, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura,
Meu caro Daniel Kothe, representante da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar,
Meus companheiros e minhas companheiras delegados desse primeiro Congresso Nacional de Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária,

Muitos são os assuntos que poderiam me motivar, aqui, num improviso, mas eu pretendo ler algumas palavras para vocês.

A solidariedade é um pré-requisito fundamental para superar os obstáculos históricos, políticos e econômicos que ainda mantêm a grande maioria da nossa população apartada dos benefícios do progresso.

Superar esses obstáculos, promovendo o crescimento e a inclusão social, tem sido o nosso desafio e a nossa maior prioridade. E o fortalecimento e a expansão do cooperativismo e da economia solidária estão cumprindo um papel insubstituível nessa estratégia.

Estou falando de parceria e companheirismo, de um trabalho que tem sido feito por meio do diálogo franco, consistente e amplo com a sociedade. Aliás, esse diálogo é um princípio e um método de trabalho que tem trazido bons resultados e dá muito orgulho ao meu governo.

Por isso é para mim uma grande alegria participar hoje aqui do lançamento da União Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária.

Vocês representam uma nova e forte voz nos debates nacionais acerca das formulações e da implantação de políticas públicas relacionadas ao cooperativismo. E todos sabem que já demos passos importantes nesse caminho. É só olhar um pouquinho para trás, para saber o quanto nós avançamos.

Criamos, em junho de 2003, a Secretaria Nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego, com o apoio do nosso querido professor Paul Singer e a participação dos movimentos que historicamente sempre defenderam essa bandeira.

Desde então, a Secretaria Nacional de Economia Solidária tem fomentado a criação de cooperativas e empreendimentos econômicos solidários no campo e na periferia das grandes cidades. Sua ação vai dos assentamentos de reforma agrária às comunidades urbanas e rurais pobres.

O trabalho da Secretaria resultou, entre outros, em projetos desenvolvidos em 200 comunidades quilombolas, beneficiando mais de 76 mil pessoas, e na realização de feiras que aglutinam e dão visibilidade aos produtores da economia solidária em todos os estados da Federação.

Outras iniciativas de grande importância incluem a recuperação de empresas falidas, mas com viabilidade econômica, por trabalhadores em regime de autogestão.

Estamos preparando, também, a criação do Conselho Nacional de Economia Solidária, que será um espaço especial de participação da sociedade civil na elaboração e proposição de políticas públicas relativas ao setor.

Todas essas ações envolvem diferentes órgãos do governo federal e vão aumentar ainda mais o já destacado papel do cooperativismo e do associativismo na nossa economia. Não me canso de repetir que o Brasil ainda vai ser um dos países mais cooperativistas do mundo.

Vocês sabem, e aqui eu quero dar ênfase a uma coisa, quando o nosso secretário, é um companheiro da Bahia, faz nascer dentro de mim um desejo, porque quando se falava em cooperativa no Brasil, se falava no sul do país; quando se falava em cooperativa se falava no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, um pedacinho do Paraná, e quase nada de São Paulo. E hoje, eu não vou nem perguntar porque os nordestinos vão esmagar o restante, pela grande quantidade de nordestinos que tem aqui hoje, numa demonstração de que a gente pode, através da cooperativa, através da organização de vocês, sonhar que o Nordeste brasileiro possa, num curto espaço de tempo, se transformar numa região tão organizada e tão produtiva quanto a região Sul ou Sudeste do país.

Vocês sabem melhor do que eu a relevância que tem o cooperativismo para uma cidade, para um estado e para uma nação. Hoje, por exemplo, um agricultor cooperado tem uma produtividade média 20% superior àqueles que trabalham isoladamente.

Juntas, as nossas cooperativas congregam mais de cinco milhões de brasileiros em 13 setores diferentes. Correspondem a 25% da economia agrícola e a 20% dos seus produtores. Produzem 62% do trigo brasileiro, 45% do leite, 39% do algodão e 29% da soja. Cinqüenta e cinco por cento dos cooperados rurais são pequenos proprietários com até 50 hectares de terra.

Estejam certos de que o estímulo ao crédito popular que vem sendo feito pelo governo federal tem tido grande impacto sobre o setor, assim como as regulamentações que têm viabilizado e fortalecido as cooperativas de crédito e as instituições de microcrédito.

Eu quero lembrar que quando tomamos posse a grande reclamação é que era impeditivo, era proibido criar cooperativa de crédito neste país. Tinha normas e mais normas do Banco Central que criavam dificuldades atrás de dificuldades. Às vezes, os companheiros nos procuravam para dizer que estavam de oito meses a um ano esperando. Foi numa reunião que constituímos um grupo de trabalho com vários representantes de cooperativas e nós praticamente fizemos um grande (inaudível) na criação de cooperativas.

Lógico que quando se trata de cooperativa de crédito, o governo federal e o Banco Central têm que ter um pouco mais de cuidado, porque se não tiver um pouco de cuidado e uma cooperativa quebrar, quem é que vai ficar com o prejuízo do cooperado? Quem é que vai devolver ao cooperado aquilo que ele aplicou? Então, o governo tem que se precaver para garantir que as pessoas que criam as cooperativas sejam da maior seriedade, da maior responsabilidade, porque não se pode brincar com o dinheiro alheio, sobretudo com o dinheiro do pequeno produtor ou do companheiro cooperado. É por isso que, recentemente, autorizamos a criação de cooperativas abertas de crédito, que vinham sendo reivindicadas junto ao Banco Central desde 1999.

Vamos, agora, ampliar o leque de cooperativas que podem receber recursos oficiais por meio de uma série de medidas que o Conselho Monetário Nacional votará em breve.

Meus companheiros e minhas companheiras,

O ano de 2005 foi proclamado pela Assembléia Geral das Nações Unidas como o Ano Intenacional do Microcrédito. Não seria exagero, porém, afirmar que este é também o Ano Brasileiro do Microcrédito.

No final de fevereiro passado, mais de 5 milhões e 500 mil contratos já tinham sido feitos por pessoas de baixa renda que tiveram acesso a empréstimos com juros de até 2% ao mês.

Regulamentamos, em abril, a Lei do Microcrédito Produtivo Orientado, também com a participação do nosso querido Paul Singer, voltada para a população mais pobre que busca criar ou ampliar o seu micro ou pequeno negócio, gerando trabalho e renda para suas famílias.

Aqui eu quero lembrar e quero saber se estão de acordo com o que foi a pretensão. No Brasil nós tivemos, durante oito anos seguidos, no governo passado, em média 30 milhões colocados à disposição do microcrédito. E nós, em abril, anunciamos, na verdade, 600 milhões de reais disponibilizados por conta do microcrédito orientado, o que é, nada mais, nada menos, que 20 vezes mais do que era a média anual disponibilizada nos governos anteriores.

Esses empreendedores podem retirar empréstimos de até 5 mil reais com juros mais baixos e recebem assistência técnica para gerenciar suas atividades. Aí está envolvido o Sebrae e todos os organismos do governo, de ministérios que podem ajudar as pessoas a gerenciarem corretamente esses empréstimos que fazem.

Além disso, os bancos públicos, como a Caixa Econômica Federal, o Banco do Brasil, e o Banco da Amazônia --por que não o BNB? Não colocaram aqui, no meu discurso o BNB, que tem sido um parceiro extraordinário --já abriram mais de 5 milhões e 300 mil contas correntes simplificadas entre março de 2003 e março de 2005. Este é, certamente, o maior programa de inclusão bancária já visto no Brasil. Parece uma coisa simples, mas eu participei do primeiro ato, em que levamos as primeiras pessoas que entraram nessa inclusão bancária. E era fantástico as pessoas dizerem que nunca tinham pensado que era possível entrar num banco para tomar dinheiro emprestado se ela não tinha dinheiro para abrir uma conta. Antigamente as pessoas tinham que abrir a conta, então, às vezes, tinham que dar uma quantia em dinheiro maior do que a que iam depositar para abrir uma conta.

A inclusão bancária, ela colocou praticamente cinco milhões de pessoas novas abrindo conta no banco sem precisar pagar para abrir a conta, e com a possibilidade de conseguir sacar um empréstimo para fazer um pequeno empreendimento. É, na verdade, não uma inclusão bancária, mas uma revolução no comportamento do sistema financeiro brasileiro, sobretudo dos bancos públicos que, quando tomamos posse, bancos importantes como o Banco do Brasil, tinha gerentes em alguns lugares que não sabiam mais emprestar dinheiro do Pronaf para o agricultor familiar. Não estavam mais habituados.

As pessoas perderam o hábito de emprestar para pequenos, era muito mais fácil ficar sentado numa cadeira e emprestar de uma vez só tudo, do que ficar atendendo 300, 400 pessoas para pegar, cada um, um pouquinho. Esse foi um processo, até o Marinho, em agosto de 2003, me ligou se queixando. Nós fomos ver o que era. Tinha cidades brasileiras em que o gerente tinha desaprendido totalmente a lidar com a agricultura familiar. E em outros lugares do Brasil o agricultor familiar, tão cansado de ir atrás e não conseguir, já não ia mais.

Essa é uma grande novidade que eu tenho dito aos companheiros da Contag. A grande novidade não é apenas você pular de 2 bilhões e 200 milhões que foram contratados, em 2002, 2003, para 6 bilhões e 250 milhões em 2004/2005. A grande vantagem, na verdade, não é apenas o montante de dinheiro, é que pela primeira vez nós conseguimos nacionalizar o crédito para o trabalhador da agricultura familiar.

Hoje, o nordestino está indo buscar crédito; hoje, o pessoal do Norte do país está indo buscar crédito. Antigamente, e aí o pessoal do MDA sabe muito bem como é isso, até quatro ou cinco anos atrás, você quando anunciava o Pronaf, saía normalmente 50% do que estava anunciado. E do que saía, 80% eram para a região Sul do país. Pela primeira vez nós estamos nacionalizando. Você, Zezéu, pode pegar sua terrinha, na Bahia, e ver quantos contratos foram feitos nessa safra 2004/2005, para você nunca mais falar mal do Rossetto. Você vai ver o quanto foi.

E pode pegar, Manoel, Pernambuco, pode pegar a Paraíba, pode pegar Rio Grande do Norte, pode pegar o Piauí, pode pegar o Maranhão, pode pegar o Ceará, que vocês vão ver que, na história do Pronaf, nunca foram feitos 10% dos contratos que foram feitos nesses últimos dois anos de safra no nosso governo. E, se Deus quiser, vai se fazer muito mais este ano, porque tem gente que pensa assim: olha, companheiro, nós colocamos 7 bilhões este ano, o pessoal só contratou 6 bilhões e 250 milhões, que já foi quase 90% do disponibilizado. É recorde na história do Brasil. Então, vamos manter os mesmos 7. Não, vamos desafiar os trabalhadores.

Nós criamos o Pronaf Mulher e ele ainda não pegou. Não pegou porque é uma questão cultural, é uma coisa nova, mas a mulher está sendo desafiada a discutir, dentro de casa, como é que ela vai pegar o seu dinheiro, fazer a sua lavoura, independentemente do marido. E também o Pronaf Jovem é uma reivindicação muito antiga, sobretudo do pessoal do Sul do país, que nós queremos estender para o Brasil inteiro. Às vezes um menino de 17 anos, de 20 ou de 21 anos, se tivesse a oportunidade de produzir num pedaço de terra da sua família, ele não iria para a cidade, então, nós criamos a possibilidade.

Agora, Maneco, um conselho para você, da Contag; para o Marinho da CUT; para você, meu companheiro, como é nova aqui, a Unicafes, José Paulo, da Unicafes, essas coisas têm que ser divulgadas por vocês também, as pessoas têm que saber. Na hora em que uma dona de casa souber que independentemente do empréstimo que o marido dela fizer, ela pode ir ao Banco e "cavucar" o dela também para fazer a rocinha, o marido plantou a mandioca ela planta o feijão, o marido plantou... sabe, eu penso que nós temos que transformar essas coisas todas, não apenas em políticas públicas, porque políticas públicas vão na lei, são aprovadas, é decisão, mas quantas leis existem no país que não funcionam?

É preciso que isso seja um movimento. Vejam, tem 9 bilhões à disposição da agricultura familiar, das cooperativas neste país, vocês têm que malhar para sacar os 9, têm que malhar. Vejam, eu digo sempre para os meus companheiros, se chegar em janeiro ou fevereiro do ano que vem, ou março, e o Miguel Rossetto me comunicar: "Presidente, acabaram os 9".Podem ficar certos de que vai aparecer um pouquinho mais de dinheiro, podem ficar certos.

Agora, se não gastarem os 9, aí fica difícil porque, de repente, e a imprensa existe para informar a opinião pública, daqui a pouco a imprensa pega, faltaram 100 reais, e ela fala, "o governo não cumpriu a meta do Pronaf". Se a gente gastar mais, não vai dizer nada, mas a gente tem que gastar porque é necessário, é preciso criar uma outra cultura. Vocês estão lembrados que eu disse várias vezes: ao terminar o meu mandato, eu não quero ser lembrado por uma obra, porque uma obra qualquer um faz, eu quero ser lembrado pela relação estabelecida entre o Estado e a sociedade, entre o governo e o povo trabalhador deste país. É isso que faz a diferença, não é uma obra. É o grau de confiança e o grau da relação entre a sociedade, que é composta por homens e mulheres, com o governo e com o Estado brasileiro, com as instituições brasileiras.

É por isso que a organização é fundamental. É por isso que não pode ser uma coisa eventual, vem um presidente e faz, vem outro não faz, vem outro faz, vem outro não faz, ou seja, não pode ser uma sanfona. Isso tem que ser uma política definida. Por quê? Porque estamos convencidos de que a agricultura familiar, que a cooperativa urbana... eu tenho exemplo de cooperativa urbana lá em São Bernardo, lá em Diadema, que é motivo de orgulho, é uma empresa, a Uniforja, era uma empresa de quase 3 mil trabalhadores, faliu, metade dos trabalhadores resolveu brigar na Justiça para receber os seus direitos. Até hoje não receberam, não é Marinho? E outra metade resolveu se organizar em cooperativa e hoje é uma fábrica altamente produtiva. Já tem mais de 500 trabalhadores, são todos cooperados, estão ganhando mais do que ganhavam antes, estão exportando e estão felizes da vida. Mas você não sabe como demorou para a gente conseguir um empréstimo do BNDES para que ele...ainda no outro governo, porque foi malho, ali foi duro. Se fosse hoje, se teria liberado com mais facilidade o dinheiro do BNDES.

Vejam que interessante, companheiros, vocês sabem que eu estou falando de cooperativa porque eu não posso falar, como Presidente, daquilo que eu gostaria de falar aqui, não vim aqui para isso, cada coisa tem o seu momento, a sua hora. E como o peso da responsabilidade do presidente é maior do que o do cidadão comum, e eu não posso falar a quantidade de bobagens que se fala por aí, eu tenho que sempre esperar o momento certo para fazer as coisas que têm que ser feitas.

Nós fizemos uma coisa neste país, que eu, de vez em quando, brinco com meus amigos economistas, que eu fiz tanta reunião e nós nunca discutimos isso. E no governo eu recebi uma sugestão da CUT... Hoje tem muita gente que fala que sugeriu isso para mim. Filho bonito é assim, todo mundo quer ser pai. É uma coisa maluca, porque o crédito consignado ocupa hoje 40% do mercado de crédito pessoal. É muito dinheiro que os trabalhadores estão tomando emprestado, é muito dinheiro que os aposentados e pensionistas estão tomando emprestado a juros de menos de 50% daquilo que ele pagava antes, porque o pobre vivia exatamente na agiotagem. E isso foi uma pequena revolução no sistema bancário deste país. E aí, outra vez, o movimento sindical teve um papel importante, porque o movimento sindical fez acordo com as entidades representativas do banco e hoje... E nós tivemos o cuidado de não permitir que o trabalhador viesse a tomar um empréstimo em que ele tivesse que gastar mais de 30% do seu salário, porque antes existia para o setor público, mas muitas vezes o trabalhador se endividava tanto que esse trabalhador fazia o quê? Esse trabalhador não recebia mais pagamento. O pagamento dele ficava, totalmente, no banco. Agora nós limitamos a 30%, portanto, o companheiro pode pegar o empréstimo para pagar em 12 meses, 24 meses e sair da agiotagem.

Tem companheiro que na fábrica emprestava dinheiro, porque em 15 dias tinha que deixar o relógio como garantia. Então, agora ele está mais tranqüilo, ele pode pegar... Agora, nós precisamos fiscalizar para não permitir que ele comprometa o seu orçamento fazendo empréstimo que é só para coisas importantes.

Eu queria dizer a vocês, meus companheiros e companheiras, que o lançamento da União Nacional de Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária ocorre em um momento histórico para os pequenos agricultores e agricultoras do nosso querido Brasil.

Definimos, na semana passada, junto com os companheiros da Contag, o Plano Safra da Agricultura. O Plano Safra da Agricultura Familiar, que é o mais importante plano já feito neste país. A sua dimensão é mais uma prova dos bons resultados que estamos alcançando em parceria com os homens e as mulheres do campo. Eu ia lançar, lá em Santa Rosa, no Rio Grande do Sul, na quinta-feira passada, não foi possível porque choveu muito e a gente não pôde descer. Eu queria fazer o lançamento no Nordeste, mas no Nordeste a época de começar o plantio é outra, portanto, são áreas diferentes. Mas nós ainda vamos ao Nordeste fazer o lançamento. Mas é com muita alegria que a gente pode olhar no olho de cada trabalhador e trabalhadora e dizer: este ano vocês terão disponibilizados 9 bilhões de reais para o Pronaf.

Eu penso que, com isso, e eu disse ao companheiro Mané, no dia em que fizemos a reunião com Contag, eu disse ao Movimento Sem-Terra, eu disse aos companheiros da Fetraf-Sul: é importante a gente ir acumulando as reivindicações, porque eu sou daqueles, viu Marinho, companheiros sindicalistas, eu sou daqueles que acha que o movimento sindical nunca deve parar de reivindicar. E quanto mais se conquista, é normal que se queira um pouco mais. Isso é a nossa vida, ou seja, a gente conquista uma vírgula, a gente quer uma palavra; conquista uma palavra, a gente quer um texto completo; conquista o texto, a gente quer um livro; ganhou o livro, a gente quer uma biblioteca, ou seja, esse é um desejo insaciável e sadio do movimento social no Brasil e no mundo inteiro.

A única coisa que eu acho é que a gente não pode reivindicar perdendo de vista aquilo que a gente já conquistou, porque as conquistas têm que fazer parte do manancial de conquistas históricas da classe trabalhadora. Eu disse ao Mané: nós vamos ter, em junho mais ou menos do ano que vem, quando nós formos lançar um novo Plano Safra 2006/2007, nós vamos fazer uma parada, Mané, quem sabe você me convoque na Contag, quem sabe em um lugar, para a gente fazer um balanço do que aconteceu na agricultura familiar, na relação do governo com a Contag, na relação do governo com os sem-terra, na relação do governo com as cooperativas, na relação do governo com as entidades do microcrédito. Nós vamos fazer um balanço do que aconteceu nos nossos quatro anos e o que aconteceu nos outros 40 anos neste país, para a gente poder avaliar concretamente qual é a evolução que nós tivemos.

Eu quero dizer para vocês que o Brasil precisou passar por muitas transformações antes que o acesso à terra e aos meios de produção começassem a ser tratados pelo governo como direito básico dos nossos homens e das nossas mulheres. O que me incomodava mais, e quem conviveu comigo mais tempo sabe, era que às vezes a gente ficava brigando pela reforma agrária para assentar mais gente, e a gente não tinha uma política para tratar de quem já tinha a terra. Então, era uma coisa maluca que acontecia. Você estava fazendo uma caminhada para dar mais terra para quem não tinha terra e você passava do lado de quem tinha terra e você não tinha uma proposta para aquele que tinha a terra. E ele imaginava que você ia tirar a terra dele. A gente não tinha discurso para os milhões de brasileiros e brasileiras que já tinham a terra, já eram pequenos produtores, já tinham cultura e a gente parecia... eu me lembro que em 1982 eu chegava em algum lugar, às vezes o companheiro tinha, como diria minha mãe, no Nordeste, tinha "10 tarefas", ou não sei quantas "braças" e as pessoas pensavam que a gente ia tomar a terra deles porque a gente não tinha um discurso para a política da agricultura familiar.

Agora não, agora nós temos estruturada uma política para a agricultura familiar, uma política para os assentamentos, e vamos fazer as coisas do jeito que precisam ser feitas, bem-feitas, de forma muito ordenada, e eu acho que a criação dessa União de Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária, será um passo extraordinário.

Eu quero dizer para vocês que, de vez em quando, você é pego de surpresa com notícias que nenhum brasileiro gostaria de ser pego, sobretudo quando se trata de corrupção. De vez em quando eu fico me perguntando se é isso mesmo que as pessoas querem, porque se as pessoas querem combate à corrupção, as pessoas deveriam estar, todas, sobretudo as que estão acusando, aplaudindo o governo. Porque na história republicana, e ouso dizer isso na frente de trabalhadores e trabalhadoras rurais do meu país, na história republicana, nenhum governo fez, contra a corrupção, 20% do que estamos fazendo. Nenhum governo fez.

É só pegar todas as denúncias de corrupção dos últimos 10 anos, podem pegar, tem gosto para tudo. Podem pegar. Peguem as revistas brasileiras, peguem os jornais brasileiros, vocês vão perceber que ao longo de anos e mais anos são denúncias e denúncias de corrupção, então vocês vão pensar: bom, todos são tratados igualmente, porque se fala que tem nesse, mas falavam que tinha no outro, a imprensa está sendo justa. Verdade. E a imprensa cumpre um papel extremamente importante em denunciar as possíveis mazelas que existem em qualquer lugar do país. Aliás, esse é um papel importante da imprensa.

Agora, o que muitas vezes não fica claro é a diferença entre o governo que age para combater e o governo que deixa a imprensa esquecer a manchete. E depois de uma semana não se fala mais. Somente nesses dois anos e seis meses de governo foram 1.290 pessoas presas por investigações do governo. Alguns são soltos depois porque o governo não tem o poder de prender, a Justiça é quem determina a prisão ou não, como é o caso daquele que foi acusado de matar os fiscais do trabalho, que foi preso, depois foi candidato a prefeito, ganhou, e a Justiça o absolveu ou pelo menos ganhou uma liminar. Não podemos fazer nada. Mas só dentro da própria Polícia, 129 policiais, entre policial federal e policial rodoviário, foram presos.

Todas as grandes operações que vocês viram na imprensa, da Operação Vampiro, Operação Anaconda, Operação Curupira, foi tudo feito por nós e decisão nossa. E vamos investigar tantas quantas aparecerem. O que não pode é o governo ficar correndo atrás de denúncia vazia. Se tem denúncia contra a atuação do Congresso, é um problema do Congresso Nacional. Ali tem 513 deputados, 81 senadores, ou seja, eles que criem mecanismos de auto-investigação. Não tem como o Poder Executivo fiscalizar. É da responsabilidade dos deputados. Que criem quantas CPIs quiserem criar. Agora, o que não pode é, por conta de insinuações ou ilações, você deixar de cumprir com o papel do próprio Congresso Nacional, que é votar as coisas que o Brasil tem interesse.

Eu não tenho no Congresso Nacional nenhum projeto pedindo aumento para o Presidente, eu não tenho no Congresso Nacional nenhum projeto pedindo prorrogação de mandato para o Presidente, eu não tenho nenhum projeto no Congresso pedindo para fazer a tri reeleição do Presidente. Não tem nenhum projeto de meu interesse. Os projetos que estão no Congresso Nacional são de interesses deste país, de 180 milhões de brasileiros. As pessoas podem gostar ou podem não gostar. As pessoas votam ou não votam, porque gostam ou porque não gostam. Nós não podemos permitir que por conta de uma CPI, o Congresso não funcione. O Congresso pode estabelecer horário para CPI, pode estabelecer horário para as Comissões, pode estabelecer horário para votar. Este país é muito grande, a democracia está muito sólida para a gente achar que uma CPI pode criar qualquer embaraço. O que a CPI pode fazer é apurar. Se apurou, vai para o Ministério Público, quem tiver culpa pagará pelo erro que cometeu, quem não tiver será absolvido. É assim que funciona a democracia, é assim que funcionam as leis. O que não dá é para a gente ficar sempre assistindo coisas que não condizem com a realidade.

Vamos pegar a questão do Correio. A questão do Correio, no sábado em que saiu a matéria, nós já abrimos inquérito policial, o acusado já estava fora, nós afastamos o outro diretor. Esse é o papel do governo. Não tem outro papel do Poder Executivo, a não ser fazer isso. É mandar a Polícia Federal para dentro. Se tem outras coisas, que digam, quantas aparecerem... porque no Brasil as pessoas tinham o hábito de fazer denúncia de corrupção que morria no dia seguinte. Eles não sabem com quem estão lidando. E vou repetir aqui uma coisa, que é o seguinte: com corrupção a gente não brinca. O que a gente não pode é manchar o nome das pessoas, a gente não pode colocar pessoas desnudas na frente da sociedade, depois não prova nada e ninguém pede desculpas. Nós já vimos isso ao longo da história.

Mas todas as denúncias que forem pertinentes ao governo federal serão investigadas, contra quem quer que seja, sem bravata, porque neste país eu já vi bravata. Neste país eu já vi alguém ser eleito em nome de ser um caçador de marajá. E todo mundo viu o que aconteceu neste país.

Querem discutir corrupção no Brasil, a imprensa pode fazer um levantamento, a imprensa pode fazer, a imprensa tem arquivo, pede tudo que saiu de corrupção há dez anos, toda semana, todo dia e todo mês. E vejam o que foi investigado neste país.

Eu digo uma coisa para vocês, meus companheiros, eu digo todo dia isso, já disse na televisão, que é o seguinte: eu sou filho de uma mãe analfabeta e pai analfabeto. Minha mãe morreu sem saber escrever um "o" com um copo. E determinadas coisas a gente não aprende na universidade, a gente não aprende na política, a gente não aprende na rua, a gente aprende dentro de casa. Vergonha na cara a gente aprende é dentro de casa.

E, portanto, vocês nunca vão me ver nervoso e fazendo bravata. Não é esse o meu papel, eu já fiz muita. Eu agora sou Presidente da República. Eu, agora... Vocês pensam que eles não ficam incomodados porque eu estou aqui sem gravata? Porque tem um ritual, eu sou a negação do ritual histórico que foi criado neste país, mas não pela minha roupa, porque eu até me visto melhor do que muita gente, mas pela minha origem, de onde eu vim, isso é que faz a diferença. Estar aqui com vocês, fazendo o que estamos fazendo, faz diferença, sabem por quê? Porque incomoda, incomoda muita gente. Vocês sabem quanto nós fizemos de transferência de renda nesse pouco tempo que estamos no governo? São 17 bilhões de reais de transferência de renda, dinheiro que sai dos cofres públicos e vai para a mão do povo pobre deste país, que vai para a mão daqueles que nunca tiveram dinheiro.

É por isso que o Estatuto do Idoso ficou 13 anos para ser aprovado no Congresso Nacional e não era aprovado. É por isso que o Bolsa Família incomoda: mas esse Lula está dando dinheiro para pobre. E nós ainda nem cumprimos aquilo que vamos cumprir. Eu acho que o dinheiro mais sagrado, o dinheiro mais sagrado que o Estado pode designar é o dinheiro que pode garantir a uma pessoa ter acesso à informação, ao trabalho, a comer, e isso nós vamos garantir. Até porque o dinheiro que este país tem, vem lá de baixo e, se vem lá de baixo, tem que ser devolvido de forma sadia e honesta.

Eu não gostaria de ter o Bolsa Família, eu gostaria de ter emprego para todo mundo, mas todo mundo sabe que essas coisas também não acontecem com um passe de mágica. Não tem nem príncipe encantado, nem fada para, com um toque, arrumar tudo que tem que arrumar, mas estamos fazendo aquilo que está ao nosso alcance e eu sei que tem gente incomodada: mas 7 milhões de famílias recebendo o Bolsa Família? Em dezembro, vão ser 8 milhões e 700 mil famílias, para a pessoa poder comprar o leite para o seu filho, para a pessoa poder comprar o pão para o seu filho. Tem gente que não gosta, aliás, tem gente que fala que isso é gasto, tem gente que trata como gasto e, na minha consciência, esse é o investimento, é o investimento que salva uma vida.

Vejam, então vocês imaginem que deve ter alguém que não está gostando disso porque 17 bilhões de transferência de renda, mais 15 bilhões de empréstimos consignados, são 32 bilhões de reais que entraram no mercado, o povo deve estar comprando alguma coisa. Porque os que torciam para que fosse um desastre o governo, já estão com medo hoje é da reeleição. Esse é o dado concreto e objetivo. Começaram dizendo que nós não sabíamos gerenciar, depois começaram dizendo que nós tínhamos muitos ministros, incomodou a eles criarmos a Secretaria da Igualdade Racial, incomodou a eles criarmos a Secretaria da Mulher, incomodou criarmos a Secretaria da Pesca, ou seja, por que incomoda tanto você criar Secretarias que organizam a sociedade? Por que incomoda tanto?

Depois que nós fomos quebrando todas as barreiras que eles foram colocando, todas, eles então resolveram mexer na questão ética. E vejam que tudo isso que nós estamos vivendo é por conta de um cidadão que diz que pegou 3 mil reais. Um cidadão de terceiro escalão. Vocês podem fazer um levantamento e ver o quanto importavam as outras denúncias de corrupção no Brasil. Para mim, eu vou dizer uma coisa para vocês, se as pessoas sérias deste país quiserem ver o que vai acontecer, podem saber que nós vamos fazer a luta contra a corrupção se transformar, não numa bandeira, porque isso não pode ser bandeira apenas, a luta contra a corrupção tem que ser uma prática quotidiana, tem que ser uma mudança em todas as instituições, tem que ser uma mudança de comportamento e, se é para fazer, ninguém neste país tem mais autoridade moral e ética do que eu para fazer o que precisa ser feito neste país.

Por isso companheiros, como eu ainda não estou candidato, tenho uma função a cumprir até dia 30 de dezembro, e eu sei que quem é oposição tem mais pressa, é sempre assim. O mandato para quem está no governo é curto, de 4 anos, para quem está na oposição é uma eternidade, e vocês sabem que eu tenho experiência de ser oposição, porque já fui quantas vezes? Eu acho que nós temos que fazer a reforma política neste país, temos que fazer as coisas que tiverem que ser feitas e vamos ter que fazer o processo eleitoral com a maior tranqüilidade possível, no tempo certo.

Eu, por enquanto tenho dito o seguinte: o meu problema é fazer aquilo que eu tenho o compromisso com vocês e quero dizer que a prestação de contas, nossa, se Deus quiser será num grande ato, com todo o movimento social, para poderem julgar.

Eu digo sempre o seguinte: o maior legado que eu quero levar quando deixar a Presidência da República, é poder encontrar com vocês de cabeça erguida, como eu estou agora, e poder chamar vocês de companheiros e companheiras, como eu chamava antes de ser Presidente da República.

Muito obrigado, e boa sorte para vocês."
 

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