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29/08/2005
-
20h17
LÚCIA BAKOS
da Folha Online
O delegado-geral da Polícia Civil Marco Antonio Desgualdo confirmou nesta segunda-feira a reabertura oficial das investigações sobre o caso do prefeito morto de Santo André, Celso Daniel (PT-SP). O motivo está relacionado com as recentes denúncias apresentadas na CPI do Mensalão.
"Numa investigação policial, temos três elementos principais: as circunstâncias, o motivo e a autoria do crime. Quando você reúne esses elementos chega-se a verdade do inquérito. Dentro daquilo que vinha sendo investigado se concretizou as circunstâncias do ocorrido e a autoria. Tinha-se dúvidas, em determinado momento, sobre o motivo que, paulatinamente, começou a surgir. A tese de crime comum não está descartada, mas isso [crime político] robusteceu agora com as declarações da CPI", explicou Desgualdo.
Celso Daniel foi assassinado em janeiro de 2002. Desde o início das investigações, o Ministério Público acreditava que a morte do prefeito estaria relacionada com um suposto esquema de corrupção montado durante a gestão dele na prefeitura de Santo André e que, por não concordar com esse esquema, teria sido morto.
Operações ilegais
João Francisco Daniel, irmão de Celso Daniel, afirmou, na época, que esse suposto esquema alimentou campanhas do PT. O dinheiro, segundo ele, seguia em malas para o escritório do deputado José Dirceu (PT-SP).
Também foi anexado ao processo um dossiê encontrado no arquivo do prefeito atribuindo ao seu ex-segurança e empresário Sérgio Gomes da Silva, o "Sérgio Sombra" --que estava junto na Pajero quando Celso Daniel foi seqüestrado-- operações ilegais na prefeitura. O dossiê havia sido enviado pelo chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho.
O PT e o deputado Dirceu sempre negaram as acusações de envolvimento no suposto esquema. O partido chegou a contratar o ex-procurador-geral Aristides Junqueira para acompanhar as investigações. Documentos entregues à CPI do Mensalão revelaram que o pagamento a Aristides foi feito por meio do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, suposto operador do "mensalão".
O Ministério Público apresentou à Justiça a versão de que o crime foi premeditado e acusou Sérgio "Sombra" --tido apenas como testemunha pela polícia-- de ser o mandante do crime.
Já a Polícia Civil, cerca de seis meses após o seqüestro e a morte de Celso Daniel, encerrou o inquérito, responsabilizando seis homens da favela Pantanal pelo assassinato e concluindo que havia sido um crime comum. A investigação foi reaberta pelo Ministério Público, e a polícia, chamada a ajudar, mas os dois órgãos se desentenderam.
Viés político
Segundo Desgualdo, a partir de agora, em conjunto com o Ministério Público, está sendo analisado a hipótese de um crime político. "Naquele momento, o motivo se traduzia como um crime patrimonial, mas você não pode fechar o leque de hipóteses, pelo contrário, você tem que jogar todas as probabilidades. Pode ter havido algum interesse político", justificou.
O delegado-geral também disse não temer que a reabertura do caso seja interpretada como um "viés político" e que Sérgio "Sombra" será reinvestigado pela polícia. "Ele está na condição de investigado", afirmou, completando ainda: "Eu não acredito que alguém que participasse do crime, estivesse no local. O Sérgio 'Sombra' pode ter sido o mandante".
Com a reabertura do caso, Desgualdo informou que a delegada titular do 78º DP (Distrito Policial) Elisabeth Sato será quem concentrará, em breve, os seis casos --pessoas que tiveram algum vínculo com os acontecimentos que cercaram a morte de Celso Daniel e acabaram assassinadas.
Perda de cargo e ameaças
O legista Carlos Delmonte --que acompanhou a necropsia de Celso Daniel-- ainda reiterou tudo o que já havia dito sobre o laudo do prefeito morto e descartou a hipótese de ter tido o cargo rebaixado [de diretoria], em razão de uma entrevista que concedeu em janeiro de 2002, na qual afirmou que o prefeito havia sido torturado antes de morrer.
"Após essa entrevista, perdi o meu cargo, mas foi porque reclamei de várias coisas durante uma reunião no IML [Instituto Médico Legal]. Só fui punido, porque falei demais."
Delmonte também afirmou que logo após a morte de Celso Daniel, foi ameaçado de morte, mas contestou a idéia de a ameaça estar ligada à morte do prefeito. "Tenho praticamente certeza de que quando fui ameaçado, não foi em razão do caso Daniel."
Especial
Leia o que já foi publicado sobre Celso Daniel
Leia o que já foi publicado sobre Marco Antonio Desgualdo
Leia o que já foi publicado sobre o caso do "mensalão"
Polícia reabre caso Celso Daniel após denúncias do "mensalão"
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da Folha Online
O delegado-geral da Polícia Civil Marco Antonio Desgualdo confirmou nesta segunda-feira a reabertura oficial das investigações sobre o caso do prefeito morto de Santo André, Celso Daniel (PT-SP). O motivo está relacionado com as recentes denúncias apresentadas na CPI do Mensalão.
"Numa investigação policial, temos três elementos principais: as circunstâncias, o motivo e a autoria do crime. Quando você reúne esses elementos chega-se a verdade do inquérito. Dentro daquilo que vinha sendo investigado se concretizou as circunstâncias do ocorrido e a autoria. Tinha-se dúvidas, em determinado momento, sobre o motivo que, paulatinamente, começou a surgir. A tese de crime comum não está descartada, mas isso [crime político] robusteceu agora com as declarações da CPI", explicou Desgualdo.
Celso Daniel foi assassinado em janeiro de 2002. Desde o início das investigações, o Ministério Público acreditava que a morte do prefeito estaria relacionada com um suposto esquema de corrupção montado durante a gestão dele na prefeitura de Santo André e que, por não concordar com esse esquema, teria sido morto.
Operações ilegais
João Francisco Daniel, irmão de Celso Daniel, afirmou, na época, que esse suposto esquema alimentou campanhas do PT. O dinheiro, segundo ele, seguia em malas para o escritório do deputado José Dirceu (PT-SP).
Também foi anexado ao processo um dossiê encontrado no arquivo do prefeito atribuindo ao seu ex-segurança e empresário Sérgio Gomes da Silva, o "Sérgio Sombra" --que estava junto na Pajero quando Celso Daniel foi seqüestrado-- operações ilegais na prefeitura. O dossiê havia sido enviado pelo chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho.
O PT e o deputado Dirceu sempre negaram as acusações de envolvimento no suposto esquema. O partido chegou a contratar o ex-procurador-geral Aristides Junqueira para acompanhar as investigações. Documentos entregues à CPI do Mensalão revelaram que o pagamento a Aristides foi feito por meio do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, suposto operador do "mensalão".
O Ministério Público apresentou à Justiça a versão de que o crime foi premeditado e acusou Sérgio "Sombra" --tido apenas como testemunha pela polícia-- de ser o mandante do crime.
Já a Polícia Civil, cerca de seis meses após o seqüestro e a morte de Celso Daniel, encerrou o inquérito, responsabilizando seis homens da favela Pantanal pelo assassinato e concluindo que havia sido um crime comum. A investigação foi reaberta pelo Ministério Público, e a polícia, chamada a ajudar, mas os dois órgãos se desentenderam.
Viés político
Segundo Desgualdo, a partir de agora, em conjunto com o Ministério Público, está sendo analisado a hipótese de um crime político. "Naquele momento, o motivo se traduzia como um crime patrimonial, mas você não pode fechar o leque de hipóteses, pelo contrário, você tem que jogar todas as probabilidades. Pode ter havido algum interesse político", justificou.
O delegado-geral também disse não temer que a reabertura do caso seja interpretada como um "viés político" e que Sérgio "Sombra" será reinvestigado pela polícia. "Ele está na condição de investigado", afirmou, completando ainda: "Eu não acredito que alguém que participasse do crime, estivesse no local. O Sérgio 'Sombra' pode ter sido o mandante".
Com a reabertura do caso, Desgualdo informou que a delegada titular do 78º DP (Distrito Policial) Elisabeth Sato será quem concentrará, em breve, os seis casos --pessoas que tiveram algum vínculo com os acontecimentos que cercaram a morte de Celso Daniel e acabaram assassinadas.
Perda de cargo e ameaças
O legista Carlos Delmonte --que acompanhou a necropsia de Celso Daniel-- ainda reiterou tudo o que já havia dito sobre o laudo do prefeito morto e descartou a hipótese de ter tido o cargo rebaixado [de diretoria], em razão de uma entrevista que concedeu em janeiro de 2002, na qual afirmou que o prefeito havia sido torturado antes de morrer.
"Após essa entrevista, perdi o meu cargo, mas foi porque reclamei de várias coisas durante uma reunião no IML [Instituto Médico Legal]. Só fui punido, porque falei demais."
Delmonte também afirmou que logo após a morte de Celso Daniel, foi ameaçado de morte, mas contestou a idéia de a ameaça estar ligada à morte do prefeito. "Tenho praticamente certeza de que quando fui ameaçado, não foi em razão do caso Daniel."
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