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02/08/2005 - 23h13

Jefferson envolve Lula; Dirceu ameaça processar deputado

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ROSE ANE SILVEIRA
da Folha Online, em Brasília

O deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) envolveu pela primeira vez o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas negociações de cargos. Segundo Jefferson, o acordo de Furnas foi tratado na ante-sala do presidente, no Palácio do Planalto.

"O assunto foi tratado entre mim, vossa excelência, o ministro Walfrido [Mares Guia] e o presidente Lula ouvindo", disse ele, durante sua intervenção no depoimento de Dirceu no Conselho de Ética da Câmara.

Dirceu negou as declarações do deputado fluminense sobre a negociação de cargos em Furnas e pediu mais responsabilidade por parte de Jefferson ao envolver o governo em suas próprias irregularidades.

O embate entre os dois acabou no surgimento de novas denúncias feitas por Jefferson, envolvendo Dirceu e a Portugal Telecom. Jefferson acusou Dirceu de aproximar Lula da Portugal Telecom.

O deputado disse ainda que o ex-ministro autorizou a ida de dois emissários do PT e do PTB a Portugal para negociar com representantes da empresa de telecomunicações a liberação de recursos para o saneamento das dividas dos dois partidos.

"Vossa excelência nos liberou para mandar emissários para que negociássemos um acordo pusesse em dia as contas do PT e do PTB", disparou Jefferson.

Dirceu negou as acusações. "Não é verdade, o senhor está mentindo", disse o ex-ministro, acrescentando que foi grave envolver o presidente Lula.

A Portugal Telecom --multinacional que detém participação em várias empresas de comunicação no país-- também desmentiu Jefferson. Em nota oficial, a companhia informou que "nunca teve qualquer conhecimento ou participação com o objetivo de organizar um encontro com representantes dos PT e PTB em Lisboa".

No comunicado, a Portugal Telecom informou ainda que "por força dos investimentos que possui no país, mantém contatos institucionais com o governo".

O Palácio do Planalto, por sua vez, informou que recebeu representantes da Portugal Telecom atendendo a pedido da empresa --que estaria interessada em realizar novos investimentos no país.

"Em nenhum momento foi tratado qualquer assunto que não se referisse aos empreendimentos da companhia portuguesa no país", diz a nota do Planalto.

Defesa

Dirceu já avisou que pretende processar judicialmente Roberto Jefferson (PTB-RJ). O ex-presidente nacional do PTB acusou formalmente Dirceu de ser o comandante do suposto esquema do pagamento de mesada a deputados da base, o chamado "mensalão".

No entanto, o ex-ministro informou que não vai processar Jefferson enquanto ele detiver mandato parlamentar --e conseqüentemente foro privilegiado. "Meu advogado me orientou a não fazer isso. Nós, como deputados, temos imunidade parlamentar e, por isso, a ação estaria condenada ao fracasso. Mas assim que ele deixar de ser deputado, vou fazer isso", afirmou Dirceu.

Dirceu afirmou que estava indignado com as declarações "mentirosas" de Jefferson, mas garantiu que não iria perder "a serenidade". Já Jefferson afirmou que Dirceu desperta nele "os instintos mais primitivos".

"Eu não acredito que as declarações de vossa excelência tenham alguma credibilidade. Não é possível", disparou Dirceu. Em resposta, o deputado fluminense acusou o ex-ministro de ser "professor da escola da mentira."

O ex-ministro disse mais de uma vez que não pretende renunciar ao seu mandato. Entretanto, ele admitiu que chegou a cogitar essa possibilidade. "Não vou renunciar. Não poderia encarar meus pares ou andar de cabeça erguida se o fizesse."

Sobre Furnas, o ex-ministro disse que foi o próprio Jefferson quem se incriminou no caso das irregularidades do IRB (Instituto de Resseguros do Brasil).

Dirceu afirmou ainda não ter tido qualquer participação nas irregularidades cometidas pela antiga direção do PT, comandada por José Genoino e afirmou desconhecer totalmente o esquema do "mensalão". Ele disse que "jamais permitiria o pagamento de deputados."

Poder

Jefferson disse que seu erro e de todo o Congresso "foi acreditar que Dirceu era todo poderoso, de acreditar que ele mandava em tudo e fazia tudo sozinho". "Vossa excelência não estava sozinho, não tinha esse poder todo."

O deputado fluminense atacou pesadamente o ex-ministro José Dirceu, que prestou depoimento no Conselho de Ética da Câmara. Jefferson, que olhou por várias vezes para as câmeras de televisão, afirmou que Dirceu "não sabia de nada", em chave obviamente irônica. Durante o discurso, Dirceu se manteve impassível, olhando algumas vezes para Jefferson e fazendo anotações.

"Não tem 'mensalão' no Brasil. É conversa da imprensa. Todos os jornais mentem, todas as revistas do Brasil mentem. Todo o povo brasileiro pré-julga este humilde", diz Jefferson.

Relações com o PT

A principal tese que o deputado do Rio procura "vender" em seu discurso é que o então "principal homem da República" e "real vice-presidente do PT" não tinha como não saber das movimentações financeiras do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza e dos saques em dinheiro ou mesmo das decisões da antiga Executiva nacional do PT.

"Era tudo gente dele [em referência a Silvio Pereira e Delúbio Soares]. Gente dele, que ele defendeu até o último instante. Ele não sabia nada disso", afirmou Jefferson. "Ele não lia os relatórios da Abin [Agência Brasileira de Inteligência].

A Polícia Federal não dizia nada para ele sobre as malas de dinheiro. A Polícia Federal não contava nada para o homem mais importante do governo. A cúpula do PT, as articulações dessa cúpula. o deputado José Dirceu não sabia nada disso. O Coaf [Conselho de Controle de Atividades Financeiras], que controla essas movimentações financeiras, não disse nada para ele sobre os saques à vista", afirmou Jefferson.

Especial
  • Leia a cobertura completa sobre a CPI dos Correios
  • Leia a cobertura completa sobre o caso do "mensalão"
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