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11/08/2005 - 20h47

Duda diz que recebeu R$ 10,5 milhões de caixa 2 em paraíso fiscal

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FELIPE RECONDO
da Folha Online, em Brasília

O publicitário Duda Mendonça confirmou hoje à CPI dos Correios ter recebido R$ 15,5 milhões de caixa dois do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, apontado como um dos operadores do 'mensalão'. O dinheiro recebido, inclusive, envolveria R$ 10,5 milhões de recursos depositados em conta sediada no paraíso fiscal das Bahamas, aberta, de acordo com Duda, a por sugestão de Valério, e outros R$ 5 milhões em espécie.

Parte dos recursos, segundo Duda, vieram também de contas do exterior.

A criação dessa conta seria a pré-condição para que as dívidas atrasadas de campanha do PT com a empresa de publicidade fossem pagas. Duda Mendonça disse não ter tido opção e se viu obrigado a abrir a conta. "Eu não tinha poder de decisão. Não havia alternativa. Ou era isso, ou eu não recebia", afirmou. Valério, em entrevistas e em novo depoimento à CPI do Mensalão, contestou a tese e disse que Duda, que prestou depoimento sob juramento, deveria ser preso.

Na CPI dos Correios, plenário próximo à outra CPI, Duda foi confrontado com as declarações e desmentidos de Valério. O publicitário respondeu. "É muito fácil dizer que estou mentindo. Prova!", desafiou Duda. Valério, na outra comissão, pedia uma acareação. Ao lado, Duda dizia que as declarações do empresário mineiro eram "100% mentira" e tinha documentos que provariam a tese exposta à CPI dos Correios.

De qualquer modo, a declaração de Duda Mendonça, embasada em documentos já repassados à CPI, contesta os depoimentos prestados por Valério e pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. À comissão, ambos disseram não haver remessas de recursos para o exterior para o pagamento de dívidas de campanha. A existência das contas nas Bahamas e o recebimento de recursos colocam em suspeição a tese dos dois. A diferença das versões gerou um requerimento para que Valério e Duda participem de uma acareação.

Lula

Apesar das revelações feitas pelo publicitário e sua sócia, Zilmar Fernandes da Silveira, Duda Mendonça buscou proteger a campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O dinheiro de caixa dois e proveniente do exterior pagaria o pacote de quatro campanhas feitas por Duda em 2002: a de Lula à presidência, de Aloizio Mercadante (PT-SP) ao Senado, de Benedita da Silva ao governo do Rio de Janeiro e de José Genoino ao governo de São Paulo.

"Acredito que a campanha do presidente Lula foi legal. Eu não tenho como comprovar, mas acho que podemos provar isso com documentos", afirmou. De acordo com ele, a campanha de Lula, por ser o candidato favorito, recebia contribuições oficiais volumosas. Por isso, disse ter segurança de que não houve caixa dois na campanha presidencial. A documentação que comprovaria a legalidade da campanha presidencial será providenciada pela empresa e repassada à secretaria da comissão.

Impeachment

A oposição não acreditou na tese de que a campanha de Lula tenha sido paga apenas com recursos oficiais. Pelos cálculos feitos por integrantes da oposição frente às declarações prestadas por Duda, a campanha presidencial teria custado praticamente o mesmo gasto pelo PT com as três disputas estaduais.

Zilmar Fernandes da Silveira disse que o pacote de 2002 custou R$ 25 milhões, dos quais R$ 13,5 milhões foram pagos com recursos legais, declarados à Receita Federal e à Justiça eleitoral. O deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS) disse que, se todos esses recursos tivessem como destino a campanha presidencial, o restante --R$ 11,5 milhões --seria usado para as campanhas de Mercadante, Benedita e Genoino.

O prefeito do Rio do Janeiro, Cesar Maia (PFL), disse que, diante do depoimento de Duda Mendonça, é o momento de discutir a abertura de um processo contra o presidente Lula. "É inevitável que se inicie uma avaliação desse quadro com vistas ao impedimento do presidente", afirmou. "Este governo acabou", afirmou Maia.

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), classificou de insolvente o momento vivido pelo governo Lula e disse que as dificuldades enfrentadas pelo Executivo começam a comprometer a economia brasileira, prova disso seria a derrota de ontem do governo na votação do salário mínimo, que foi elevado a R$ 384,29. "A derrota de ontem preocupa. Mostra que a insolvência política no governo começa a contaminar a economia e a votação de ontem é uma sobeja demonstração disso", afirmou.

Choro

O depoimento de Duda Mendonça foi surpresa para os integrantes da CPI. Deputados e senadores esperavam apenas que sua sócia prestasse esclarecimentos. O publicitário se apresentou ao presidente da CPI, Delcídio Amaral (PT-MS), e se disse à disposição para prestar depoimento de imediato. A proposta foi aceita e Duda e Zilmar ficaram por mais de dez horas lado-a-lado na mesa da CPI.

Duda Mendonça disse ter tomado a decisão de se apresentar espontaneamente por ter se sentido chantageado por Marcos Valério. A "gota d'água" foi uma notícia publicada em um jornal em Minas Gerais em que a conta de Duda no exterior é citada como vital para as investigações da comissão parlamentar de inquérito. A matéria, insinuou Duda, teria Valério como mentor.

Além disso, seu nome era constantemente citado pelo empresário mineiro, o que foi entendido pelo publicitário como uma tentativa de confundir as apurações e incluí-lo na lista de réus da CPI. "O Marcos Valério começou a criar polêmica que só interessa a ele", afirmou.

Em sua declaração inicial, Duda fez um relato de sua carreira e se emocionou ao falar dos prêmios que recebeu na publicidade. "Talvez não tenha nenhum prêmio no mundo que eu não tenha ganhado", disse emocionado. "Eu sou um cara honesto. A minha empresa é séria e eu pago os meus impostos", acrescentou.

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