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20/08/2005
-
10h20
KENNEDY ALENCAR
da Folha de S.Paulo, em Brasília
"O governo acaba." Assim reagiu ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao ouvir que petistas e ministros em Brasília pensaram na possibilidade de o ministro Antonio Palocci se licenciar e deixar a Fazenda temporariamente a cargo de Murilo Portugal, secretário-executivo da pasta.
Lula pretende fazer exatamente o contrário em relação à acusação do advogado Rogério Tadeu Buratti de que Palocci recebia propina de R$ 50 mil mensais quando prefeito de Ribeirão Preto entre 2001 e 2002. Vai manter Palocci na Fazenda e, segundo expressão de um auxiliar direto, "endurecer um pouco" com a oposição e o Ministério Público paulista. Esse endurecimento seria fazer um discurso afirmando, por exemplo, que a luta política por causa da crise do mensalão poderia abalar a economia e prejudicar o país.
A Folha apurou que Lula e Palocci desconfiam que há "um dedo" do PSDB no episódio Buratti. Mas ambos dizem não ter provas de que os promotores que investigam o caso Buratti estejam a serviço dos tucanos. Apesar disso, Lula acha que foi "sacanagem" o que o Ministério Público paulista fez com Buratti para que ele acusasse Palocci. Segundo o presidente e o ministro da Fazenda, Buratti falou por ter ficado com "medo de cadeia". Ele foi algemado e posto num camburão.
A Folha apurou que o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, considerou ilegal o depoimento de Buratti. Para ele, não cabe no caso o benefício da delação premiada. Motivo: Palocci é ministro e, portanto, pode ser processado judicialmente apenas no STF (Supremo Tribunal Federal) e ser denunciado somente pelo procurador-geral da República.
Na visão do governo, cientes disso, os promotores teriam tentado criar um fato político ao permitir que um deles, Sebastião Silveira, relatasse à imprensa as palavras de Buratti enquanto ele ainda prestava depoimento. Para o governo, o fato de o advogado de Buratti ter abandonado o depoimento lhe tira o valor jurídico. Mas o governo sabe que o estrago político é grave. Lula disse a auxiliares: "Não é possível que alguém ache que o Buratti tem mais credibilidade do que o Palocci".
A Folha apurou que Lula pediu calma a Palocci. Normalmente calmo, ele estava nervoso ao telefone quando falou com Lula pela manhã. Ele estava no Rio, e o presidente, no interior paulista. Segundo membros do governo, Palocci julgou "irresponsabilidade com a economia" a atitude do promotor. Lula pediu tranqüilidade a políticos com os quais conversou ontem: "Todo dia alguém tem uma denúncia para fazer. Vamos deixar que todas sejam feitas. Vamos apurar, dando o direito de defesa.
No final, quem tiver culpa paga. E quem for inocentado precisará ter a inocência reconhecida pela imprensa e por todo mundo que age de forma açodada hoje".
Ao retornar do Rio de Janeiro, no final da tarde, Palocci recebeu Thomaz Bastos em sua casa. Apesar de considerarem muito ruim para Palocci a acusação de Buratti, membros da cúpula do governo viram um lado positivo: ela mostrou que o bombardeio a Palocci poria em risco a estabilidade econômica e que isso foi levado em conta ontem pela oposição.
No final da manhã em Brasília, sob o impacto da notícia, alguns ministros e petistas avaliaram a possibilidade de Palocci deixar o governo, numa espécie de saída Henrique Hargreaves. No governo Itamar Franco (1992-1994), Hargreaves deixou a Casa Civil e retornou depois que acusações contra ele não foram provadas.
Mais: alguns membros da cúpula do governo defendem que Lula diga "não quero mais a reeleição". Assim, crêem, ele tiraria pressão da crise. Mais à frente, poderia até ser candidato. "Não querer não significa não ser", diz um auxiliar.
Palocci e Lula falaram várias vezes com o ministro da Justiça, que, de novo, teve peso na reação oficial. A nota da Fazenda foi inspirada por ele, especialmente a crítica ao Ministério Público.
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da Folha de S.Paulo, em Brasília
"O governo acaba." Assim reagiu ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao ouvir que petistas e ministros em Brasília pensaram na possibilidade de o ministro Antonio Palocci se licenciar e deixar a Fazenda temporariamente a cargo de Murilo Portugal, secretário-executivo da pasta.
Lula pretende fazer exatamente o contrário em relação à acusação do advogado Rogério Tadeu Buratti de que Palocci recebia propina de R$ 50 mil mensais quando prefeito de Ribeirão Preto entre 2001 e 2002. Vai manter Palocci na Fazenda e, segundo expressão de um auxiliar direto, "endurecer um pouco" com a oposição e o Ministério Público paulista. Esse endurecimento seria fazer um discurso afirmando, por exemplo, que a luta política por causa da crise do mensalão poderia abalar a economia e prejudicar o país.
A Folha apurou que Lula e Palocci desconfiam que há "um dedo" do PSDB no episódio Buratti. Mas ambos dizem não ter provas de que os promotores que investigam o caso Buratti estejam a serviço dos tucanos. Apesar disso, Lula acha que foi "sacanagem" o que o Ministério Público paulista fez com Buratti para que ele acusasse Palocci. Segundo o presidente e o ministro da Fazenda, Buratti falou por ter ficado com "medo de cadeia". Ele foi algemado e posto num camburão.
A Folha apurou que o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, considerou ilegal o depoimento de Buratti. Para ele, não cabe no caso o benefício da delação premiada. Motivo: Palocci é ministro e, portanto, pode ser processado judicialmente apenas no STF (Supremo Tribunal Federal) e ser denunciado somente pelo procurador-geral da República.
Na visão do governo, cientes disso, os promotores teriam tentado criar um fato político ao permitir que um deles, Sebastião Silveira, relatasse à imprensa as palavras de Buratti enquanto ele ainda prestava depoimento. Para o governo, o fato de o advogado de Buratti ter abandonado o depoimento lhe tira o valor jurídico. Mas o governo sabe que o estrago político é grave. Lula disse a auxiliares: "Não é possível que alguém ache que o Buratti tem mais credibilidade do que o Palocci".
A Folha apurou que Lula pediu calma a Palocci. Normalmente calmo, ele estava nervoso ao telefone quando falou com Lula pela manhã. Ele estava no Rio, e o presidente, no interior paulista. Segundo membros do governo, Palocci julgou "irresponsabilidade com a economia" a atitude do promotor. Lula pediu tranqüilidade a políticos com os quais conversou ontem: "Todo dia alguém tem uma denúncia para fazer. Vamos deixar que todas sejam feitas. Vamos apurar, dando o direito de defesa.
No final, quem tiver culpa paga. E quem for inocentado precisará ter a inocência reconhecida pela imprensa e por todo mundo que age de forma açodada hoje".
Ao retornar do Rio de Janeiro, no final da tarde, Palocci recebeu Thomaz Bastos em sua casa. Apesar de considerarem muito ruim para Palocci a acusação de Buratti, membros da cúpula do governo viram um lado positivo: ela mostrou que o bombardeio a Palocci poria em risco a estabilidade econômica e que isso foi levado em conta ontem pela oposição.
No final da manhã em Brasília, sob o impacto da notícia, alguns ministros e petistas avaliaram a possibilidade de Palocci deixar o governo, numa espécie de saída Henrique Hargreaves. No governo Itamar Franco (1992-1994), Hargreaves deixou a Casa Civil e retornou depois que acusações contra ele não foram provadas.
Mais: alguns membros da cúpula do governo defendem que Lula diga "não quero mais a reeleição". Assim, crêem, ele tiraria pressão da crise. Mais à frente, poderia até ser candidato. "Não querer não significa não ser", diz um auxiliar.
Palocci e Lula falaram várias vezes com o ministro da Justiça, que, de novo, teve peso na reação oficial. A nota da Fazenda foi inspirada por ele, especialmente a crítica ao Ministério Público.
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